3 de mai. de 2011

Do princípio ao fim
1º Festival de Cinema Universitário de Sergipe (Sercine) teve pouco público mas muitas atividades

Por Isabelle Marques

Deveria ter sido um encontro de jovens “amantes da sétima arte”, mas poucas pessoas além dos organizadores e convidados prestigiaram a abertura do 1º Festival de Cinema Universitário de Sergipe (Sercine), na noite da última quinta-feira, 28 de abril, no Centro de Criatividade de Aracaju. O evento de estreia da Rolimã Filmes, uma produtora independente formada por estudantes da área de comunicação, tem como objetivo discutir a realidade do curta-metragem contemporâneo brasileiro e criar um cenário de produção cinematográfica universitária em Sergipe, que já conta com espaços de capacitação profissional como a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e o Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPD-OV).

Com mais de uma hora de atraso, o coordenador do evento, Baruch Blumberg, apresentou a proposta do Festival como uma busca de troca de experiências entre cineastas sergipanos e profissionais de outros estados. “O evento é algo simbólico, representa o pontapé inicial para trazer outros realizadores e os curtas que eles realizaram, e mostrar aos estudantes que não há nada de anormal em produzir aquilo”. Ainda de acordo com o coordenador, esse tipo de realização também contribui para o aumento da qualidade do cinema sergipano. “Trazer pessoas de fora para dar oficinas é trazer outra realidade para dentro de Sergipe, outro contexto, outra maneira de fazer audiovisual, trazer outro pensamento de cinema”, finalizou. Em seguida, foram exibidos cinco curtas-metragens já premiados: Haruo Ohara; Muro; Recife Frio; O Quinto Postulado e Do Outro Lado do Rio (ver abaixo).

Programação e convidados

A programação do Festival – que só foi divulgada na véspera do seu início – inclui a exibição de curtas-metragens, mesas redondas, oficinas e mostras competitivas. Doze curtas, sendo dois sergipanos, estão na disputa. Ao final do evento, duas produções serão escolhidas através de votação do júri oficial e do júri popular, e os vencedores receberão um prêmio no valor de mil reais.

Entre os convidados, dois integrantes do Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina (Kinoarte), uma associação cultural sem fins lucrativos que atua na produção, exibição e realização de projetos de formação audiovisual, localizada em Londrina (PR), prestigiaram o evento. Para o diretor de arte Felipe Augusto, o Festival de Cinema Universitário cria a possibilidade de discussão nesse circuito de curta-metragem consideravelmente recente no Brasil. “Essas pessoas vêm com bagagem cultural diferente e constroem um olhar mais diversificado aqui na região”, disse.

Já o produtor Bruno Gehring, vencedor do prêmio de melhor curta-metragem em Gramado 2010, considera o momento propício para realizar eventos como esse, já que a qualidade do cinema universitário tem melhorado muito nos últimos anos. Ele atribui essas melhorias ao aumento dos cursos de formação em audiovisual. “Agora está um ‘boom’, uma explosão de cursos de graduação, pós-graduação e curso sequencial em todos os estados. É na universidade que quem produz cinema pode se expressar mais, com mais liberdade; a linguagem do cinema evolui e é mais uma janela de exibição”, afirmou o produtor.

O 1º Festival de Cinema Universitário de Sergipe segue até domingo, 1º de maio, e conta com o apoio do Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira/Programa Olhar Brasil e com o apoio da Fundação de Cultura, Esporte e Lazer (Funcaju), do SESC, da Secretaria de Cultura do Estado de Sergipe, Instituto Recriando, Sociedade Semear, Instituto Kipá, Fundação Aperipê, Departamento de Comunicação Social da UFS, Conselho Nacional dos Cineclubes e da seção estadual da Associação Brasileira  de Documentaristas e Curta-metragistas (ABD/SE).

 CURTAS EXIBIDOS NA ABERTURA:
  • Haruo Ohara- dirigido por Rodrigo Grota e produzido por Bruno Gehring, da Kinoarte, o filme mostra a vida e obra do agricultor e fotógrafo japonês Haruo Ohara, que ao longo de cinqüenta anos produziu cerca de 20 mil fotos de Londrina e região. Vencedor dos prêmios de melhor filme e melhor diretor da categoria no Festival de Gramado em 2010.
  • Muro - dirigido por Tião, pseudônimo do pernambucano Bruno Bezerra, o curta, que recebeu o prêmio “Regard Neuf" (Novo Olhar) no Festival de Cannes, trata do progresso tecnológico e do atraso social.
  • Recife Frio - dirigido por Kléber Mendonça Filho, é um dos filmes pernambucanos mais premiados. Conquistou os principais prêmios do Festival de Brasília, em 2009, e participou de importantes festivais na França, Holanda e Portugal. O curta foi concebido como uma ficção científica que retrata os vários acontecimentos que teriam levado ao esfriamento da cidade de Recife, ao ponto de perder seu clima tropical.
  • O Quinto Postulado - dirigido por Rodrigo Grota, foi exibido em diversos festivais do país e recebeu o prêmio de melhor fotografia no Festival Latino-americano de Curta- metragem no Ceará.
  • Do outro lado do rio - uma das mais interessantes realizações do núcleo de produção Digital Orlando Vieira, conta a história de um pescador embrutecido pelas circunstâncias da vida e retrata o dia a dia com sua filha, uma menina tímida e cheia de sonhos. A produção foi realizada no final do ano passado, em Aracaju e Barra dos Coqueiros, sob a orientação da equipe do Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina - Kinoarte.