Mostras

Mostra informativa
Figurinhas carimbadas
Mudança repentina na programação por problemas técnicos decepciona os poucos espectadores

Por Thaís Guedes e Cleanderson Santana

Na tarde da última sexta-feira (29/04) foi realizada, no Centro de Criatividade de Aracaju, a primeira mostra informativa de curtas universitários, como parte da programação do 1° Festival de Cinema Universitário de Sergipe, o Sercine. Porém, as dez pessoas que decidiram prestigiar a mostra tiveram uma surpresa, depois de uma odisseia para descobrir onde os filmes seriam exibidos: no lugar dos cinco curtas inscritos mas não classificados para a mostra competitiva, seriam apresentados outros cinco, todos premiados em antigos festivais: O Lençol Branco, Produto Descartável, Veludo e Cacos de Vidro, Velha História e Um Sol Alaranjado.

Procurada para esclarecer o motivo da mudança repentina, Cris Matos, integrante da organização do evento, explicou que houve um problema com os arquivos de alguns curtas e que por isso os coordenadores do Sercine não acharam justo exibir alguns e deixar outros de fora. E como não poderiam mais pedir para que os diretores mandassem novas cópias, devido ao tempo curto e os gastos que estes teriam, optaram por exibir cinco curtas nacionais que fazem parte do acervo do NPD – o Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira.

Os curtas originalmente previstos na programação eram: Manchete de Jornal (de Gibran Khalil e Lucas Simões), Dédalo (de Sônia Procópio), Artifícios e Acasos (de Lucas Simões), Lugar Algum (de Raoni Reis) e O Ataque dos Zumbis Dançarinos II (de Ingrid dos Santos).

Alguns premiados

Entre os que foram exibidos, O Lençol Branco, de Juliana Rojas e Marco Dutra, é o mais recente. Participou da mostra Cinéfondation do Festival de Cannes em 2005 e retrata a história de uma mulher jovem que acabara de ser mãe. Sem marido e ainda morando com seus pais, ela não consegue superar a dor da perda de seu filho, que morreu em seus braços. Durante a espera do IML – Instituto Médico Legal – ela, visivelmente sob efeito de remédios, pega o corpo do bebê, tranca-se em um quarto e, após muito suspense, deixa o cômodo com um lençol branco enrolado, cujo conteúdo só é revelado ao final do filme.

Já Velha História (2004), uma animação dirigida por Claudia Jouvin que tem Marco Nanini como narrador, é uma adaptação do poema de Mário Quintana que fala de uma amizade comovente, por sua delicadeza e profundidade. Após capturar um peixe, o pescador tem para com ele um gesto de afeto, o que cativa o animalzinho, contribuindo para que nasça uma inesperada amizade entre eles. O curta utiliza a técnica de animação com massinhas, captando a essência do poema.

Com direção de Flávia Rea e Rafael Primo, Produto Descartável (2003) conta a história fictícia de dois vizinhos que sentem uma forte atração mútua, porém, no decorrer da história acabam tendo de enfrentar os estereótipos que criaram para si mesmos. Uma comédia urbana, onde os personagens entram em conflito com o que pensam e o que realmente são, posicionando-se como produtos descartáveis. Dentre os vários prêmios conquistados, ganhou o Kikito de melhor atriz no 31º Festival de Gramado pela bela atuação da “global” Bárbara Paz.

Veludo e Cacos de Vidro (2004), de Marco Martins, é um filme em preto e branco que mostra o encontro de duas pessoas no final da década de 1980, em busca de satisfazer os seus prazeres sexuais. Também em preto e branco, Um Sol Alaranjado, de Eduardo Valente, mostra o cotidiano entediante de uma mulher que dedica toda sua vida a cuidar do seu pai, e continua a fazê-lo mesmo após sua morte, dando banho, levando comida para ele, colocando-o para assistir TV. As únicas falas do filme - premiado como o Melhor Curta no Festival Internacional de Cannes 2002 - são quando o pai, que está na sala assistindo TV, chama pelo nome da filha, que está na cozinha, e morre em seguida.



Competitiva de Curtas Universitários
Enfim, o público apareceu
Primeira rodada teve três documentários e três filmes de ficção

Por Iargo Souza, Leandro Calado e Luiza Cazumbá 
Foto de Lenaldo Severiano

A Mostra Competitiva de Curtas Universitários - principal atividade do 1° Festival de Cinema Universitário de Sergipe (Sercine) - aconteceu nas noites dos dias 29 e 30 de abril, no Centro de Criatividade Aracaju, trazendo para Sergipe produções de diferentes universidades do país. Dos quase 50 inscritos, foram selecionados doze curtas-metragens para a disputa do prêmio de mil reais.

Na primeira noite – que começou com uma hora e meia de atraso, devido a problemas técnicos –, foram apresentados: Poliamor (de José Agripino, SP); Lula em cortes (de Marcos Santos, PE); Lembranças (de Marlon Delano, SE); Camélia (de Marcela Goellner, PR); Aurora (de Marcos Yoshisaki e Miguel Antunes, SP); e Retratos (de Léo Tabosa e Rafael Negrão, PE). Na segunda, foi a vez de Se Tua Rua Fosse Minha (de Carolina Vasconcelos e Gabriel Maranhão, PE); Mais ou Menos (de Alexander Siqueira, SC); O Campo da Menina (de Marlon Delano, SE); Nascido Rei (de Annyela Rocha, PE); Duas Vidas para Antônio Espinosa (de Caio D’Andrea, SP); e Circuito Interno (de Júlio Marti, SP).

O comitê que selecionou os filmes não seguiu ao pé da letra a Instrução Normativa 22 da Ancine - Agência Nacional de Cinema, que define curta-metragem pela duração de até 15 minutos. Retratos, por exemplo, possui 17 minutos e 27 segundos. O concorrente mais curto foi Lembranças, com pouco mais de 5 minutos. Prestigiaram a primeira noite da competição os realizadores Marcos Santos, de Pernambuco, Marcos Vinícius Yoshisaky, de São Paulo, e Marlon Delano, de Sergipe. Três ficções e três documentários, exibidos de forma alternada, abriram a mostra.

Documentários

Gênero cinematográfico que explora acontecimentos da vida real, o documentário é um desafio para a curta-metragem. Que o digam os diretores que o adotaram nas produções exibidas na primeira noite da mostra competitiva de cinema universitário do Sercine.

O primeiro representante do gênero foi o curta Poliamor, dirigido por José Agripino, estudante do Senac de São Paulo. Com duração de 15 minutos, relata a vida de três casais que, mesmo vivendo em uma sociedade de caráter monogâmico, opta pelo poliamor – amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Eles mostram a forma como se descobriram, os preconceitos que enfrentam e suas dores. “Eu não deveria sofrer por amor”, desabafa uma das entrevistadas.

O segundo foi Lula em Cortes, do diretor Marcos Santos, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com cerca de dez minutos de duração, que revela a vida excêntrica e cheia de experiências do artista pernambucano Lula Cortês. O próprio artista conduz a narrativa sobre sua vida, contando como já era hiperativo na infância, as suas vontades ainda não realizadas e sua paixão pela natureza. “Eu tenho o sonho de gravar, de compor, de criar em algum lugar onde não exista interferência humana. Somente eu e a natureza”. Lula lançou o primeiro álbum de música independente no Brasil e foi um grande representante do movimento “udigrudi”.

O último curta-documentário da noite foi Retratos, dirigido pela parceria entre Leo Tabosa e Rafael Negrão, ambos da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Durante os pouco mais de 17 minutos de filme, 12 travestis falam das suas experiências no processo de transformação de homem para mulher. O curta recebe esse nome porque, em certo momento, os travestis mostram as fotos de quando ainda se portavam como homem e comentam sobre o que os motivou a se transformar em mulher. Entre eles(as), uma enfermeira graduada pela UFPE, uma estudante de Educação Física da mesma universidade, uma vendedora, uma dona de casa e uma dona de pensão, que provocou bastante risos na plateia com o jeito bem-humorado com que leva a vida.

O curta encanta pela naturalidade e descontração com que trata temas delicados como religião e preconceito, e pela forma como aborda a vida pessoal e profissional de cada travesti. Teve uma ótima recepção do público presente e acabou levando o prêmio do júri popular na Mostra Competitiva de Cinema Universitário promovida pelo Sercine.

Presença sergipana na ficção

Um dos curtas de ficção exibidos na mostra competitiva nasceu de um exercício de aula realizado por Marcos Yoshisaki e Miguel Antunes durante o terceiro ano de Cinema na USP, em 2009. O projeto que resultou em Aurora foi dividido em dois semestres: no primeiro, o roteiro teria que ser elaborado com no máximo três personagens e apenas uma locação; no segundo, viria a produção e realização. No ano seguinte, o filme já estreou no Festival Internacional de Curtas de São Paulo.

Já as produções de Marlon Delano – único representante sergipano na Mostra Competitiva e também o único a concorrer com dois filmes, Lembranças e O campo da Menina – costumam ter um caráter mais experimental. “Ele produz muita coisa legal”, elogiou Baruch Blumberg, um dos organizadores do Festival, lembrando de como o jovem cineasta começou a fazer filmes. “Ele pegava uma camerazinha do colega e produzia curtas lá em Itabaiana, e era bacana. Os curtas não eram um primor artístico e estético, mas é nessa vontade de fazer e ir fazendo que a qualidade melhora”, avalia.

Lembranças, gravado no sítio de sua avó, na cidade de Itabaiana, mostra uma senhora (a própria avó) caminhando pela casa enquanto relembra fatos de sua juventude. Essas lembranças são evidenciadas através dos sons que permeiam as cenas (como choro de bebê e vozes de crianças brincando). Embalado pelas rabecas do músico cearense Di Freitas, o curta-metragem de pouco mais de cinco minutos tem uma estética simples e envolvente. “A princípio eu iria fazer na época de São João, com cenas do passado e do presente, só que acabou não rolando porque passou o São João e eu também não tinha recursos pra gravar em outro lugar. Então, acabei substituindo as lembranças que seriam em imagens por sons. Ela caminha pela casa, vai ouvindo os sons antigos e lembrando das coisas”, explicou o estudante de Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe.

O processo de produção “caseiro” de Lembranças foi semelhante ao utilizado em O Campo da Menina. “Este eu fiz há uns três meses. Foi lá no sítio da minha avó também, porque o sítio é muito grande e tem umas áreas que são bem surreais. Eu estava querendo fazer um curta experimental, uma coisa nova, viajar mesmo numa coisa mais poética. Aí usei minhas duas irmãs”, relatou Marlon Delano. O curta de cerca de sete minutos surpreende com belos quadros de paisagens, e consegue passar inocência e suspense usando como trilha sonora a Bacarolle, do compositor russo Piotr Ilitch Tchaikovsky, e aproximando a câmera dos objetos. “É a visão de uma criancinha sobre a morte; ela não tem noção de quão perigoso é a morte. Então, ela brinca com a morte, e cada elemento que é mostrado no filme representa o sofrimento, a tristeza, o choro, a dor”, contou o diretor.

Mesmo não tendo levado nenhum prêmio, Delano parecia satisfeito: “Eu inscrevi três filmes e dois acabaram entrando. Aí eu pensei, por que os dois entraram? Só tinha eu de sergipano e entraram dois filmes. Mas acho que o pessoal gostou mesmo, até porque um é bem diferente do outro, um é mais som e o outro é um curta experimental”, avaliou.

Ausência sentida

Estudante de Audiovisual da UFS, Marlon Delano é um ótimo exemplo de que Sergipe, mesmo com todas as dificuldades, tem potencial para produzir cinema de qualidade. Mas ele engrossa o coro da decepção com o grande número de cadeiras vazias nos auditórios, na maioria das atividades do Sercine: “Houve uma divulgação do Festival, mas eu acho que há falta interesse dos próprios alunos. Poxa, acontece um evento de audiovisual e os alunos do curso não vêm?” - questionou, chateado. Marcos Yoshisaki, da ECA-USP – uma das mais antigas escolas de cinema do país –, também estranhou essa ausência: “Senti falta dos estudantes de audiovisual. Não entendo como um festival universitário aqui não tem a disponibilidade da universidade, ou mesmo das pessoas do curso”.

Ainda assim, Delano concorda que iniciativas como esta é que estão permitindo que, aos poucos, o audiovisual do estado crie bases sólidas para tornar-se um polo de produção em cinema no Nordeste e no Brasil: “É muito importante meus estarem sendo exibidos para o pessoal ver que aqui também a coisa está começando a fluir. Até porque filme tem que ser feito pra ser exibido e não pra ficar na gaveta”, finalizou.

Mas não foi apenas o suposto desinteresse dos alunos da UFS que contribuiu para o esvaziamento do Sercine. A pouca divulgação e a escolha dos locais também foram apontados como fatores de desestímulo por alguns participantes, como Marcos Santos, diretor do curta Lula em Cortes, de Pernambuco: “Cheguei ontem aqui em Aracaju e, conversando com amigos, percebi que eles não tinham ideia do Festival.” Apesar de tudo isso, a Mostra Competitiva foi uma das mais concorridas do Festival, chegando a atrair cerca de 40 pessoas.

Segunda rodada animou a plateia

Por Bárbara Costa Idalino da Silva

Aplausos. Este foi o som mais ouvido durante o segundo dia da Mostra Competitiva de Curtas Universitários do 1° Festival de Cinema Universitário de Sergipe (Sercine). A mostra aconteceu na noite de 30 de abril, sábado, no Centro de Criatividade de Aracaju. Apesar da chuva constante, o público não desanimou e a sala Professora Cândida Ribeiro estava quase lotada quanda a sessão começou, às 20 horas, uma hora além do previsto. As luzes se apagaram, as conversas cessaram e, antes da tão esperada mostra, foi apresentado o Cine Jornal, resultado de uma oficina do Sercine em conjunto com o Instituto Recriando, na qual jovens fizeram a cobertura do evento, mostrando assim que o Festival estava em movimento.

Logo depois, entrou na tela o primeiro curta, Se Tua Rua Fosse Minha, um documentário sobre os artistas de rua dirigido por Carolina Vasconcelos e Gabriel Maranhão, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os realizadores acompanharam o dia-a-dia de três artistas de rua da cidade de Recife, mostrando as dificuldades e preconceitos sofridos por eles, como chegaram aonde estão, e por que decidiram fazer o que fazem. Apesar de ter mostrado apenas três, o filme foi dedicado a todos os artistas de rua.

Surpreendendo o público

O segundo filme da noite foi Circuito Interno, de Júlio Marti, FAAP, São Paulo. O curta tem como protagonista Elias, um boliviano que trabalha em uma oficina de costura em São Paulo e que está sendo pressionado pelos colegas a levar seu sobrinho para ser batizado. Durante o filme os espectadores notam a condição desses bolivianos, que trabalham e vivem quase em regime de escravidão. Em certa parte do filme, por exemplo, Elias vê em uma vitrine uma blusa que ele e seus colegas confeccionaram por R$ 5,00 e que estava sendo vendida por R$ 49,40. O curta é um crítica à realidade da indústria têxtil brasileira e como ela explora a mão-de-obra boliviana.

Logo após, veio Mais ou Menos, de Alexander Siqueira, da Unisul, de Santa Catarina, que conta a história de dois adolescentes, Ivo e Sandro. O primeiro é o típico garoto tímido deslocado que sofre bullying do valentão. Sandro gosta de importunar Ivo, chamando-o de “bichinha” e o atacando de várias formas. Aos poucos, a narrativa vai mostrando que às vezes há mais coisas por trás de certos atos, como o bullying, do que se imagina. O filme foi feito de forma leve e divertida, e teve um final surpreendente, que até levou um dos espectadores a exclamar “Nossa!”. Ele já foi exibido em festivais na Inglaterra e Itália, e premiado nas categorias “Melhor Vídeo”, “Melhor Filme do Júri Popular” e “Melhor Ator” (Gringo Starr, interpretando o Pai de Sandro) no 3º Fita Crepe de Ouro, da Unisul.

Morte e renascimento

O quarto filme da noite foi O Campo da Menina, de Marlon Delano, aluno do 5º período de Audiovisual da UFS e único representante sergipano na Mostra Competitiva do Sercine. A história mostra a visão que uma criança tem da morte e recebeu muitos aplausos e comentários do público. O estudante foi também o único a concorrer com dois filmes, ambos de ficção. Lembranças foi mostrado na noite de sexta.

Annyela Rocha, da UFPE, dirigiu o quinto filme da noite de sábado, Nascido Rei, no qual um garoto e uma garota se encontram na chuva, conversam e, nesse pouco tempo em que estiveram juntos, se apaixonam. O garoto se chama Renato, que significa renascido. Com uma lógica só dela, a garota decide que para viverem seu amor ele terá que renascer, e toma uma decisão inesperada.

Para finalizar a mostra, Duas Vidas para Antonio Espinosa, de Caio D’Andrea e Rodrigo Fonseca, da FAAP, São Paulo. Em estilo faroeste recheado de suspense e flashbacks, o curta conta a história de dois irmãos, Alberto e Toninho, utilizando tradicionais recursos de mocinho, bandido, índio e situações de perigo dos antigos filmes do gênero. Em entrevista, o diretor Rodrigo Fonseca contou que a ideia do curta surgiu quando ele e Caio D’Andrea precisavam de um tema para o trabalho de conclusão de curso. Como sempre gostaram de faroeste, e no Brasil este não é um tipo de filme comum, resolveram tentar. Houve uma votação dos temas dos alunos que iriam se apresentar. “Achamos que não íamos passar, mas a votação foi quase unânime”, contou Rodrigo. Enquanto ele torcia pelo seu filme em Aracaju, seu coração viajava para os Estados Unidos, onde “Duas Vidas” também estava participando de uma mostra competitiva.

Júri e voto popular

Conforme os curtas iam sendo exibidos, os espectadores riam, ficavam com olhares fixos e, é claro, aplaudiam. Circuito Interno (de Júlio Marti, SP), que já havia recebido o “Prêmio Especial do Júri” do Festival do Audiovisual de Pernambuco (CinePE 2010) e o de “Melhor Roteiro” no Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades, foi escolhido o Melhor Filme pelo júri do Sercine, composto por cinco profissionais do audiovisual.

Mas nem sempre críticos e público andam juntos. Ana Clara de Moraes Santos, que participou da produção de Xandrilá, que seria exibido na Mostra Sergipe de Cinema, foi prestigiar os curtas da Mostra Competitiva e não hesitou ao responder qual filme preferiu: Mais ou Menos, do catarinense Alexander Siqueira. Este foi o curta mais aplaudido da segunda noite de competição, junto com um coro de “Uhul”. Ainda assim, Retratos (de Léo Tabosa e Rafael Negrão), exibido na véspera, saiu vencedor pelo voto popular.

Mostra Sergipe de Cinema
Um pouco da produção local recente

Por Eduardo Ferreira Santos*

Revelar aos participantes de outros estados um pouco da produção cinematográfica sergipana recente foi o objetivo dos organizadores do Sercine ao programarem a Mostra Sergipe de Cinema como “preliminar” da mostra competitiva de curtas universitários, no sábado, 30 de abril, no Centro de Criatividade de Aracaju. Inicialmente estavam previstos oito filmes, mas apenas seis foram exibidos, em virtude do atraso no início da programação.

O primeiro curta a ser projetado foi Cacuete - A Incrível Performance de Crendices (2010), com direção de Marcelo Roque, que acompanha a trajetória da montagem do espetáculo teatral Cacuete, a partir da experiência laboratorial dos atores em uma casa na praia paradisíaca. O curta faz um recorte das performances alternativas de uma companhia teatral bastante peculiar. Os artistas dançam com roupas azuis ao som de músicas instrumentais, do vento e das ondas, cultuando o mar. Vale ressaltar que a produção na integra contém 15 minutos de duração, mas apenas os 5 minutos iniciais foram exibidos. No ano passado Cacuete concorreu na categoria Vídeo Sergipano do Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe, o Curta-SE.

Cômico e dramático

O segundo filme exibido foi A Parede (2007), um ‘curta verossímil’ dirigido pela cineasta e atual coordenadora do Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira, Graziele Ferreira. A história é   encenada em um estúdio divido em dois ambientes por um tapume, simulando dois apartamentos, separados por uma parede fina. De um lado, reside uma idosa, do outro, um casal vivaz sexualmente, que faz uma incessante balbúrdia noturna. Sentindo-se incomodada com a situação recorrente, a senhora resolve revidar utilizando os mais inusitados meios, inclusive uma máquina de lavar barulhenta, situada junto à tal parede. Ao longo da trama, os dois lados travam um ‘embate sonoro’, buscando meios para incomodar um ao outro. A obra faz uma analogia cômica não só entre as difíceis relações cotidianas entre vizinhos, mas também entre as relações sociais em si.

A terceira obra da noite, intitulada Sensacional’’(2007), dirigida por Deborah Fernandes, é um ‘curta inverossímil’ e também cômico, que gira em torno de um diálogo entre Ulisses, um advogado prepotente e egoísta, com a “morte’’, que é representada na figura de um homem sádico e impositivo. Na conversa que se desenrola no escritório de Ulisses, a “morte’’ relata sorridente seu novo método, que consiste na criação de um cartão magnético que estipula um prazo de vida exato para todos os seres humanos. Por esse método, o advogado só teria 1 mês e 2 dias de vida, o que o leva ao desespero. Contudo, Ulisses tem uma conversa com seu assessor jurídico, Guilherme, que lhe dá uma ideia para tentar ludibriar a morte... Sensacional também concorreu na categoria Vídeo Sergipano do Curta-SE, em 2009.

Vidas introspectivas

Único documentário da Mostra, o quarto curta-metragem exibido é uma produção de 2008, dirigida por Fábio Rogério, que retrata uma característica peculiar de Ivan Valença, um dos fundadores do Jornal da Cidade (de Aracaju) e ex-presidente da Funcaju. Jornalista e cinéfilo, Ivan há mais de 50 anos arquiva recortes sobre as mais variadas obras cinematográficas. Em 15 minutos, Arquivo de Ivan mostra a rotina e a vida deste senhor, às vezes cercada de pausas e silêncio. O resultado desse paciente e lento trabalho está reunido em uma sala com mais de 50 mil envelopes contendo pôsteres e recortes de jornais das várias fases do cinema nacional e internacional, que auxiliam diretores e atores no processo de produção cinematográfica. O filme ficou em segundo lugar na categoria Vídeo Sergipano do Curta-SE 2009, foi exibido em pelo menos 17 festivais do país e está no ’’Porta Curtas Petrobras’’, um espaço virtual destinado à veiculação de curtas brasileiros.

O quinto e penúltimo curta da noite foi Xandrilá’(2010), dirigido pelo roteirista e cineasta André Aragão e inteiramente gravado em Full HD. A obra trata de duas questões que sempre geram controvérsias, sexo e drogas, abordados do ponto de vista de uma jovem ninfomaníaca (Renata) e de um rapaz viciado em drogas (Pepper), interpretados respectivamente por Huana Paula e Isaac Dourado. Fazem participações especiais na trama a cantora e compositora Antônia Amorosa e o apresentador Bareta. A trilha sonora contém três músicas compostas por Patrícia Polayne exclusivamente para a produção e faz referências implícitas à banda Karne Krua e ao grupo Cataluzes.

O último filme da Mostra Sergipe foi o curta Liah, produzido em 2010 pelo Núcleo de Produção Orlando Vieira e dirigido por Chris Matos e Gabriel Lyber. a história de uma moça que oscila entre o devaneio e a introspecção ao idealizar o futuro e o surgimento de um amor verdadeiro, que tarda a aparecer. O filme gira em torno de uma questão filosófica que intriga uma cabeleireira simples e esperançosa: “Será que o destino de uma ilha é mesmo ser sozinha?” A resposta, que só é desvelada no fim do curta, começa a se desenhar quando ela passa a se interessar pelo limpador de vidros que trabalha no mesmo salão que ela.

(* Colaboraram  Lenaldo Severiano e Hugo Fernando)