6 de jun. de 2011

Os sonhos e a luta de uma futura jornalista


Por Matheus Alves

Estudante de Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, quinto período, vinte e três anos e aracajuana de nascença. Essa é Agatha Cristie, ou como é conhecida pelo integrantes do movimento estudantil da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Agatinha. Coordenadora Nacional da Enecos, a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação, milita fortemente por uma qualidade melhor para a formação do comunicador, e é figura marcante no cenário da comunicação na universidade.

Contexto Repórter – Quando você decidiu que queria fazer jornalismo?
Jornalismo, eu desde sempre gostei. É engraçado que toda vez quando se vai falar sobre a escolha de jornalismo, todo mundo fala que é porque tem aptidão para escrita, ou porque queria ser Fátima Bernardes ou William Bonner (risos), porque tem um deslumbre pera área, como toda mídia e tal. E acho é um pouco de tudo isso no começo, mas as coisas mudaram.

CR – Como você vê a situação atual da profissão?
Da profissão. É difícil falar da profissão como um todo. Acho que da pra falar que o jornalista hoje como uma peça fundamental dentro do que a gente tem como construção de sociedade. O trabalho do jornalista, basicamente trabalhar com informações, mas informações que não são soltas do conjunto da sociedade, que portanto trabalha também como mediação de conflitos de ideologias, acho que é uma profissão importante, que o mercado tem sido difícil fora do eixo, falando um pouco daqui de Sergipe, é difícil atuar na área da comunicação. Um ramo que tem crescido muito por aqui, é a assessoria de comunicação, que a gente não pode trabalhar na perspectiva de trabalho jornalístico, né? Então a gente tem uma dificuldade muito grande. A concentração da mídia é muito forte, o que dificulta também essa inserção no mercado de trabalho, tendo em vista os jornais, a TV e a rádio, todas comerciais e na mão de poucos, dificulta assim a abertura.

CR – Isso de alguma forma mudou sua forma de pensar, sonhos, desejos...?
Acho que sim, o curso tem uma coisa bem legal, do curso de comunicação, é que a gente tem contato com alguns teóricos e algumas coisas que abrangem assim, vão além do jornalismo, da própria técnica de fazer jornalistico. Então, é a partir dessas leituras, a gente consegue ter uma noção da sociedade, como ela funciona. E dai tudo isso... é claro que constrói um novo ser dentro da gente. Até mesmo na perspectiva que estamos aqui buscando novas formas de conhecimentos, novas formas de saber. A universidade permite tudo isso. E dai que o curso de comunicação me permitiu fazer uma leitura mais da realidade me permitiu me preocupar mais com a sociedade como um todo, sair do jornalismo clichê que é meramente fazer a informação, e pensar sempre na totalidade. Uma coisa bem ruim do jornalismo é que, a gente se fecha muito na informação e a informação fica solta, como se ela não fizesse parte de um contexto histórico. Então acho que o curso de comunicação permitiu isso em mim, fazer inclusive uma leitura mais critica de como tem sido a prática jornalística.

CR – Foi isso que te motivou a participar de movimentos estudantis?
Sim, sim. Com certeza. Eu hoje sou coordenadora nacional da Enecos, que é a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação, também sou militante do movimento estudantil geral, milito no coletivo nacional que se chama, Barricadas Abrem Caminhos. E dai o movimento estudantil é uma vivência muito importante na universidade. Acho que com um pouco de ousadia, da para dizer que substitui algumas salas de aula, então dentro dessa percepção e compreensão da sociedade, muito da leitura crítica também vem através do movimento estudantil, da participação, da organização. Então acho que é uma vivência e um momento importante. Se toda juventude, todo mundo que entra na universidade, tivesse uma vivência minima, pelo menos do centro, do diretório acadêmico, acho que a formação, inclusive a profissional seria melhor.

CR – Quando começou sua participação?
Foi assim que entrei. É engraçado essa história (risos) porque assim que eu entrei, na primeira semana nós fomos recebidos pelos veteranos, e dai eles fizeram para gente uma semana, uma recepção e dai foi uma semana de programação com vários debates, sobre a democratização da comunicação, a qualidade de formação do comunicador, alguns temas mais atuais, e apresentou o movimento estudantil. E ai assim, no último dia, sexta-feira, eu cheguei para os meninos, na época eram Doug e Pedrão, e perguntei se eu podia 'colar' nas reuniões do DACs (Diretório Acadêmico de Comunicação Social) e depois disso só foi aumentando a participação nos encontros, a participação nos grupos do movimento estudantil e hoje aqui, nessa ocupação.

CR – Você agora está no quinto período. Como você analisa o perfil dos novos estudantes da comunicação? Difere de quando você entrou?
Ah, sim, sim! Difere bastante. É uma leitura que a gente tem feito, inclusive no diretório acadêmico, pra ver como é que a gente vai fazer a nossa comunicação com os próprios estudantes, a comunicação do diretório. A UFS passou por um processo de reestruturação, através da reforma universitária, que foi implantada em 2008 se não me engano, e dai com ela também veio a adesão às cotas. Então acho que se não me engano, o curso de Comunicação hoje está no segundo ano de aplicação das cotas, e dai a gente percebe sim, uma mudança significativa no perfil dos estudantes. Estudantes que inclusive precisam de uma maior assistência estudantil, restaurar a alimentação no restaurante universitário, dos livros, a gente gasta muito dinheiro com 'xerox', então são pessoas que vieram oriundas de escolas estaduais, municipais, que são pessoas que tem um perfil econômico baixo, são pessoas que precisam mais do que nunca dessa assistência estudantil e que de uma certa forma muda sim, o curso de comunicação era uma galera mais classe média alta, então tem mudado a partir da implementação das cotas.

CR – Quais as principais dificuldades que você encontrou na sua formação?
Vixe, principais? Eu diria que... então. Rapaz a gente tem duas coisas né, uma é a questão da formação, não sei se poderia dizer técnica, não sei se seria técnica a palavra. Das necessidade na formação que é corpo docente, equipamentos, estruturas, então esses dai é um dos empasses que a gente tem encontrado para a qualidade na nossa formação e a outra é uma discussão mais ideológica, mais a própria grade curricular do curso, como é pensada e montado os cursos de comunicação. Então a gente tem um curso hoje, que o privilégio é total da técnica. Aqui no caso da UFS é uma contradição gigantesca, porque ao mesmo tempo que você tem um currículo que é voltado pra técnica, você não tem os equipamentos para experimentar as técnicas que é passado na sala de aula. Então é uma contradição gigantesca. E tem a questão da exclusão das disciplinas que pensam a sociedade, sociologia, psicologia, economia política da comunicação, essas disciplinas não tem sido colocado pra gente dentro da sala de aula. Então é uma outra discussão. A gente pode ter dois âmbitos de discussão do que significa qualidade de formação. A primeira é as necessidades básicas, professores, equipamentos, laboratórios, estruturas e a outra é a questão do currículo do curso de comunicação.

CR – Como e quais os principais fatos da sociedade contemporânea, que o curso de comunicação te permitiu enxergar e que antes te passavam despercebidos?
Principalmente a relação do poder. A relação do poder político e poder econômico, a gente costuma achar que tudo está alheio a política, e costuma inclusive, a ter aversão a política, então participar de política que, não é necessariamente políticos profissionais, não é necessariamente está nessa vida, nessa, como é que posso dizer, estar por dentro dessa movimentação dos políticos profissionais. Não é só isso uma vida política. Então, perceber essa relação entre o poder político e o poder econômico, acho que é uma das coisas que mudou.

CR – A UFS atualmente está vivenciando um momento marcante na história do curso de Comunicação, a ocupação da reitoria. Como você encara as ações dos estudantes?
É. Realmente é um momento impar para o curso de comunicação e até traz umas surpresas. Eu estou no diretório acadêmico já ha três anos e sempre estamos nesse processo de mobilização e ficávamos até um pouco desanimado porque sentia um pouco a patia das pessoas do curso também. Passávamos em sala era sempre uma reclamação porque estávamos passando em sala, as pessoas não gostavam, não apareciam em massa nos debates. Mas dai também com que a gente foi fazendo esse trabalho continuado através do diretório e dai a medida que as contradições do curso foram se acirrando, o processo foi mais aligeirado. E é engraçado observar isso agora, nesse movimento de ocupação, porque a adesão dos estudantes à ocupação e o posicionamento favorável a ocupação é muito grande. É um elemento bem surpresa pra gente, a gente não imaginava, contava com isso, mas não imaginava que acontecesse de fato. E é muito importante porque ao mesmo tempo a gente tido um nível de participação, inclusive na produção muito grande. Então, os estudantes de comunicação que tem vindo pra cá hoje, ocupar a reitoria, tem produzido vídeo, tem feito texto, tem tirado foto, tem passado em sala para chamar outros estudantes de comunicação para aderirem a ocupação pra vir conhecer, tem sido muito bom contar com o apoio de todo mundo nesse momento.

CR – Como você se vê daqui a cinco anos? Profissionalmente falando.
Quando eu formo...(risos) Provavelmente eu me formo próximo ano. Daqui a cinco anos, acho que quero emendar no mestrado. Ainda não decidi a área do mestrado, mas provavelmente é alguma coisa relacionado a educação. Quero dar aula! A minha intenção é fazer doutorado e dar aula no curso de comunicação. Eu acho que a gente precisa de uma linha mais crítica na comunicação na acadêmia (risos). Essa é a minha vontade. E... Assim, eu quero ter a vivência de uma redação, mas eu não quero que isso seja a coisa que eu dependa pra sobreviver, por exemplo, eu não quero ter que trabalhar em uma redação loucamente para pagar minhas contas, meu objetivo maior é dar aula na universidade, ser professora da universidade, mas eu quero ter a vivência da redação, até para eu poder ter uma certa autoridade de falar, falam dentro da sala de aula, que a gente tem que ter uma prática imparcial e quando a gente chega no mercado de trabalho a gente vê que a imparcialidade lá não existe e que o direito de imprensa é na verdade um direito empresa.

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