5 de fev. de 2014

"Mais Médicos", O programa do Governo Federal que movimentou o Brasil

Médicos brasileiros e estrangeiros  participam de programa polêmico.

Por Lucivânia Santos e Marcos Pereira 



O Mais Médicos é um programa do Governo Federal lançado em julho de 2013 e tem como objetivo levar médicos para os municípios do interior e regiões periféricas do Brasil.  No dia 6 de janeiro de 2014, o programa completou 6 meses. O governo pretende levar, até o fim de março, 13 mil médicos entre brasileiros e estrangeiros, para as regiões que sofrem com a carência na saúde.
Polêmico desde o seu lançamento, o PMM dividiu opiniões. O alvo das críticas é a contratação de médicos estrangeiros, em sua maioria cubanos, para trabalhar no Brasil. Inicialmente, o programa deu prioridade a médicos com formação no Brasil, e depois para brasileiros graduados no exterior. Com o não preenchimento das vagas, o Governo importou médicos de países como Cuba e Espanha. Nos primeiros dois ciclos do programa, Sergipe foi contemplado com 29 médicos, entre eles, 10 cubanos.
 Ao chegarem ao Brasil, os médicos passam por uma preparação de três semanas. Nesse minicurso, eles aprendem mais sobre a língua portuguesa, o funcionamento do SUS e estudam as principais doenças existentes no Brasil. Ao desembarcarem por aqui, os estrangeiros têm uma ajuda de custo no valor de R$ 20.000, pagos pelo Governo Federal, para se estabelecerem nos municípios onde irão trabalhar. O salário mensal para os médicos inscritos no PMM, tanto nacionais quanto estrangeiros é de R$ 10.000. Os profissionais cubanos, entretanto, fazem parte de um regime de contratação diferenciado dos demais. Os cubanos prestam serviço a uma espécie de pacote vendido pelo governo de Cuba ao Ministério da Saúde brasileiro, mediado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). No caso deles, os R$ 10 mil serão repassados ao governo de Cuba, que repassará parte desse valor aos médicos.
 A dispensa do Revalida (exame nacional de revalidação de diplomas estrangeiros), ponto que mais repercutiu negativamente, será concedida aos profissionais que optarem pelo registro temporário de três anos, mas o exame será necessário àqueles que pretenderem permanecer atuando por aqui após o fim do contrato. A recepção dos cidadãos brasileiros quanto à vinda de médicos estrangeiros foi positiva. Segundo pesquisa do Instituto MDA, em setembro de 2013, 73% dos brasileiros se mostravam a favor da vinda de médicos estrangeiros para o país.
Onde estão os médicos
 Os estados que mais receberam profissionais do PMM foram a Bahia, com 787; São Paulo com 588; Ceará com 572 e Maranhão, com 445. Em Sergipe, inicialmente, 31 municípios foram priorizados. O chefe de Divisão de Convênio e Gestão do Ministério da Saúde no estado, Anderson Farias, afirma que serão construídas 40 unidades de saúde em 30 municípios sergipanos: “Todos os locais que aderiram ao programa terão, pelo menos, um médico”, afirma Anderson.
Yudenia Montoya, 38 anos, é cubana e exerce a medicina há 16 anos. Ela está atendendo na unidade de saúde Muciano Cabral, no Povoado Guajará, em Nossa Senhora do Socorro, na Grande Aracaju. Empolgada em sua fala, Yudenia demonstra satisfação com o seu trabalho. A médica elogiou o programa e ressaltou a qualidade da saúde em Cuba: “o Mais Médicos foi lançado para tentar solucionar o problema de atenção primária do Brasil, o meu pais é um pilar em atenção primária, por isso que tem muitos cubanos aqui, pois temos os melhores indicadores de saúde pública do continente,” afirma. Demonstrando amor pelo que faz, a doutora se mostra bastante entusiasmada: "O programa está priorizando a atenção a crianças, grávidas, idosos e pessoas com enfermidade crônicas, por isso estamos aqui, mas ainda há muito para fazer.” Essa não é a primeira vez que a doutora saiu de Cuba para prestar serviço em outro país, Yudenia já trabalhou na Venezuela, Haiti, Panamá, Nicarágua e Honduras. Para ela, trabalhar no Brasil está sendo muito gratificante: ”O Brasil que nos escolheu”.
 O posto de saúde onde a cubana trabalha foi inaugurado há pouco mais de um mês. Segundo a médica, a única dificuldade que tem enfrentado é a equipe muito reduzida. "Minha equipe esta muito carente. Só temos eu como doutora, a enfermeira e só uma agente de saúde, preciso de outros agentes porque o atendimento domiciliar é feito por eles e isso deixa as famílias sem planejamento. Quando a equipe estiver completa, o trabalho será melhor ", diz a médica.
Antes de vir para o Brasil, Yudenia trabalhava em Cuba com atenção primária e básica, trabalho semelhante ao desempenhado em Socorro. Segundo Lúcia, recepcionista do Posto de saúde, a presença da médica melhorou e muito a qualidade no atendimento. “Já vi vários casos de pacientes chegarem aqui precisando de atendimento e não tinha. Agora melhorou bastante,” diz.
Brasileiros no PMM
 Mas o PMM não é feito só de cubanos. Muitos brasileiros também aderiram ao programa. É o caso de Ana Gabriela Santos Góis, sergipana e formada em Medicina há seis meses pela Universidade Federal do Tocantins. Ligada ao PMM há cinco meses, Ana atende na Urgência Maria José Soares Figuerôa, no conjunto Eduardo Gomes, em São Cristóvão.  Ainda em atendimento na unidade, Ana interrompeu por alguns minutos o seu trabalho para conversar com a nossa equipe. A médica conta que quando se inscreveu no PMM, tinha que escolher cinco cidades onde desejaria trabalhar. São Cristóvão foi a sua primeira opção. Ana uniu o útil ao agradável, pois segundo ela, trabalhar na cidade lhe proporcionou a volta para Sergipe. Além disso, ela conta que escolheu o município por ser um lugar humilde e muito carente na área da saúde. Ela diz ter acertado em sua escolha e demonstra gostar do trabalho: "Gosto de trabalhar aqui, o povo é muito gentil. Adoro fazer visitas domiciliares, as pessoas são muito acolhedoras", diz.
 Ana conta que a maior dificuldade que encontrou foi a falta de medicamentos no início de seus trabalhos, porém, segundo ela, o problema já foi resolvido. "Quando cheguei aqui, faltavam muitos medicamentos, como analgésicos e antibióticos. Mas há dois meses foi feita uma licitação e agora não faltam mais remédios no posto", afirma a doutora, que fez questão de nos mostrar à farmácia da Urgência. Ao caminhar pelo posto de saúde, a médica era abordada pelos pacientes que a questionavam a respeito de medicamentos e sintomas. A doutora, sempre muito paciente e gentil, atendia a todos.
Enquanto nos mostrava as instalações da farmácia, Ana falou sobre os médicos estrangeiros no Brasil. Ela foi taxativa ao dizer que nunca foi necessária a importação de médicos. "Não há necessidade alguma de trazer médicos de outros países. Se o mesmo salário oferecido aos estrangeiros fosse oferecido aos médicos daqui, nenhum deles se recusaria a trabalhar." Segundo ela, um médico brasileiro não vinculado ao PMM recebe cerca de R$ 6.000 para trabalhar em uma USB. Segundo João Helber, recepcionista da Urgência, havia um déficit no atendimento e que com a chegada da médica, o problema foi resolvido e hoje os pacientes estão bem mais satisfeitos.
 A opinião de Ana Gabriela não é muito diferente do que pensa Marcos Vinicius da Conceição, aluno do 5° período de Medicina na Universidade Federal de Sergipe.  O estudante se mostra veementemente contra o Programa: “O governo, ao criar esse programa, quer colocar a culpa do caos na saúde publica para os ombros da classe medica. E todos nós sabemos que saúde é formada por varias classes de profissionais. Além de pessoas qualificadas, são necessários materiais, insumos e equipamentos e isso nenhum cubano irá trazer."  Marcos Vinícius, alerta para denúncias de erros envolvendo os que ele intitula de "salvadores de Fidel": “pessoas leigas já me disseram que estão apreensivas, pois algumas receitas continham erros de dosagem, o que mostra a deficiência desses profissionais", conta.