26 de jun. de 2011

Tudo ao mesmo tempo agora

Idealizada pelo professor João Dantas, do curso de Publicidade da UFS, a Tudo Agência Experimental está em seu segundo ano de atuação

Por Camila Moda

“No mercado é um pisando por cima do outro, você não tem muita orientação, eu sei disso porque já trabalhei em outra agência. Aqui a gente tem todo um acompanhamento, é um ambiente para aprender”. Esse é o depoimento de Samir Silva, estudante do 3º período de publicidade e propaganda da UFS e também diretor de arte da Tudo Agência Experimental.


A idéia de criar uma agência experimental de publicidade veio do professor João Dantas, atual orientador e responsável pela agência, a partir da sua prática como coordenador de alguns cursos na FTC Salvador e da sua vivência de mercado (ele já atuou em agências de médio porte em Salvador e como consultor nas áreas de marketing político e comportamento do consumidor). Para ele, o curso de Publicidade não conseguia atender as demandas mercadológicas. “A agência de publicidade tem essa finalidade de aproximar, de fazer com que o ambiente acadêmico tenha um diálogo maior com o ambiente mercadológico. O único problema que eu observava, no caso do mercado de Salvador, aqui eu ainda não tenho esse cenário, era que boa parte dos alunos ia para o mercado como mão de obra gratuita ou a custos muito baixos, e muitas vezes para ficar subutilizados ou com demandas incorretas. Então a idéia era criar um projeto para dar ao aluno possibilidades que ele não teria como estagiário de uma agência, como por exemplo, a oportunidade de criar um texto publicitário para outdoor”.

Um dos diferenciais da agência, além da gratuidade dos serviços prestados, e o mais frisado pelo professor é o relacionamento com os clientes. “A agência não está focada em trabalhar apenas com as questões de massa, está muito mais focada em trabalhar o relacionamento. Nós entendemos que massificação (outdoors, revistas) são meios importantes, mas hoje para o mercado, o entendimento do comportamento do consumidor e a manutenção desse relacionamento são mais importantes do que isso (massificação). A Tudo trabalha muito bem no processo de venda e na pós-venda, mas a pré-venda não é somente aquela coisa de anunciar e gerar um processo de aceitação; é criar um relacionamento e depois mantê-lo”.
O estudante do 3º período de Publicidade Henrique Souza, que atua na área de produção na agência, não tinha nenhuma experiência profissional antes de entrar no projeto e diz que se sente muito mais preparado para o mercado agora. “Você sai daqui pro mercado e já tem consciência de como as coisas funcionam. Você compreende nomenclaturas e termos, você sabe como conviver com o fluxo de demandas, com o dia-dia da agência, aí você sai com a certeza de ter um ponto a mais no mercado”. Um dos eventos organizados pela agência, contou com um cliente que, segundo Henrique, era bastante exigente. “Como o organizador da festa era publicitário, acabava que, às vezes, ele pedia uma coisa e depois que o job era feito, ele queria que fosse outra coisa. Ele achava que algumas coisas não estavam certas, que as cores não deveriam ser assim... Ele era exigente ao extremo! E embora fossem alterações desnecessárias, a gente acabava tendo que acatar mesmo. Mas valeu a experiência, porque a gente sempre sabe que nem todos os clientes são fáceis, e lá fora a gente vai pegar clientes como ele ou piores”. De acordo com Mauro Coelho, estudante do 3º período responsável pela área de atendimento e planejamento da agência, a maior “conta” que foi trabalhada até agora foi uma peça produzida para a campanha da coleta seletiva da UFS ambiental, que está sendo veiculada nos dois outdoors da UFS. Para o professor, essa parceria entre a Tudo e UFS Ambiental é resultado da relação saudável mantida entre a agência e a universidade “afinal, todo o equipamento que nós temos é da instituição”, diz ele.
Embora experiência profissional não seja um pré-requisito, há outras exigências para conseguir uma oportunidade de estagiar na agência. Uma delas é a Média Geral Ponderada (MGP). “A primeira é ser aluno do curso de publicidade, com mgp acima de 6,9. O aluno precisa ter uma clareza da área que ele deseja trabalhar, caso ele não tenha, nós professores de publicidade fornecemos material para facilitar a escolha e, a partir daí, ele se candidata no processo seletivo para a área que ele escolher. No caso da área de criação, eles precisam verdadeiramente ter alguma introdução de softwares (Illustrator, Photoshop e Corel) e algum conhecimento de programação. No entanto, nós não obrigamos a ter todo o conhecimento, nós entendemos que também precisamos dar informação, mas ele precisa pelo menos ter a disponibilidade de aprender e nos mostrar claramente o que ele está fazendo para aprender aquilo, se é autodidata, se está fazendo curso, se está buscando informação com os colegas, para que, caso ele seja aprovado, ele possa ser aproveitado pela agência. Para a área de Redação Publicitária, é preciso ter um texto coerente, e que entenda a diferença e o que caracteriza um texto publicitário. Para a área de mídia, nós temos uma vaga que foi preenchida por uma pessoa que nós preparamos para esse espaço, uma vez que ela não tinha trabalhado esse conteúdo na universidade. A mesma coisa aconteceu com produção, atendimento e planejamento. Nós oferecemos treinamento interno, com apoio dos docentes, discussões, pesquisas” Esclareceu o orientador da agência.
De acordo com o professor, a implantação do projeto foi bastante fácil, tanto por parte do departamento de comunicação como um todo, quanto pela UFS e a assessoria de comunicação da universidade. Para ele, as dificuldades da agência são as mesmas enfrentadas em outras partes da instituição. “Quando nós começamos, a assessoria de comunicação da UFS nos apoiou muito, os professores do departamento acolheram efetivamente a proposta, o departamento disponibilizou espaço, e o mais importante, os alunos viram a agência como uma grande oportunidade de experimentação. As dificuldades são estruturais. Nós não temos, por exemplo, um telefone fixo porque a caixa já não comporta mais um telefone. Nós não temos bolsas para todos os estagiários porque realmente não é fácil proporcionar a todos os alunos, nós não temos equipamentos de última geração, mas essas coisas não são fáceis para toda a instituição”.
A agência já foi mencionada em dois veículos de comunicação, Cinform e Infonet. Para João Dantas, o sentimento por esse reconhecimento é de gratidão. “Eu fico muito agradecido por um projeto que eu tenha pensado ter sido acolhido. É importante, porque a cidade carece de experimentação e novas possibilidades. Então se você pensar numa agência de propaganda que já tem aí uma relação com o mercado, geralmente de prestar classicamente aqueles produtos (outdoors, revistas, sites, cartazes, construções de logomarcas, etc.), e de repente, alguém chega com a idéia de trabalhar uma empresa que tem como foco a questão do relacionamento e é tão bem acolhida, mostra que há uma receptividade ao novo, à experimentação”.
Segundo o professor, há certa desvalorização da imagem do profissional publicitário, devido à impressão que se tem de que é fácil fazer propagandas. Para ele, essa impressão acontece por Publicidade ser um curso novo no Brasil e a afirmação de uma profissão tanto no mercado, quanto no senso comum ser um processo lento. “Acho que internamente, é o processo de construção do lugar. Publicidade é um curso novo, então é um pouco responsabilidade dos professores com projetos de extensão como este, delimitando nesse espaço simbólico que é a universidade, aquilo que nos cabe, aquilo que nós entendemos, então naturalmente virá o processo de reconhecimento. Agora é claro que nós sabemos que, socialmente, a publicidade é vista como algo fácil, que qualquer um pode fazer. É tanto que, freqüentemente, vemos outdoors, logomarcas, pinturas de parede, repletos de erros de informação. Enquanto administrador, tenho registro no Conselho Regional de Administração, mas enquanto publicitário, eu não tenho nenhum registro. Então observe que ainda há uma fragilidade institucionalizada do profissional. Mas assim, numa economia de capital, onde a competitividade é uma marca, os profissionais de comunicação, como publicitário e relações públicas são, é claro, grandes diferenciais competitivos”.
Com um total de sete alunos divididos nas áreas de produção, redação publicitária, mídia, direção de arte e atendimento e planejamento, a agência funciona de segunda a sexta pela manhã. Quem quiser conhecer um pouco do trabalho realizado pela agência pode acessar o blog, o facebook ou seguir a Tudo pelo twitter. Os interessados em contratar os serviços podem entrar em contato com a agência através do email: tudoexperimental@gmail.com.

7 de jun. de 2011

Bobô, um ídolo nordestino


por Thaís Guedes

Um dos versos da música Reconvexo, escrita por Caetano Veloso, retrata perfeitamente o carisma e a amabilidade com qual o meia-direita Raimundo Nonato Tavares da Silva, conhecido popularmente como Bobô, apresentava dentro de campo. É eleito um dos maiores ídolos da história do Esporte Clube Bahia, após liderar o time campeão do campeonato brasileiro de 1988.

Com passagens pelo São Paulo, Flamengo, Corinthians e Internacional, Bobô teve sua carreira marcada por altos e baixos. Consagrado como dirigente, cronista, comentarista esportivo e, principalmente, jogador, se arriscou como técnico e hoje atua como dirigente esportivo no setor público.


Desde 2006 é diretor geral da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), onde foi de indiscutível importância para a candidatura de Salvador como uma das sedes da Copa de Mundo de 2014. Por tudo isso, é visto como um dos poucos  que passou por todos os campos profissionais ligados ao futebol com competência.

ETERNIZADO
Nascido no interior da Bahia , na cidade de Senhor do Bonfim, Raimundo Nonato recebeu o apelido que o eternizou da sua irmã, Rita, que quando ainda estava aprendendo a falar não conseguia pronunciar seu nome corretamente. Iniciou sua carreira na Catuense Futebol S/A, da cidade de Catu - BA, mas sua qualidade em campo logo chamou a atenção do Esporte Clube Bahia que o contratou em 1984. A partir daí sua estrada começou a brilhar anunciando o nascimento de um novo ídolo, que marcou para sempre a memória do nordestino amante do bom futebol, principalmente a memória da apaixonada torcida tricolor baiana.

Comandado pelo técnico Evaristo de Macedo, Bobô liderou o “Esquadrão de Aço” na memorável campanha que surpreendeu todos com a conquista do Brasileirão referente ao ano de 1988, na época denominado de Copa União. Isso porque os jogos da final contra o Internacional só foram realizados em 1989. A primeira partida foi realizada em 15 de fevereiro de 1989, na Fonte Nova e na ocasião o Bahia derrotou de virada o Internacional de Porto Alegre por 2x1 com gols do Bobô. No segundo jogo da grande decisão, o placar de 0x0 no Beira-Rio coroou o Bahia como campeão e Raimundo Nonato como o grande responsável pelo título.

- Fomos eternizados na história dos grandes clubes do país. Um título importante não só para o Bahia, mas sim para o Nordeste. Até hoje compartilhamos dessa conquista. Enaltecemos mais ainda o Bahia a nível nacional – afirma Bobô.

PASSAGEM PELO SUDESTE
Após a conquista do brasileirão pelo Bahia, foi negociado com o São Paulo pelo valor de US$ 1 milhão, quantia fora dos padrões dos clubes brasileiros na época. No entanto, para infelicidade dos dirigentes são Paulinos e para a decepção dos torcedores, Bobô não rendeu o esperado no time, apesar de conquistar o Campeonato Paulista de 1989.

Por estar em baixa no clube paulista, foi negociado no ano seguinte com Flamengo, onde também não demonstrou nada que chegasse perto daquele futebol que a pouco tempo atrás havia contagiado o Nordeste. Em 91 foi contratado pelo Fluminense, onde finalmente a bom futebol voltou a lhe fazer companhia. Depois disso, o jogador ainda teve rápidas passagens por Corinthians e Internacional. Em 1996, com apenas 34 anos de idade, Bobô vestiu a camisa do Bahia mais uma vez, a fim de encerrar sua carreira no clube em que virara ídolo.

COMO TREINADOR
Em 2002, Bobô partiu para uma nova carreira futebolística. Trocou microfones, chuteiras por boné, banco de reserva e lições táticas. Já havia experimentado ser dirigente, cronista e dessa vez resolveu arriscar como treinador do Bahia. Assumiu o posto de técnico do clube com o qual mais criou identidade em janeiro daquele ano. A missão era conquistar o Bicampeonato do Nordeste, incipiente, lucrativa e bem sucedida competição regional, cujo troféu foi levantado pelo Bahia em sua primeira edição, em 2001.

Apesar de desacreditado, contestado, o Bahia foi campeão sob seu comando, conquistando prestígio nacional, agora como técnico. No mesmo ano, Bobô levou o Bahia a fazer sua melhor campanha na história da Copa do Brasil. O time parou no Atlético/MG, nas quartas-de-final, mesmo depois de uma virada espetacular (4 a 3), na Fonte Nova. Faltou apenas um gol para ir até a semifinal. O time e o treinador saíram de campo aplaudidos.

O estilo Bobô ficou marcado pela ousadia tática e pelo permanente diálogo com jogadores e membros da comissão técnica. Mostrou-se um técnico moderno e arrojado, totalmente preparado para brilhar na função.



6 de jun. de 2011

Os sonhos e a luta de uma futura jornalista


Por Matheus Alves

Estudante de Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, quinto período, vinte e três anos e aracajuana de nascença. Essa é Agatha Cristie, ou como é conhecida pelo integrantes do movimento estudantil da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Agatinha. Coordenadora Nacional da Enecos, a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação, milita fortemente por uma qualidade melhor para a formação do comunicador, e é figura marcante no cenário da comunicação na universidade.

Contexto Repórter – Quando você decidiu que queria fazer jornalismo?
Jornalismo, eu desde sempre gostei. É engraçado que toda vez quando se vai falar sobre a escolha de jornalismo, todo mundo fala que é porque tem aptidão para escrita, ou porque queria ser Fátima Bernardes ou William Bonner (risos), porque tem um deslumbre pera área, como toda mídia e tal. E acho é um pouco de tudo isso no começo, mas as coisas mudaram.

CR – Como você vê a situação atual da profissão?
Da profissão. É difícil falar da profissão como um todo. Acho que da pra falar que o jornalista hoje como uma peça fundamental dentro do que a gente tem como construção de sociedade. O trabalho do jornalista, basicamente trabalhar com informações, mas informações que não são soltas do conjunto da sociedade, que portanto trabalha também como mediação de conflitos de ideologias, acho que é uma profissão importante, que o mercado tem sido difícil fora do eixo, falando um pouco daqui de Sergipe, é difícil atuar na área da comunicação. Um ramo que tem crescido muito por aqui, é a assessoria de comunicação, que a gente não pode trabalhar na perspectiva de trabalho jornalístico, né? Então a gente tem uma dificuldade muito grande. A concentração da mídia é muito forte, o que dificulta também essa inserção no mercado de trabalho, tendo em vista os jornais, a TV e a rádio, todas comerciais e na mão de poucos, dificulta assim a abertura.

CR – Isso de alguma forma mudou sua forma de pensar, sonhos, desejos...?
Acho que sim, o curso tem uma coisa bem legal, do curso de comunicação, é que a gente tem contato com alguns teóricos e algumas coisas que abrangem assim, vão além do jornalismo, da própria técnica de fazer jornalistico. Então, é a partir dessas leituras, a gente consegue ter uma noção da sociedade, como ela funciona. E dai tudo isso... é claro que constrói um novo ser dentro da gente. Até mesmo na perspectiva que estamos aqui buscando novas formas de conhecimentos, novas formas de saber. A universidade permite tudo isso. E dai que o curso de comunicação me permitiu fazer uma leitura mais da realidade me permitiu me preocupar mais com a sociedade como um todo, sair do jornalismo clichê que é meramente fazer a informação, e pensar sempre na totalidade. Uma coisa bem ruim do jornalismo é que, a gente se fecha muito na informação e a informação fica solta, como se ela não fizesse parte de um contexto histórico. Então acho que o curso de comunicação permitiu isso em mim, fazer inclusive uma leitura mais critica de como tem sido a prática jornalística.

CR – Foi isso que te motivou a participar de movimentos estudantis?
Sim, sim. Com certeza. Eu hoje sou coordenadora nacional da Enecos, que é a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação, também sou militante do movimento estudantil geral, milito no coletivo nacional que se chama, Barricadas Abrem Caminhos. E dai o movimento estudantil é uma vivência muito importante na universidade. Acho que com um pouco de ousadia, da para dizer que substitui algumas salas de aula, então dentro dessa percepção e compreensão da sociedade, muito da leitura crítica também vem através do movimento estudantil, da participação, da organização. Então acho que é uma vivência e um momento importante. Se toda juventude, todo mundo que entra na universidade, tivesse uma vivência minima, pelo menos do centro, do diretório acadêmico, acho que a formação, inclusive a profissional seria melhor.

CR – Quando começou sua participação?
Foi assim que entrei. É engraçado essa história (risos) porque assim que eu entrei, na primeira semana nós fomos recebidos pelos veteranos, e dai eles fizeram para gente uma semana, uma recepção e dai foi uma semana de programação com vários debates, sobre a democratização da comunicação, a qualidade de formação do comunicador, alguns temas mais atuais, e apresentou o movimento estudantil. E ai assim, no último dia, sexta-feira, eu cheguei para os meninos, na época eram Doug e Pedrão, e perguntei se eu podia 'colar' nas reuniões do DACs (Diretório Acadêmico de Comunicação Social) e depois disso só foi aumentando a participação nos encontros, a participação nos grupos do movimento estudantil e hoje aqui, nessa ocupação.

CR – Você agora está no quinto período. Como você analisa o perfil dos novos estudantes da comunicação? Difere de quando você entrou?
Ah, sim, sim! Difere bastante. É uma leitura que a gente tem feito, inclusive no diretório acadêmico, pra ver como é que a gente vai fazer a nossa comunicação com os próprios estudantes, a comunicação do diretório. A UFS passou por um processo de reestruturação, através da reforma universitária, que foi implantada em 2008 se não me engano, e dai com ela também veio a adesão às cotas. Então acho que se não me engano, o curso de Comunicação hoje está no segundo ano de aplicação das cotas, e dai a gente percebe sim, uma mudança significativa no perfil dos estudantes. Estudantes que inclusive precisam de uma maior assistência estudantil, restaurar a alimentação no restaurante universitário, dos livros, a gente gasta muito dinheiro com 'xerox', então são pessoas que vieram oriundas de escolas estaduais, municipais, que são pessoas que tem um perfil econômico baixo, são pessoas que precisam mais do que nunca dessa assistência estudantil e que de uma certa forma muda sim, o curso de comunicação era uma galera mais classe média alta, então tem mudado a partir da implementação das cotas.

CR – Quais as principais dificuldades que você encontrou na sua formação?
Vixe, principais? Eu diria que... então. Rapaz a gente tem duas coisas né, uma é a questão da formação, não sei se poderia dizer técnica, não sei se seria técnica a palavra. Das necessidade na formação que é corpo docente, equipamentos, estruturas, então esses dai é um dos empasses que a gente tem encontrado para a qualidade na nossa formação e a outra é uma discussão mais ideológica, mais a própria grade curricular do curso, como é pensada e montado os cursos de comunicação. Então a gente tem um curso hoje, que o privilégio é total da técnica. Aqui no caso da UFS é uma contradição gigantesca, porque ao mesmo tempo que você tem um currículo que é voltado pra técnica, você não tem os equipamentos para experimentar as técnicas que é passado na sala de aula. Então é uma contradição gigantesca. E tem a questão da exclusão das disciplinas que pensam a sociedade, sociologia, psicologia, economia política da comunicação, essas disciplinas não tem sido colocado pra gente dentro da sala de aula. Então é uma outra discussão. A gente pode ter dois âmbitos de discussão do que significa qualidade de formação. A primeira é as necessidades básicas, professores, equipamentos, laboratórios, estruturas e a outra é a questão do currículo do curso de comunicação.

CR – Como e quais os principais fatos da sociedade contemporânea, que o curso de comunicação te permitiu enxergar e que antes te passavam despercebidos?
Principalmente a relação do poder. A relação do poder político e poder econômico, a gente costuma achar que tudo está alheio a política, e costuma inclusive, a ter aversão a política, então participar de política que, não é necessariamente políticos profissionais, não é necessariamente está nessa vida, nessa, como é que posso dizer, estar por dentro dessa movimentação dos políticos profissionais. Não é só isso uma vida política. Então, perceber essa relação entre o poder político e o poder econômico, acho que é uma das coisas que mudou.

CR – A UFS atualmente está vivenciando um momento marcante na história do curso de Comunicação, a ocupação da reitoria. Como você encara as ações dos estudantes?
É. Realmente é um momento impar para o curso de comunicação e até traz umas surpresas. Eu estou no diretório acadêmico já ha três anos e sempre estamos nesse processo de mobilização e ficávamos até um pouco desanimado porque sentia um pouco a patia das pessoas do curso também. Passávamos em sala era sempre uma reclamação porque estávamos passando em sala, as pessoas não gostavam, não apareciam em massa nos debates. Mas dai também com que a gente foi fazendo esse trabalho continuado através do diretório e dai a medida que as contradições do curso foram se acirrando, o processo foi mais aligeirado. E é engraçado observar isso agora, nesse movimento de ocupação, porque a adesão dos estudantes à ocupação e o posicionamento favorável a ocupação é muito grande. É um elemento bem surpresa pra gente, a gente não imaginava, contava com isso, mas não imaginava que acontecesse de fato. E é muito importante porque ao mesmo tempo a gente tido um nível de participação, inclusive na produção muito grande. Então, os estudantes de comunicação que tem vindo pra cá hoje, ocupar a reitoria, tem produzido vídeo, tem feito texto, tem tirado foto, tem passado em sala para chamar outros estudantes de comunicação para aderirem a ocupação pra vir conhecer, tem sido muito bom contar com o apoio de todo mundo nesse momento.

CR – Como você se vê daqui a cinco anos? Profissionalmente falando.
Quando eu formo...(risos) Provavelmente eu me formo próximo ano. Daqui a cinco anos, acho que quero emendar no mestrado. Ainda não decidi a área do mestrado, mas provavelmente é alguma coisa relacionado a educação. Quero dar aula! A minha intenção é fazer doutorado e dar aula no curso de comunicação. Eu acho que a gente precisa de uma linha mais crítica na comunicação na acadêmia (risos). Essa é a minha vontade. E... Assim, eu quero ter a vivência de uma redação, mas eu não quero que isso seja a coisa que eu dependa pra sobreviver, por exemplo, eu não quero ter que trabalhar em uma redação loucamente para pagar minhas contas, meu objetivo maior é dar aula na universidade, ser professora da universidade, mas eu quero ter a vivência da redação, até para eu poder ter uma certa autoridade de falar, falam dentro da sala de aula, que a gente tem que ter uma prática imparcial e quando a gente chega no mercado de trabalho a gente vê que a imparcialidade lá não existe e que o direito de imprensa é na verdade um direito empresa.

NaurÊa, um forró diferente

Por: Alanna Molina


Muito mais do que fazer mistura de sons, mostrar que é possível reinventar o forró sem deixar de lado a sua essência e combinar em uma mesma música sons nordestinos com influencias musicais do Brasil e do mundo. Assim é a banda Naurêa, que mostra desde a escolha do nome, na junção de palavras num tipo de som rápido e de forte impacto sonoro, a sua tendência por mistura de sons - tendência essa que permeia as músicas da banda.
Legitimamente sergipana, A Naurêa surge no ano de 2001 em uma reunião de amigos, onde Marcio de Dona Litinha (vocais e zabumba) , Alex Sant'Anna (voz e triângulo), e Ptricktor4 (percussão) resolvem montar uma banda cujo som fosse algo novo e diferente, mas que não excluísse as raízes das culturas locais. Um som que misturasse o forró tradicional com outros estilos, como música eletrônica, samba, hip hop e folguedos sergipanos. Para completar a banda, integram-se Léo Airplane no acordeon, Aragão no cavaquinho, e Abraão Gonzaga na guitarra, e enfim fez-se a Naurêa. A união dos seis músicos, cada um trazendo suas vertentes musicais, fez da banda uma miscelânea de ritmos que se mostrou como uma fábrica de sons criativos e autênticos, sem deixar de legitimar o forró nordestino, de onde tiram a base de sua inspiração.

Trajetória da banda

A Naurêa nasce em 2001, e logo depois de uns dias de ensaio se apresenta pela primeira vez na casa de shows Tequila Café. A primeira reação do público demonstra uma certa estranheza, já que é algo novo e ousado. Mas apesar de ser diferente, a banda mostra que desde cedo possui uma harmonia perfeita entre sanfona, guitarra, percussão, e cavaquinho, resultando num som contagiante que não deixa ninguém parado.
Em 2002, a Naurêa lança um demo em comemoração ao aniversário de um ano da banda: "O Pop do Forró". A partir daí, a banda decola e começa a viajar para outros estados e marcam presença em importantes feiras de músicas do Nordeste.
Em dezembro de 2003, lança seu primeiro CD, "Circular Cidade ou estudando o plágio", um álbum original que viaja entre vários ritmos da música de maneira sempre bem humorada. O CD conta com participações de músicos sergipanos, como Henrique Teles (da banda Maria Escombona) e Amorosa, valorizando assim a inspiração da banda, que é a cultura local. Em 2005 lançam um EP intitulado "Kda vez + negaum", que antecipa o que seria trazido em 2006 com o CD "Naurêa apresenta: O Sambaião". Este foi um marco na carreira e arremessou a banda para outros horizontes. Além de cada vez mais conquistarem admiradores na própria terra, a Naurêa amplia seu público para além do Brasil, tornando a Europa um novo âmbito para a banda, que já faz a sua segunda turnê em 2007.
O ano de 2009 começa com seu segundo EP: Babelesko, que se caracteriza como uma expansão ainda maior de ritmos e melodias. Um diálogo com os vários sons do mundo, mas, claro, sem deixar de ter a presença da perceptível sergipanidade. A banda lança o Babelesko como um intermediário entre o álbum " Naurêa apresenta: O Sambaião" e o próximo disco a ser lançado, intitulado provisoriamente de "Al-Gazarra".

A diferença conquista

Quase dez anos após seu surgimento, a Naurêa mostra, a cada álbum mais, que é possível tornar diferente um ritmo nativo sem perder a cultura e o sotaque (seja ele oral ou ideológico) presente na regionalidade. Um som que chama a atenção para o antigo e o novo ao mesmo tempo; Uma junção de ritmos e sonoridades que contagia e levam à dança todos que a escutam; E, principalmente, um universo que inspira e contamina quem está sempre em busca de música autêntica, com combinações e misturas originais e uma qualidade que poucos conseguem ter. O forró ainda vive nas veias contemporâneas, mas de um jeito diferente - até um pouco mais divertido e culturalmente mais instigador.

Um argentino em Sergipe

Há 13 anos Fabian Maiado saiu de Buenos Aires para se aventurar e acabou construindo uma vida de sucesso em solo sergipano



Por Nara Barreto

Nascido em Buenos Aires, Fabian Maiado mudou-se para o Brasil, mas precisamente para Aracaju, em 1999, saindo da Argentina antes da Grande Crise Argentina.. Florianópolis foi a primeira cidade que esse argentino de pele e cabelos claros conheceu, acompanhado pela sua primeira esposa, de mesma nacionalidade em 1995.
Três anos depois, após o divórcio e enquanto passava férias na Bahia, conheceu sua primeira paixão sergipana, mulher com a qual ele viria a se casar e o traria para morar em Aracaju. Após dois anos, ele viria a se separar novamente. E depois a casar de novo, com outra sergipana, com quem é casado até hoje e tem um filho de 11 anos.
Mas foi em 2002 que ele decidiu, juntamente com Leonardo Victot Dias, montar a primeira escola de língua exclusivamente espanhola. E não é que deu certo? Ano passado a escola foi premiada como melhor escola de língua estrangeira de Sergipe, sendo o reconhecimento de um trabalho realizado por amor por esse argetino que escuta tango para matar a saudade da sua terra. Empresário e professor de língua espanhola exclusivo de uma escola de nível médio de Aracaju, ele se realizou pessoal e profissionalmente, fala um pouco da sua tragetória para o Contexto Repórter.

Quando você decidiu vim para o Brasil?
Quando eu me cansei da política econômica e dos problemas de Buenos Aires.

E porque Aracaju?
Porque eu conhecia uma mulher sergipana, com quem me casei mas já me divorciei. A conheci em Salvador de férias em 1998 em 1999 cheguei aqui. Quando eu comprei a passagem em Buenos Aires pela primeira vez ninguém conhecia Aracaju, não tinha vendido nunca uma passagem para cá. Mas como eu já conhecia uma pessoa eu disse “vamos lá”.

Como foi sua vida ao chegar aqui?
No início eu fiquei sem trabalhar por um tempo, por que tinha umas economias, na época o Peso Argentino era maior que o Real. Depois comecei como professor e agora estou aqui ainda.

E em relação ao idioma, teve algum problema?
No começo teve, mas agora não. Às vezes para me expressar ainda fica complicado, mas eu consigo fazer com que me entendam.

Teve algum grande obstáculo que teve que contornar após adotar Aracaju como sua casa?
Para mim facilitou, porque aqui tem mais oportunidades que em Buenos Aires, aqui em mais crédito que em Buenos Aires, dá para montar a escola e a única dificuldade que tenho ainda é a vivencia cultural.

Qual a maior dificuldade em morar em outro país?
O maior problema que sinto é relacionado a cultura. Vamos supor que você vai morar em Buenos Aires, você pode trabalhar, estudar em Buenos Aires mas você vai continuar sergipano. Você até pode se acostumar com a cultura de lá, como eu me acostumei com a daqui,mas eu jamais vou aceitar a sua cultura como a minha.

Qual seria a maior diferença cultural entre Brasil e Argentina?
A música. Eu costumo escutar roque, gosto muito. Eu supro essa deficiência pela internet, com ela a gente supre qualquer coisa.

E em relação a comida, há alguma dificuldade?
Como de tudo, menos chuchu, que não tem gosto de nada mesmo (risos).

O que você mais sente falta em relação a culinária argentina?
Churrasco e vinho de verdade. A carne a gente miúdo que aqui não come e o vinho, não a gente é acostumado a vinho seco, aqui o que mais tem é vinho tinto ma da para conseguir, um pouco mais caro mas eu consigo vinhos argentinos para comprar aqui.

E em relação ao lazer, como você se divertia em Buenos Aires e o que faz aqui?
A gente ficava em casa de amigos, brincando d baralho, escutando roque, fumando, bebendo um pouco. Isso vocês são mais soltos, não gosto de forró.

Após 12 no Brasil, especificamente em Aracaju, a algum artista que lhe encanta?
Sergipano não. Aqui a arte para o que eu gosto não caminha, eu gosto de roque. Porque por exemplo, vocês gostam muito de Legião Urbana. Mas eles falavam sobre a realidade do jovem brasileiro naquela época, que é diferente da realidade argentina. Mas um artista brasileiro que eu gosto é Caetano, toda vez que ele vem aqui eu vou assistir o show dele.

Brasil e Argentina são dois países apaixonados por futebol. Você torce para algum time brasileiro?
Não. Não porque futebol é como o roque, ou você sente ou não sente. E futebol para mim é como sempre falo, pode jogar Flamengo e Vasco num mesmo jogo e perder os dois que eu não me incomodo. Não consigo torcer por nenhum deles. Eu sou torcedor do Boca Juniors, e vou morrer torcedor do Boca.

E entre Maradona e Pelé, quem foi melhor jogador para você?
Não sei. Não sei porque não vi Pelé jogar.E Maradona é um personagem que não gosto muito, gosto como jogador, mas como pessoa parece triste, sinto vergonha em falar que Maradona é argentino.Sou um argentino pensante, não sou um argentino da massa.

Como surgiu a idéia de montar uma escola de língua somente espanhola?
Surgiu junto com Leonardo Victor Dias, porque ele e eu trabalhamos em outras escolas e a gente via que o espanhol estava como uma coisa de segundo plano, então a gente decidiu abrir uma escola e deu certo.

Hoje você voltaria para Buenos Aires?
Só de férias. Agora dia 25 de junho eu vou viajar, mas só fico três semanas curtindo lá e volto. Aqui eu tenho tudo, tenho uma família, uma profissão, sou professor, e tenho uma empresa também.

A questão econômica também influencia sua permanência aqui, já que quando saiu de lá o Peso Argentino era maior que o Real e agora a situação está invertida?
Não é a questão da moeda. É que na Argentina não tem trabalho. E para um cara como eu, de 47 anos, é difícil. Os meus primos que ficaram lá estão todos na mesma, ou estão ainda pior do que quando eu ainda morava lá.


Hoje muitos dos seus familiares moram ainda em Buenos Aires?
Sim, todos. Hoje estou casado, tenho um filho de 11 anos, que é a minha família brasileira. Mas minha família da Argentina está toda lá.

Você aconselharia algum dos seus familiares ou amigos a virem morar em Aracaju?
Sim, claro. Eu saí de Buenos Aires antes da Crise Argentina. Meus amigos que ficara lá não estão mais em Buenos Aires. Tenho amigo que foi morar na Espanha, na Itália, tenho um morando no México, mas eu recomendaria vir para cá, porque aqui pelo menos trabalhando, se ocupando, você cresce.

Se pudesse voltar no tempo, em 1998, faria tudo de novo?
Sim, faria. No crescimento pessoal, no crescimento econômico, com tudo que eu construí aqui em Aracaju, eu faria tudo de novo sem dúvida.

No mês de junho só dá ele



Por: Lenaldo Severiano

Neste mês de junho são comemorados os festejos juninos que gira em torno de três santos festivos: Santo Antônio, São João e São Pedro. Em especial nestas festas é a consumição de um tipo de cereal que é bem peculiar durante este mês, o milho é o produto mais consumido por aqueles que apreciam uma ótima comida.
O milho é um cereal cultivado em grande parte do mundo, que alimenta o homem e serve de ração para o animal. Tudo leva a crer que a planta seja de origem americana, já que foi cultivado desde o período pré-colombiano, é um dos alimentos mais nutritivos contendo quase todos os aminoácidos conhecidos, além de carboidratos, proteínas, vitaminas do complexo B, ainda possui um bom potencial calórico, sendo constituído de açucares e gorduras.
Os primeiros registros do plantio de milho datam de 7.300 anos e foram encontradas em pequenas ilhas próximas ao litoral do México, no Golfo do México. Seu nome de origem é indígena que significa “Sustento da vida”. Ela era alimentação básica das civilizações importantes ao longo do tempo, os Olmecas, Incas, Maias e Astecas reverenciavam o cereal na arte e na religião. Isso indicia que o milho já era cultivado na América a mais de 4.000 anos. Com as grandes navegações do século XVI e o inicio do processo de colonização da América a cultura do milho se expandiu para outras partes do mundo.
No final da década de1950 o milho foi perdendo vez, por causa de uma grande campanha em favor do trigo. Mas o consumo de milho atualmente vem crescendo, mesmo comparado com outros países como México e aos da região do Caribe.
O cultivo é basicamente mecanizado e beneficia-se bastante da técnica do cultivo direto. Antes da segunda guerra mundial o milho era colhido à mão, isso envolvia muitos trabalhadores e que ao longo do tempo veio sendo escasso pelo uso da mecanização que fez com que os trabalhadores fossem substituídos pelas máquinas.
O modo mais comum de uso do milho é a farinha de fubá, depois de pilado o cereal era fervido e comido como polenta ou ainda transformado em deliciosas tortilhas e massas comestíveis que faziam a festa das mexicanas e até hoje essas tradições foram preservadas e muito popularizadas no mundo inteiro.
Segundo agricultores do estado de Sergipe a melhor época de plantar o ouro o sertão é no mês de março, exatamente no dia de São José para que a colheita seja farta e não falte o milho no mês de junho nos grandes centros de abastecimento.
As comidas típicas do ciclo junino são de dar água na boca. Conta a história que as festas juninas surgiram na época pré-gregoriana em comemoração à fartura da colheita, no solstício de verão, onde faziam-se uma grande festa pagã para agradecer a fertilidade da terra. Essa festa era realizada no dia 24 de junho. Aos poucos a festa foi sendo difundida no Brasil, tendo chegado a nosso país através da colonização portuguesa.
Nessa época o milho é evidenciado nas plantações de todos os lugares, sendo à base de todos os alimentos consumidos nas festas juninas. Dentre os pratos mais deliciosos consumidos durante esta época podemos destacar a canjica, o mungunzá, a pipoca, a pamonha, o bolo de milho, o caldo de milho, o milho cozido e assado, dentre outros. Mas não só os produtos derivados do milho que são usados nas festas juninas a depender da região onde se estar isso pode haver variações nos seus pratos típicos.
E não podemos esquecer é de poder apreciar um bom forró, assistir a uma boa quadrilha e se divertir, porque isso não pode faltar para alegrar os nossos festejos.

Educação recebida e devolvida

Como fatos importantes da ditadura, silenciados pelo tempo, ajudaram a formar um acadêmico decisivo para toda uma cidade.

Por Edson Costa

O professor Joilson Romanci Severo Borges aparenta ser muito calmo, plácido e focado na execução de suas atividades: não inspira nenhum modo de conflito; mas sua vida reúne eventos e feitos decisivos nos âmbitos político e educacional no estado da Bahia, e principalmente na cidade de Alagoinhas. Tendo início nos desdobramentos imediatos da ditadura militar, passando pelos embates político-oligárquicos daquele momento, e adentrando na formação da atual educação superior em Alagoinhas, sua trajetória pessoal e profissional são surpreendentemente notáveis.

Joilson Borges (Fonte: Revista Portal da Cidade)

Nascido em Alagoinhas no ano de 1952 completou tenros 12 anos de idade quando se deflagrou o golpe militar de 1964. Mas, o que poucos se lembram, é que sua cidade natal foi palco de acontecimentos importantes a nível nacional. Duas famílias direitistas disputavam e revezavam-se no poder executivo: Os Azi e os Maia. Mas estes últimos não se punham na candidatura, restringiam-se a financiar e apoiar nomes convenientes a si. Murilo Cavalcanti, apoiado por eles, era prefeito de Alagoinhas em ocasião do golpe, e foi o ultimo representante do poder político Maia.
Também em 1964, houve a descoberta do primeiro poço de petróleo na cidade, trazendo no ano seguinte, a visita do próprio presidente da Petrobras, o General João Costa. Na mesma ocasião da visita deste, esteve presente, também, o então presidente Castello Branco, que recebeu o título de Cidadão Alagoinhense, e não hesitou em desafiar inimigos em território de sua mais recente cidadania: “Há quem anuncie a insurreição. Preferimos enfrentá-lo do que contorná-la. Não reconhecemos nenhuma força autônoma nos meios militares do País. Se existe, que procure medir suas dimensões e passe da conspirata dilatória para ação aberta”.

A presença e veemência de Castello Branco fazem muito sentido ao lembrar-se do peso do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no poder legislativo, do seu grande número de filiados e intelectuais locais: proporcionalmente, um dos maiores do Brasil. Em igual medida, o sindicato dos ferroviários, com greves anteriores muito famosas, e dentro de um dos principais centros da malha ferroviária de todo Norte-Nordeste que era Alagoinhas.

Mas e o personagem principal em tudo isso? Bem, até o momento, sua pouca idade e formação não permitiram grandes feitos, mas mesmo assim pôde ter uma perspectiva próxima e surpreendentemente esclarecida dos fatos. Seu pai era funcionário público, fiscal de tributos, permitindo-lhe conhecer pessoalmente o então prefeito Murilo Cavalcanti, assim como os maiores nomes da família Azi. Quando as mudanças políticas começaram, o professor Joilson se deu conta do desaparecimento e morte de vereadores comunistas, e também de ferroviários sindicalistas. Diga-se de passagem, ele fala com nostalgia que, de modo geral, a população alagoinhense tinha um pensamento intelectualmente sofisticado, e debatia abertamente o socialismo.

Outro fato marcante para a cidade, que também foi visto de perto pelo professor Joilson, foi a consolidação de sua educação. O Ginásio de Alagoinhas (escola de Ensino Fundamental II) não era público, mas sim por cooperativa: era freqüentado por Joilson Borges e todos os estudantes de classe média da região. O Colégio Navarro de Britto (na época, com Ensino Médio mesclado ao técnico) era o segundo maior do estado da Bahia, perdendo somente para o Colégio Central, situado na capital. O professor Joilson diz crer que tal empreendimento do governo continua a parecer ousado mesmo com uma visão atual: por educação com nível de capital no interior. Para ele, este fato foi marcante para formar grêmios e movimentos estudantis tão conscientes e engajados como eram os de Alagoinhas, a ponto de sofrer repressão direta de Brasília. Muitos de seus amigos, líderes estudantis, foram presos. E, curiosamente, ele também pôde conhecer o patrono de sua escola numa cerimônia oficial em que foi com seu pai.

Formado no então “segundo grau”, e técnico em desenho arquitetônico, o professor Joilson passou a dar aulas no próprio colégio Navarro de Britto, onde ficou trabalhando por mais 27 anos. Antes mesmo de ingressar na faculdade, fez dois cursos de curta duração na Secretaria de Educação e Cultura da Bahia. E, seguindo na área do desenho e magistério, ingressou em 1976 no curso de Licenciatura em Desenho e Plástica, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), formando-se em 1981. Vê-se que sua educação média e superior deu-se da década de 1970: auge do poder político militar; e a UFBA era conhecida pela ideologização e politização de seus alunos. Porém, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), teria sofrido diretamente com o poderio da direita comandada por Antônio Carlos Magalhães, impedindo que seus alunos adquirissem o mesmo perfil. Mas, desafiadoramente, é nessa universidade que o professor Joilson inicia a sua carreira acadêmica.

Ele ensina em disciplinas dos cursos de Biologia e Matemática e, com poucos anos de experiência, tornou-se chefe do departamento de Ciências Exatas e da Terra. Entre os anos de 1986 e 1987 especializou-se em Conteúdos e Métodos de Ensino, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A UNEB é a maior universidade da Bahia, tendo, hoje, mais de 30 campi; o campus I fica na capital, e logo em seguida vem Alagoinhas com o campus II. O professor Joilson, agora no cargo de diretor do campus, viu o curso de Licenciatura em História mudar, paulatinamente, a imagem da UNEB de instituição que transmite educação apolítica. Lutou contra a divisão interna entre professores alagoinhenses e soteropolitanos, que só prejudicava aos alunos. Também pôde executar a plenificação dos cursos da UNEB, campus II, no ano de 1986. E em 1988, teve, segundo ele, o prazer de fazer acontecer o primeiro concurso para funcionários da universidade, sob os crivos da nova constituição.

Já nos anos 2000, tendo saído do Colégio Navarro de Britto, o professor Joilson Borges dá mais um passo em sua carreira que, como de costume, foi mais um passo decisivo para o cenário educacional e político de Alagoinhas. A Faculdade Santíssimo Sacramento (F.SS.S), primeira instituição de ensino superior privada da cidade, fundada em 2002, convida-o para ser o seu diretor acadêmico, cargo que ele ocupa até hoje. Pouco depois de assumir a nova função, em 2003, cursou Consultoria de Assuntos Acadêmicos, pela CONSAE/EDITAU. Atualmente, a F.SS.S. possui o maior número de cursos de pós graduação na cidade de Alagoinhas, e é a mais importante faculdade privada, atendendo município e região. Aliás, ampla região. Alagoinhas já possuia um comércio famoso, atraindo pessoas do recôncavo baiano, do sertão, e até da região metropolitana de Salvador; agora, com seu campus da UNEB, e com outras três faculdades privadas, além da F.SS.S, tem se tornado um polo estudantil importante na Bahia.

A vida do professor Joilson Romanci Severo Borges não foi de efetiva militância por uma frente ideológica, e nem de disputas político-partidárias. Mas a sua proximidade aos fatos, desde criança, permitiu-lhe esclarecimento e posicionamento. Na área da educação, aí sim, a sua luta é visível e exuberante. Sem levantar bandeiras vermelhas ou azuis, ele enfrentou o despotismo de conchavos políticos de sua época em prol de direitos básicos inerentes a uma educação superior de qualidade. Pôde ver, sob a ótica de um dirigente consciente, as principais mudanças políticas nacionais, ocorridas na década de 1980, refletirem na maior Universidade pública da Bahia. Foi e é um dos principais nomes da educação superior de Alagoinhas: onde sindicalistas, comunistas e líderes estudantis foram mortos; de onde jorrou petróleo e Castello Branco tornou-se cidadão; e de onde o filho de um funcionário público, sempre presente entre políticos e patronos, saiu para estudar, e retornou para lutar por uma educação qualificada, politizada, e, quem sabe, mais uma vez “intelectualmente sofisticada”.

Praça J.J. Seabra, Centro de Alagoinhas (Foto: Joilson Borges)

De vaqueiro a cantor de forró

A vida do vaqueiro Danielzinho, consagrado atualmente o melhor cantor de forró-vaquejada de Sergipe



Por Raimundo Morais

Homem maduro do agreste sergipano, aquidabãense nato. De origem pobre e cristã. Filho de vaqueiro aboiador e agricultora. Irmão de um cantor de forró. 36 anos de idade e uma história de vida repleta de superações, digna de respeito e orgulho aos sergipanos. 



Um rapaz de altura mediana, que carrega no rosto um retrato da sua vida, embora sorridente, tranqüilo e sincero. De cor parda de cabelos pretos e encaracolados, esse é Daniel Batista da Cruz Filho, o Danielzinho da Banda Quarto de Milha.

Nascido no dia 22 de junho de 1975, no povoado Campo Redondo pertencente à cidade de Aquidabã, e atualmente morando em Capela, terra da famosa festa do Mastro, região do Vale do Contiguiba, Danielzinho atual figura ilustre do forró-vaquejada de Sergipe, conhecido na musicalidade também como o kaceteiro do forró, tem quatro filhos e uma história de vida repleta de conquistas.

Filho do vaqueiro aboiador Daniel Batista Cruz, e da agricultora Josefa Nascimento da Cruz, quando criança, Danielzinho dividia sua tarefa diária ajudando nos trabalhos dos seus pais nas fazendas as quais trabalhavam, e estudava, primordialmente na escola do povoado Tabocal, em Aquidabã, e depois no Milton Azevedo na sede da cidade, quando abandonou os estudos na quarta série para trabalhar ao lado do pai e os irmãos como vaqueiro, roçando pasto, arrancando toco e plantando capim. Começa então, a fascinação pela vida de gado, e já aos sete anos de idade começou dá seus primeiros passos nos oboios, orientado sempre pelo seu pai, incentivador e professor nesta arte.


Aos cantos e encantos, o menino prodígio por onde passava construía sua identidade, que por pouco não foi interrompida, depois de fraturar o braço no labuto da família. Embora, não passasse de um susto, e depois de recuperado, aos 15 anos, o canavial foi o “palco” da vida do cantor, que acordava as 03h00min da madrugada, e se deslocava da sua casa, nesta época no povoado Cruz Grande, em Aquidabã, para a cidade de Neópolis, cortar cana, chegando somente à noite, por volta das 20h00min.


Uma maturidade de quem já viveu uma vida inteira e no coração a bondade de uma criança, conheceu a jovem Lucilene, com quem se casou aos 18 anos, e do fruto da união, nasceram Daniel Neto, Pedro Victor e Luciele, época árdua na vida do vaqueiro, que com muito suor e trabalho, tirava o sustento da família.


Amante da vida de gado, inseparável dos aboios, criado nas corridas de mato da região agreste e sertão sergipano, Danielzinho intensificava suas participações nas vaquejadas, cantando e encantando por onde passava, sendo obrigado a abandonar o esporte depois de ser atingindo com uma casca de pau no olho esquerdo, em uma festa de vaqueiro na cidade de Poço Redondo, em Sergipe, que ocasionou a perda da visão no olho ferido.


Más como um atleta, que sofre a cada passo, chora a cada corrida, lamenta a cada derrota, mas nunca desiste, Danielzinho depois de reabilitado formou uma dupla com irmão Edvaldo, começava então a percorrer o caminho do sucesso, se apresentava em festas de gados e pequenas festas culturais na cidade e região, agregando posteriormente ao sobrinho George, formando a primeira banda do cantor, que despertou os empresários do mundo do forró.

Louco pelo forró, vaquejada e uma boa cerveja, o empresário Dinho, em uma das apresentações da pacata banda de Danielzinho, encantou com o trabalho dos ex-vaqueiros e convidou-lhes para formar uma banda de forró-vaquejada, que levaria o nome: Danielzinho e Forrozão Quarto de Milha, expressão atualmente em todo o nordeste, destaque nas principais rádios e TV do nordeste.

Simples, sincero e defensor da verdade, oposicionista as ações mentirosas, aquele que almeja sempre por descobertas e não teme das mudanças, ama o novo, Danielzinho deixa esposa e parte para uma nova experiência matrimonial, casa-se pela segunda vez, com Nazinha, e desta união o mais novo fruto do cantor, a filha Layana.


Ao lado de músicos e ex-vaqueiros, a mistura do forró e dos aboios, ao som da foz grave e precisa do aquidabãense, a musicalidade fluem entres os forrozeiros que apelam nas festas pela participação do cantor, “atualmente eu não sei como um produtor do evento não seleciona Danielzinho para fazer parte da animação, mas sei, que muitos assim como eu, gosta de seu estilo e vive intensamente o kaceteiro do forró”, disse Gabriella Bomfim.

Em uma história de vida que mais se parece uma ficção, com tantas coisas vividas, superadas, assim é a vida de Danielzinho, menino humilde que dividiu a infância com pouco estudo e muito trabalho ao lado da família, que persistiu nos seus sonhos e floresceu no mundo da fama, “esse sucesso é bastante merecido a Danielzinho, por ser uma pessoa simples, que sempre está valorizando as suas raízes como também pela sua história de vida que é um grande exemplo de superação”, disse o radialista professor Carlos Alberto.

Tobias Barreto

O ‘‘notório’’ condor sergipano



Por Eduardo Ferreira Santos
Quando as palavras ‘‘ Tobias Barreto ’’ são mencionadas fora de um contexto, o senso comum do povo sergipano rememora e faz inúmeras menções: à cidade, ao teatro, à praça, ao colégio, entre outros órgãos que ostentam esse nome. É indiscutível a utilização dessas duas palavras para titular as mais diversas ‘‘coisas’’ pertencentes ao cotidiano sergipano.
Já que esse nome próprio é tão notório no Estado, o Contexto Repórter B foi justamente à Praça Tobias Barreto, situada no Bairro São José, em Aracaju, inquirir aos populares se eles sabiam de fato, quem foi esse homem que ostenta todas essas homenagens. Lá foram ouvidas aproximadamente 20 pessoas, dentro de uma faixa etária de 15 a 70 anos, constituída de estudantes, trabalhadores do local e aposentados. Dentre todos os cidadãos questionados, apenas três conheciam alguma atribuição do ‘‘notório’’ Tobias Barreto.
Acompanhe abaixo momentos importantes da vida desse ilustre sergipano:
Juventude Obstinada
Tobias Barreto de Meneses nasceu no dia 07 de junho de 1839, no povoado Villa de Campos do Rio Real (atual município de Tobias Barreto), agreste sergipano. Filho de Emerenciana Maria de Jesus e Pedro Barreto de Meneses, camponeses mestiços da região.
Aos 15 anos resolve ir morar sozinho no município de Estância, para trabalhar e estudar, pois seus pais muito pobres mal tinham condições de sustenta-lo, tampouco custear sua sede por conhecimento. No mesmo ano, se destaca nos estudos da língua mãe, o latim e começa a lecionar gramática, peregrinando durante quatro anos por diversas cidades do interior, como: Lagarto, Maruim e Riachão.
Nos cinco anos seguintes, conciliando os estudos com o trabalho, madrugando noites afinco e tendo como única forma de lazer as atividades de cantor e flautista na Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (a mais antiga instituição musical brasileira, fundada em 1745), de Itabaiana. Tobias tem seus esforços reconhecidos pela Assembleia Provincial, que o concede uma licença para cursar a Faculdade de Direito do Recife, até então, um dos únicos cursos superiores do país. Contudo, antes de iniciar sua trajetória acadêmica, resolve ir para um seminário na Bahia, lá tem lições de teologia e filosofia, mas sem vocação latente para a vida regrada e sem condições de sobrevivência, abandona a instituição e volta para sua cidade natal, levando consigo uma paixão arraigada pela filosofia.
O Momento ‘ ‘Condor’’
Um ano se passa e o jovem agora tem entre 20 e 21 anos, resolve iniciar sua graduação e vai morar em Recife, ‘‘ a cabocla civilizada’’, segundo ele. É na cidade que Tobias desenvolve intensamente o gosto pela poesia e pelo Romantismo (1836-1881), estilo literário em foco na época.
Nesse período a América do Sul estava passando pelo seu maior conflito armado até então, a Guerra do Paraguai (1864-1870) e o Brasil era um dos protagonistas. É nesse cenário e com essa temática que Tobias se torna um exímio e inflamado poeta, conclamando o povo à luta e reacendendo o espírito ufanista dos pernambucanos.
Nessa mesma época se envolve em embates político-ideológicos com o poeta baiano, Castro Alves, a quem Tobias superava nesse âmbito. Essa rivalidade se estendia até para a esfera passional, pois algumas vezes, ambos cortejavam as mesmas moças, e numa época imbuída de preconceitos propiciados pela escravatura, Castro levava vantagem, pois Tobias era mulato.
Apesar de todas as desavenças, ambos ditaram a ideologia da terceira geração do Romantismo no Brasil, através do Condoreirismo, escola literária marcada pelas temáticas de igualdade de direitos. O poeta sergipano foi o fundador e o baiano o difusor mor da escola.
Cinco anos se transcorrem e Tobias Barreto começa a pleitear vagas para o magistério. É aprovado em primeiro lugar para a cadeira de Filosofia do Ginásio Pernambucano, mas é preterido por um candidato doutorado em filosofia pela Universidade de Louvain, da França. Essa injustiça o deixa furioso, pois além de ser defensor das ideias germanistas, era averso ao predomínio da cultura francesa no país.
O Ápice da Vida
Agora, aos 30 anos e antes de concluir o curso de direito, casa-se com Grata Malfada dos Santos, filha de um coronel proprietário de engenhos no município de Escada, interior de Pernambuco. Alguns meses depois, termina sua graduação e já com nome feito como poeta, orador das massas, crítico de filosofia e pesquisador jurídico extenso, vai morar em Escada.
Nos dez anos que se sucedem, dedicou-se à politica e ao jornalismo. Na política fazia incursões à propaganda abolicionista e republicana, se filiou ao Partido Liberal, consequentemente sendo eleito deputado à Assembleia Provincial, exercendo um de seus maiores dons na plenária, a oratória. Utilizou o jornalismo como a ferramenta de difusão do germanismo e de suas ideias igualitárias, fundando o jornal ‘‘Um Signal dos Tempos’’ e editando o ‘‘ Deutscer Kaempfer’’ (O campeão alemão). Além de publicar seu primeiro livro ‘‘Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica’’, uma compilação de artigos publicados na imprensa recifense.
Por volta dos 40 anos , envolve-se em acontecimentos memoráveis e polêmicos, dentre eles está um episódio que quase lhe custou à vida. Após a morte de seu sogro, alforriou todos os escravos da propriedade, fato que causou a ira dos latifundiários da região, que cercaram sua casa. Tobias tentou uma resistência frustrada, através de sua eloquência e da imprensa, no entanto acabou cedendo e retornou à Recife.
Em seu retorno, publica ‘‘ Dias e Noites’’, um livro de poesias que se consolida e tem o respaldo da crítica. No ano seguinte,ele resolve candidatar-se a catedrático da Faculdade de Direito do Recife, consegue a nomeação e se torna o maior mentor intelectual da faculdade ( fato que repercute até hoje, pois a instituição ostenta o apelido carinhoso ‘‘A Casa de Tobias’’, em sua homenagem ) e renova os conceitos filosóficos e jurídicos dos discentes, baseando-se no germanismo.
Os Últimos Anos
Todavia, entre três e quatros anos após seu ingresso no magistério, Tobias é acometido por doenças que o debilitavam e o fazem deixar de lecionar, continuou publicando obras. Mas gradativamente caminhou para o ‘‘ostracismo’’, provocado pelas enfermidades e sua decadência financeira. E no dia 26 de junho de 1889, aos 50 anos falece o filósofo, poeta, político, crítico, orador, jurista e jornalista, Tobias Barreto de Meneses.
Para muitos, dentre eles o escritor Graça Aranha, Tobias foi uma maiores personalidades de sua época.

Obras Completas Publicadas:
- "Ensaios e estudos de filosofia e crítica ", 1975;
- "Brasilien, wie es ist, " 1876;
- "Filosofia e Crítica". "Estudos Alemães", 1879;
- "Dias e Noites", 1881;
- "Polêmicas", 1901;
- "Discursos", 1887;
- "Menores e Loucos", 1884.


‘‘Se é Deus quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.’’


-

‘‘Quanta ilusão!... O céu mostra-se esquivo
E surdo ao brado do universo inteiro...
De dúvidas cruéis prisioneiro,
Tomba por terra o pensamento altivo.

Dizem que o Cristo, o filho do Deus vivo,
A quem chamam também Deus verdadeiro,
Veio o mundo remir do cativeiro,
E eu vejo o mundo ainda tão cativo!

Se os reis são sempre os reis, se o povo ignavo
Não deixou de provar o duro freio
Da tirania, e da miséria o travo,

Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio,
Se o homem chora e continua escravo,
De que foi que Jesus salvar-nos veio?...’’

Tobias Barreto

Militante estudiosa?

Aluna de jornalismo da UFS, Bárbara Nascimento rejeita o estereótipo de militante "que não quer saber de estudar, só quer criticar”

(Foto: repartircomtodos.blogspot.com)
Bárbara fala aos estudantes no Cobrecos

Por Iargo Souza

“Ocupa ou não ocupa? Resiste ou não resiste?”. Foi com este "grito de guerra" que Bárbara Nascimento de Oliveira – conhecida como Babi, personificou a indignação dos estudantes que ocuparam a Reitoria da Universidade Federal de Sergipe durante a primeira semana de junho. Ao final de uma reunião de negociação entre professores e a alta cúpula da Reitoria, Bárbara subiu ao palco, leu um poema e, ruborizada e trêmula, gritou as palavras de ordem, imediatamente respondida pelos colegas. Foi assim, com gestos enfáticos, que Bárbara puxou a retirada dos estudantes, afirmando a continuação da mobilização. Ao som de apitos, gritos e aplausos, os jovens rumaram de volta à ocupação, sob o coro de “nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu? Aqui está presente o movimento estudantil!”

No dia 31 de maio, os estudantes de Comunicação Social da Universidade Federal de Sergipe (UFS) ocuparam a anti-sala do gabinete do reitor, em protesto contra a precarização do curso, que carece de estrutura física, equipamentos e professores. Organizados na campanha “Chega de Migalhas!”, os estudantes pediam uma audiência com o reitor Josué Modesto dos Passos Sobrinho, que só aconteceu no dia 3 de junho no auditório da reitoria, com a participação dos professores do Departamento de Comunicação, alunos do curso e outros dirigentes da instituição.

Dentre os questionamentos levantados pelos alunos, não satisfeitos com as propostas da reitoria, destacou-se o não comprometimento com a definição de prazos para a resolução das problemáticas.

Quem é ela?

Filha dos funcionários públicos Maria Luzinete Nascimento e Marçal de Oliveira Neto, Bárbara Nascimento de Oliveira, 23, está cursando o 7º período de comunicação social com habilitação em jornalismo na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Além das atividades acadêmicas relacionadas ao seu curso, a estudante é militante do movimento estudantil ligada à Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos) e estagiária do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Sergipe (Sintese).

Nascida e criada em Aracaju, a jovem interessou-se pelo jornalismo ainda muito nova. A afinidade com as matérias de língua portuguesa e redação fizeram despertar o gosto pela escrita. Na 6º série, uma professora, de nome Silmara demonstrava interesse pelo que a aluna escrevia e a incentivava, chegando a utilizar um trecho de um de seus textos em uma prova. A partir daquele momento Bárbara passou a se dedicar ainda mais a escrever, levando essa relação com a comunicação até a hora de prestar o vestibular.

Começo na militância

No ano de 2006, cursando o primeiro período de jornalismo na Universidade Tiradentes (Unit), Bárbara é apresentada ao Centro Acadêmico de Comunicação Social (CACS) daquela instituição. A partir desse momento passa a participar das atividades e reuniões do centro e a se interar das propostas e bandeiras da Enecos.

Também em 2006, acontece em Salvador o XXVIII Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecom). Mobilizados, estudantes da UFS e Unit, inclusive Bárbara, vão à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom) e, durante uma semana, debatem temas como a democratização da comunicação e o combate às opressões. Antes disso, participa, em Aracaju, dos pré-encontros que consistiam em realizar debates sobre as bandeiras que a Enecos defendia, sendo elas: a democratização da comunicação; o combate às opressões; discussão do machismo e como este reflete na mídia; discussão da homofobia e como a problemática é pautada pelos veículos de comunicação; a questão dos negros e negras e dos nordestinos na mídia, etc.

Durante o evento acontece um ato que marcou a entrada definitiva de Bárbara na militância. Mais de dois mil estudantes caminharam nas ruas de Salvador discutindo junto à comunidade o combate às opressões, tema do encontro. Dessa forma, quando volta à universidade, a estudante, agora militante, não consegue ver-se dissociada do movimento estudantil e passa a integrar o CACS.

UFS

No final do segundo período de 2006, Bárbara tranca o curso de jornalismo e se afasta da Unit. Apesar de estar participando das atividades do centro acadêmico, ela sentia-se insatisfeita com a política da universidade que, segundo ela, podava a liberdade dos estudantes, estabelecia regras e limites impedindo avanços. Assim, volta ao Colégio São Paulo, em Aracaju – instituição onde cursou o ensino médio – e consegue uma bolsa integral para curso pré-vestibular. Passa o ano de 2007 estudando, mas mesmo não estando ligada a nenhuma universidade continua na militância. Mantém suas atividades no coletivo Enecos-Sergipe e nesse período participa da organização do Encontro Regional dos Estudantes de Comunicação Social (Erecom), que aconteceu na UFS e contou com a participação de estudantes de Alagoas, Bahia e Sergipe. Depois do encontro continua suas atividades nas reuniões do coletivo e no fim do ano é aprovada no curso de jornalismo da UFS.

Mesmo antes de começarem as aulas na UFS ela já tinha contato com o Diretório Acadêmico de Comunicação Social (DACS), ajuda a organizar a recepção dos calouros – dela inclusive –, e entra no processo de eleição do diretório, que estava com uma coordenação provisória. A chapa “No fim a gente ganha” foi eleita no início de 2008 e reeleita em 2009, dando-lhe a oportunidade de integrar duas gestões do DACS. Nesses dois anos participou de atividades importantes como a semana de comemoração dos 15 anos do curso de Comunicação Social da UFS, em que já eram apresentados problemas relacionados à estrutura do curso, além de trazer palestrantes para discutir o movimento estudantil. No fim de 2009 a gestão se encerra, e Bárbara não mais participa da disputa de outra chapa.

Influências e formação ideológica

Quando um estudante opta pela militância ele deve ter consciência de que esta atividade demanda tempo, estudo e disposição. Além das atividades de sala de aula, de um possível estágio ou emprego, das relações com a família, enfim, das atividades cotidianas, o militante deve estar preparado para formular e fazer debates. Bárbara considera que o estigma que por vezes cai sobre o movimento estudantil, de que “militante é a galera que não quer saber de estudar, só quer saber de criticar” deveria ser o contrário. Ela, por exemplo, mesmo envolvida na militância está concluído o curso sem atrasos – entrou na UFS em 2008 e está saindo no segundo período de 2011.

Tendo como base de formação o marxismo, a estudante acredita que Marx ajuda a compreender “os mecanismos violentos e brutais do sistema capitalista”. Além do teórico alemão, ela destaca dentre suas leituras o pernambucano Paulo Freire, por considerá-lo um autor que, quando lido, causa indignação, mas também motivação para construir transformações. Dessa forma a estudante vai buscando leituras que também ajudem a compreender questões mais específicas como a democratização da comunicação. A exemplo, Vinícius de Lima (UnB), César Bolaño (UFS) e outros vêm suprir essas demandas.

Rompendo com a tendência à partidarização que vem ocorrendo dentro dos movimentos sociais – inclusive no movimento estudantil –, Bárbara não é filiada a nenhum partido político. A estudante considera a filiação um processo importante, e acredita que participar do movimento estudantil não a impede de filiar-se. No entanto, diz ainda não ter encontrado dentro de seus estudos vivências de movimentos e linhas partidárias com as quais se identificasse a ponto de desejar defendê-las.

Expectativas e Projetos

Uma das preocupações da jovem militante é o fato de que fora do ambiente universitário os espaços de discussão alternativa são restritos. Em Sergipe, por exemplo, a comunicação de esquerda limita-se a assessorias de comunicação de alguns sindicatos. Neste sentido, ela compreende que por mais que haja discordância das linhas e mecanismos ideológicos dentro dos veículos de comunicação hegemônica, terá que lidar com eles enquanto profissional: “a gente vai precisar passar, por ventura, por uma redação, mas isso não nos impede de militar”.

Uma das apostas de Bárbara para perpetuar a militância é o Fórum Sergipano pelo Direito à Comunicação. Este fórum é composto por entidades tais como ABRAÇO - Asssociação Brasileira de Rádios Comunitárias em Sergipe; MMM - Marcha Mundial das Mulheres; ENECOS - Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social; dentre outras. Passando atualmente pelo processo de conclusão de estatuto e composição de coordenação, o fórum será organizado através de eixos temáticos e tem como objetivo trazer para a sociedade o debate da compreensão da comunicação como um direito.

A ocupação

Até o momento da postagem dessa matéria os estudantes permaneciam na ocupação. Além da anti-sala, a ação estendeu-se à assessoria de comunicação da universidade (Ascom). Segundo os estudantes que integram o processo, a mobilização vai além do caráter pontual, uma vez que se volta a melhorias que beneficiariam não só os estudantes de agora, mas os que ingressarem futuramente na universidade.

Neste sentido, Bárbara contextualiza: “A gente vive um quadro para além de apatia, um quadro de individualismo que não é à toa. Ele vem de uma lógica de sistema que ressalta o tempo todo a competitividade, a questão do eu, e que não consegue compreender a importância do ser coletivo. E isso, de algum modo, não é culpa das pessoas, não é culpa dos estudantes não estarem participando desse processo.” E completa: A nossa idéia enquanto movimento é tentar mostrar aos estudantes outros valores, outras lógicas. Um dia já fomos cinco, agora já somos dez, aqui já somos 50, às vezes durante o dia somos 100 ou 200. E a gente tem conseguido. Convencer a sociedade de que aquilo pelo que estamos lutando é correto é, até, fácil. Mas, chamar o ‘camaradinha’ e a ‘companheira’ para construir junto com a gente é mais difícil. Mas é gratificante porque temos muita consciência de que a nossa pauta é necessária.”

Mais informações sobre a ocupação:

http://chegademigalhas.blogspot.com
@Comunicaufs

Um conservador de suas matrizes

O cantor, compositor e intérprete Roberto Mendes é um dos poucos divulgadores da Chula
Por Luiza Cazumbá



Baiano de Santo Amaro da Purificação, Roberto Mendes já participou de Festivais de Música da década de 80, tem muitas de suas músicas gravadas por Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros cantores. Em suas músicas, Mendes procura resgatar a tradição e é hoje preservador da Chula – estilo híbrido de influências europeia e africana.
Lançou em março o livro e DVD Sotaque em Pauta - chula: o canto do Recôncavo. Depois de trinta anos de pesquisa sobre a Chula do Recôncavo, ele apresenta a obra, que tem tiragem de dois mil exemplares e é bilíngue (português - inglês). Na entrevista a seguir, feita por e-mail, ele fala sobre a música na sua vida, a participação em festivais de música, a Chula, o livro e DVD, suas inspirações, o gosto pela música e novos projetos. Confira.


Quando a música começou a fazer parte de sua vida?

Desde que nasci. Nasci em um lugar onde a fé é regida pela canção. Seja a canção profana, seja a sacra. Todos os ritos de Santo Amaro, do Recôncavo são regidos pela canção. Todos os ritos são louvados na canção.



Você deixou de lecionar Matemática por que sua vocação não era a educação ou por que a música começou a dar certo?

Porque me senti mais útil na música, educando através da música. E é exatamente isso que faço até hoje. Não abandonei a educação, continuo educando até hoje. Continuo professor, nunca deixei de sê-lo. Toda a minha pedagogia, toda a minha didática utilizo-as na canção.



Como foi participar de festivais de música da década de 1980?

Era muito bom. Os festivais eram o único canal que tínhamos para expor a nossa arte. Ainda não existia com tanta crueldade, com tanta severidade, a ditadura do gosto.



Por que o interesse pela Chula?

É o mesmo interesse que tenho pela minha memória, pela gente da minha terra, pelas minhas matrizes. A chula é a louvação de tudo isso.



O que é a Chula?

É um comportamento que foi traduzido em canção. Um canto de labor como a bata do milho, a bata do feijão. Um canto que rege o trabalho.



Você dedicou-se a escrever um livro sobre a chula pelo desejo de eternizá-la?

Não. O objetivo é chamar a atenção para o que é feito no Brasil. O objetivo é que outras encruzilhadas étnicas não se envergonhem de se mostrar. O objetivo é a preservação do sotaque do meu canto. Ou seja, é preservar e realçar o canto da minha nação, da minha tribo. É a proposta que sempre defendo que é a de arrumar a casa pra quem mora nela, não para receber visitas. Não significa que eu esteja fechado para outras modalidades de música que se fazem mundo.




Quais foram os parceiros neste projeto?

O livro foi feito em regime de parceria. Os autores sou eu e o Nizaldo Costa, este autor da letra de várias canções que constam no livro e autor do texto. As partituras foram feitas por Marcos Bezerra e as fotografias que ilustram e enriquecem o livro são de Marcelo Bruzzi.



Em outras entrevistas, você cita como inspiração Guimarães Rosa e Mario de Andrade. Por que essa identificação?

Porque o canto do Guimarães Rosa é exatamente a minha canção. Eu e Guimarães Rosa falamos a mesma língua, a língua do provinciano. Talvez seja isso que nos uma: eu canto o canto do provinciano e ele escreve na língua do capiau, do provinciano.



Como está composto o livro “Sotaque em Pauta – Chula: o canto do Recôncavo”?

O livro inicia-se com um texto do Nizaldo Costa em que ele aborda a trajetória da língua portuguesa, passando pelo tupinambá, africano até chegar à língua portuguesa imposta pelo colonizador. Traz também um estudo sobre versificação, em que se realça a influência das redondilhas camonianas na letra das chulas. Do livro constam ainda todas as letras das músicas que farão parte do meu próximo CD. Têm as fotografias de Marcelo Bruzzi, as partituras feitas por Marcos Bezerra. Tem ainda um DVD com show voz e violão e uma belíssima aula onde Marcos Bezerra passa de forma bem didática a minha técnica de tocar violão.



Por que distribuir gratuitamente o livro e DVD?

O trabalho teve o apoio e o patrocínio do Ministério da Cultura.



A Chula é única do Recôncavo Baiano e do norte de Portugal. Por que lançar primeiro o livro e DVD na região sudeste?

A nossa chula é aldeã portuguesa, com heranças fortíssimas do norte de Portugal. Mas, é no Recôncavo Baiano que a chula recebe um tempero especial. Amalgama-se ao tambor de Angola, dos bantus; ao samba de caboclo, antigo batuque. Pra preparar, pra prestar contas quando viéssemos pra cá. A idéia de ir a tribos diferentes serve apenas e exclusivamente para prestar contas a quem realmente devo: a gente da minha terra, as minhas matrizes: João do Boi, Alumínio, Dona Dalva e tantas outras.


Você está realizado pela repercussão do livro?


A minha realização vem quando a minha matriz respalda o trabalho. Fico feliz, tranquilo e realizado quando João do Boi, Alumínio, Dona Dalva e tantas outras matrizes respaldam e aprovam o meu trabalho. E nesse caso aconteceu. Para mim, isso basta, é suficiente. A opinião dos críticos, dos leitores me interessa, lógico. Fico feliz quando essas pessoas aprovam o resultado final do meu trabalho.


Os baianos e em especial os santoamarenses se orgulham de ter a Chula como obra prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade?

Sim, apenas a título de divulgação. É um título que inegavelmente valoriza a nossa canção. Mas, corre-se um grande risco quando se põe em evidência o canto de uma terra. Faz-se necessário um estudo e avaliação criteriosos. Faz-se necessário que se proceda a um rigoroso inventário, principalmente das obras do chamado “domínio público”. Cabe ao Estado fazer um sério inventário de paternidade dessas obras, a fim de que se descubram a verdadeira autoria e consequentemente estes seriam alcançados pela lei dos direitos autorais. Mas, nem sempre o Estado lida bem com esse tipo de questão. Nesse caso, não houve uma pesquisa rigorosa. O trabalho ficou sob uma visão exclusivamente acadêmica, o que é um imperdoável equívoco. É necessário um investimento maior em pesquisa. Quem sabe daqui a cem anos isso aconteça. O Brasil é um país muito novo pra investir em tese. Principalmente quando se trata de comportamento. É necessário maior cuidado.



Você se considera um “Chuleiro”?

Com um sorriso, digo que não. Quem me dera fosse um chuleiro. É um privilégio de poucos. Vontade tenho, Ave Maria... Mas, quando se estuda, fica-se contaminado por uma série de influências e já não dá pra voltar a ser chuleiro. Ser chuleiro é uma glória. Sou apenas um copiador como qualquer outro que tenta traduzir um comportamento de uma nação, de um povo.



Você tem músicas suas gravadas por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e tantos outros, mas como é compor para Maria Bethânia?

Tenho Bethânia como porta-voz do meu canto. Pela maneira como trata o autor; pelo rigor; pelo nível de exigência; pelo respeito que ela tem pelo compositor, pelo autor; pela responsabilidade com que ela trata a canção, a poesia. Comecei minha carreira errada, comecei do topo, ao invés de começar pela base: já comecei com Bethânia, queimei etapas.



Bethânia é muito exigente?

Sim. Muito exigente. Tudo que ela faz, faz com a alma com o coração. Daí, não ter como não ser exigente.


Que outros estilos de música aprecia?

Todos. Eu gosto de música. Claro que a minha preferência é a Chula. A chula é diferente. Faço chula com muito rigor, porque tenho de prestar contas às matrizes. Com quem eu aprendi a gostar e a tocar.



O que acha do estilo de música que alguns jovens ouvem hoje?

É muito difícil definir estilo. Hoje não se tem clave. No mundo de hoje já não se tem estilo. Estilo é uma imposição da mídia. A mídia é quem impõe o gosto às pessoas. Os jovens ficam reféns dessa imposição da mídia. É a mídia que dita: é a ditadura do gosto.



Algum projeto novo em mente?

Divulgar a chula sempre. O xaréu é um tipo de chula praieira, um canto praieiro. Trata-se de uma adaptação da viola de seu Vicente de Paula na década de 1970, de Tavinho e Frade, dois irmãos que moravam um em Iguape e outro em Itapema, pertinho de Santo Amaro. Estou preparando um CD só de Xaréu.





Discografia: Flama (1988), Matriz (1992), Roberto Mendes & Baianos Luz (1994), Voz Guia (1996), Minha História (1999), Tradução (2000), Flor da Memória (2003) e Tempos Quase Modernos (2005).