29 de jan. de 2014

Mais Médicos: Programa completa 6 meses


Implantado em setembro, o programa em Sergipe é considerado bem encaminhado até aqui – embora não seja a principal saída para a melhoria da saúde sergipana

Por Antônio Aragão e Victor Siqueira

   Passados seis meses da medida provisória que instituiu o Programa Mais Médicos, o governo federal ainda está longe da meta de 13 mil profissionais prevista para março deste ano. Até agora, o PMM conta com 6.658 profissionais espalhados em todo o território nacional. Os estados que mais receberam médicos foram a Bahia (787), São Paulo (588), Ceará (572) e o Maranhão (445).
   O estado de Sergipe recebeu 78 médicos que foram distribuídos em 32 cidades: Aquidabã, Aracaju, Arauá, Boquim, Brejo Grande, Canindé do São Francisco, Capela, Cristinápolis, Gararu, Graccho Cardoso, Ilha das Flores, Indiaroba, Itabaiana, Itabaianinha, Itaporanga d'Ajuda, Lagarto, Macambira, Neópolis, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do Socorro, Pacatuba, Poço Redondo, Porto da Folha, Riachão do Dantas, Santa Luzia do Itanhy, Santana do São Francisco, Santo Amaro das Brotas, São Cristóvão e São Francisco.
Destes, nove são formados no Brasil e 69 no exterior, segundo dados da Secretaria de Saúde de Sergipe. A Prefeitura Municipal de Aracaju recebeu 5 médicos em setembro de 2013 e na primeira semana de janeiro uma médica foi transferida para Salvador-BA.
   Na Secretaria de Saúde de Aracaju a opinião é que o PMM é bom, porém não resolve o problema da saúde pública: “a vinda de mais profissionais da medicina sempre é bom, mas precisamos melhorar as condições estruturais, adequar a tabela do SUS a realidade, oferecer suporte técnico para que o trabalho dos médicos possam efetivamente melhorar a saúde dos mais carentes, opinou a jornalista Cristina Rochadel, assessora de comunicação da Secretaria.
   A reportagem também visitou a Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Celso Daniel no bairro Santa Maria, localizado na periferia de Aracaju, e conversou com a Dra. Mariana Miranda, médica participante do PMM, mineira formada na Universidade Federal de Juiz de Fora, que aderiu ao Programa com objetivo de conhecer novas realidades do País e nesse aspecto, ela considera que está valendo a pena: “o PMM está sendo uma decepção, tudo que o edital exigiu nós estamos cumprindo, porém nem a prefeitura de Aracaju e nem o Ministério estão fazendo a parte deles. Criam um monte de dificuldade para os médicos e isso acaba gerando uma experiência negativa para usuários e profissionais”.Essa opinião não é compartilhada nem por Luana Pinheiro, enfermeira e gerente da UBS, e nem por Kelly Ferreira, moradora da região e usuária da Unidade que afirmaram ser o PMM uma boa iniciativa, levando mais médicos para as comunidades carentes e contribuindo com a melhora na saúde pública.
     Fomos à Unidade Básica de Saúde José Alves Santos, no conjunto Taiçoca de Dentro, em Nossa Senhora do Socorro. Lá, trabalham dois médicos cubanos: Yudeles Peña, 36 anos, vinda da província de Las Tunas, e Yrelio Perez, 47 anos, original de Villa Clara. Os dois são especialistas em medicina familiar; foram especializados em Cuba, e ao chegar ao Brasil tiveram que repetir o curso, mas com adaptações. Quando questionados sobre as dificuldades de mudar de país para exercer sua profissão, os dois médicos citam a solidariedade de sua classe, e sua contribuição para a saúde de outros países: “Os médicos cubanos são solidários. Somos médicos internacionalistas, ajudamos quem precisa, seja de qualquer lugar, diz Yudeles. Eles comentaram também sobre as necessidades do posto médico em que trabalham. Segundo eles, falta material básico para exercerem sua profissão, como curativos, intravenosos e penicilina. Yrelio critica a estrutura da Unidade, e fala sobre a reforma no posto: “A estrutura está deteriorada, por isso vai ser reformada no fim de janeiro. Não sei para onde vou enquanto a Unidade estiver em obras, mas espero que tenha mais recursos do que essa”, diz.
   Uma questão que marcou o Programa foi a rejeição da maior parte da comunidade médica brasileira, por causa do Exame Nacional de Revalidação do Diploma, que os médicos cubanos não precisaram fazer. O episódio mais marcante foram as vaias ao médico cubano Juan Delgado, 49 anos, no desembarque ao aeroporto de Fortaleza. Sobre o contato com outros médicos, Yrelio diz: “Conheci uma médica que sempre foi amável conosco, nunca nos disse algo negativo. Aqui em Sergipe tudo tem acontecido bem, a Secretaria nos trata bem e a relação com a população é ótima”. Já Yudeles diz que não mantém contato com outros médicos, e que apenas foram bem recebidos pela população e pelos médicos da Unidade.
   A população aprova o atendimento e as mudanças na Unidade desde a chegada de Yudeles e Yrelio. Maria de Lourdes dos Santos, 31 anos, é paciente da UBS José Alves Santos e elogia os médicos: “Agora melhorou, pelo menos todo dia tem médico. Melhorou muita coisa,antes a gente era mal atendido, e hoje somos bem antendidos e saímos satisfeitos”.
   Para o estudante de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, Bruno Xavier, o Mais Médicos não é a melhor solução para ampliar a assistência médica à população mais carente:“ É utópico fazer apenas uma medicina preventiva, como prega o governo. Precisa-se de remédios, ambulatórios, urgências [...] ou seja, precisa de uma infraestrutura que essas regiões não possuem.”

Cidade de Laranjeiras não adere ao Programa
   
   Diferentemente dos municípios que procuraram suprir suas carências na parte da saúde com o Programa Mais Médicos, Laranjeiras não se inscreveu no PMM. Segundo a secretária de saúde do município, Roseane Gomes, todas as Equipes de Saúde da Família (ESF) estão completas com médicos. Mas, sobre a quantidade de médicos e enfermeiros do município, a Secretária diz o seguinte: “ As ESF são insuficientes para dar cobertura na Atenção Básica . Por isso mesmo já estamos elaborando um projeto de ampliação das equipes de Saúde da Família, que passarão de oito Equipes para onze. No Hospital São João de Deus foi realizado um grande investimento em recursos humanos com a contratação de médicos especialistas para ampliar a oferta de serviços especializados.”.
   Roseane não descarta a adesão ao PMM: “Assim que tivermos as Equipes de Saúde implantadas, quem sabe?”.
   O Hospital São João de Deus conta com uma equipe de 15 médicos, que se revezam em seus plantões, e que atendem às necessidades do hospital e da população da cidade, diz uma das administradoras do Hospital, Elis Regina Campos. A paciente Maria José dos Santos aprova o número de médicos: “Hoje não faltam médicos. Somos bem atendidos, e sem muita demora. O único problema que tínhamos antes era quando os médicos entraram em greve, e o hospital estava fechado. Mas hoje está tudo ótimo.”
   Laranjeiras conta com o Hospital São João de Deus e 17 postos de saúde, divididos em 18 povoados, para uma demanda de 30.124 habitantes.


27 de jan. de 2014

Em Socorro médicos cubanos são avaliados positivamente



Em Socorro, médicos Cubanos são avaliados positivamente
Para médicos, a maior dificuldade está na implantação de uma cultura médica preventiva
Por Agatha Cristie e Tatiana dos Santos
Conhecido por ser um município que estar passando por grandes transformações urbanísticas como consequência do projeto Grande Aracaju, que objetiva fortalecer a economia do Estado, associando a atividade industrial à habitação, Nossa Senhora do Socorro, distante 25 km da capital, foi um dos 31 municípios sergipanos que receberam médicos do programa Mais Médicos, do Governo Federal.
 Com a implantação dessa nova cultura medica e possível avaliar os pontos positivos e negativos que existem no SUS (sistema único de saúde), os médicos trarão a unidade um conhecimento amplo, geral e global qual a melhor forma de melhorar a saúde pública nos interiores sergipanos já que além de Cuba, atuaram em outros países para adquirirem experiências relacionadas à prevenção da saúde e conquistar sua formação na área médica preventiva.
No total, foram seis médicos cubanos apresentados à população no mês de outubro do ano passado para atuar em três unidades básicas de saúde, localizadas na área rural do município, nos conjuntos habitacionais Guajará, Taiçoca de Dentro e na Taiçoca de Fora. Porém, o trabalho das quatros médicas e dois médicos Yudelkys Del Rio Ambdaje, Yugit de Corte, Yudeina Montoya e Yudelis Peña Rojas e dos médicos Yudelquis Rodriguez e Yrelio Ramo Lugo Perez só começou em novembro, por causa dos treinamentos e testes promovidos pela Secretaria Estadual de Saúde e pelo Conselho Regional de Medicina, dos quais todos foram obrigados a participar.
Apesar de todo o rápido processo de desenvolvimento, Nossa Senhora do Socorro vive uma contradição no que diz respeito à prestação do serviço público na área da saúde. A situação se agrava na zona rural. Com uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013, de 172.547 habitantes e tendo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado médio (0,664), a rede de saúde do município conta apenas com 27 postos de saúde, e até os seis médicos cubanos chegarem à cidade o déficit era de 13 médicos.
               
 Médicos Cubanos trabalham de segunda a sexta, manhã e tarde.
De acordo com Ionara Santa Rosa, assessora do programa de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde, ao qual os médicos cubanos estão vinculados, existia uma demanda reprimida do número de pacientes atendidos, já que antes o atendimento médico não era diário. “É determinação do Ministério da Saúde que os médicos trabalhem em regime de dedicação exclusiva nos postos para onde foram designados. E assim foi feito, aqui. Eles trabalham de segunda a sexta, manhã e tarde. No antigo regime, os médicos concursados não atendem diariamente, tal como ainda funciona nos outros postos de saúde que não receberam os cubanos”, explica, a assessora formada em Enfermagem.

Para ela, esse já é um ponto importante de ser avaliado. “A dedicação exclusiva permite que o trabalho possa ser continuado. Isso é de grande importância. Além disso, nunca tivemos nenhum tipo de problema com os cubanos. Eles atuam dentro das nossas expectativas, atendendo a população de forma satisfatória. Nunca observamos problemas nem mesmo relacionados ao idioma deles”, afirma. Ionara informa ainda que os médicos cubanos passam por avaliações periódicas. “Já aconteceu uma primeira avaliação da Secretaria Estadual de Saúde, e na semana que vem, um representante do Ministério da Saúde deve vir para avaliá-los também”, disse.

Segundo o médico cubano Yudelquis Rodriguez Hernández, 34 anos, lotado na Unidade Básica de Saúde Professor Luiz Pereira da Silva, localizada na Taiçoca de Fora, a demanda reprimida de atendimentos já começou a ser vencida. Ele atende em média 30 pacientes por dia, entre consultas agendadas e demanda espontânea. “Quando cheguei nesta unidade de saúde não tinha médico permanente. Então o trabalho ainda está um pouco desorganizado, já que começamos a atuar tem pouco mais de dois meses. Mas já estamos trabalhando com toda a equipe de saúde para melhorar a situação. É claro que mudança do trabalho não pode ser, cheguei e está tudo resolvido, pelo contrário, é um processo pouco a pouco”, acredita.

Especialista em medicina da família e saúde primária, com 11 anos de formação e experiência de atuação em outros países além de Cuba, Yudelquis Rodriguez diz que veio para Sergipe ajudar aos mais carentes. “A minha motivação foi à necessidade do povo brasileiro mais carente. O Brasil ainda é um país carente de assistência médica primária. Eu vim ajudar, só isso. Além disso, fiquei surpreso com a recepção calorosa que tivemos ao chegar no aeroporto. Foi um acolhimento muito bom. Até a nossa relação com os médicos brasileiros daqui de Socorro também é muito boa ”, conta.

 Avaliando
Para a estudante, Renata Silva Santos, 17 anos, moradora da Taiçoca, o atendimento na Unidade Professor Luiz Pereira da Silva está melhorando. “Com a chegada dos médicos o atendimento à comunidade ficou melhor pra nós. Além da facilidade em agendar consulta sem precisar enfrentar fila ou estar no local logo cedo. A minha avó vem sempre ao posto, porque ela é hipertensa, e me falava que quando estavam os médicos de antigamente [os brasileiros] o atendimento era ruim porque eles chegavam muito tarde e ainda atendiam somente um turno. Agora tem médico o dia todo. Assim é muito melhor", disse. Renata estava ansiosa pela primeira consulta com os cubanos. "É tudo uma descoberta, eu não sei como vou ser tratada, mas espero que ocorra tudo bem”, confia.
A técnica auxiliar de enfermagem Roberta Santos, 31 anos, trabalha há 8 anos na Taiçoca e também avalia que há uma melhora na questão da disponibilidade do médico. “O lado positivo é chegar á unidade e ter a consulta com o médico que realmente precisa. Coisa que não tinha antigamente porque existia uma dificuldade muito grande para marcar consulta médica. Sem falar que hoje existe uma flexibilidade com relação aos médicos do Programa pelo fato de eles estarem todo o dia em período integral, facilitando a marcação". Diferente do que disse a assessora do Programa de Atenção Básica, Ionara Santa Rosa. A enfermeira Roberta percebe uma certa dificuldade com relação ao idioma dos novos médicos. "Pessoas com menor grau de instrução possui maior dificuldade em entender a linguagem dos cubanos”, relata.
Já a dona de casa Maria Iolanda dos Santos, 45 anos, mãe de três filhos, moradora da Taiçoca há 16 anos, contou para a equipe do BLOG CONTEXTO, durante a consulta médica com Yudelquis Rodriguez, que apesar de não gostar de ir ao médico foi bem atendida. “Não gosto de médico, mas a consulta foi ótima, fui muito bem atendida. O médico é calmo, atencioso. Geralmente eu me trato mesmo é com mato, só vim dessa vez porque não tinha mais jeito, mas com certeza eu vou voltar mais vezes”, afirma.
Nova cultura médica
Para a médica cubana Yudelkys Del Rio, 36 anos, também designada para trabalhar na Unidade Básica de Saúde Professor Luiz Pereira da Silva, da Taiçoca de Fora, a maior dificuldade é implantar uma nova cultura de medicina preventiva. “O trabalho aqui é um pouco complicado. A população está acostumada com a medicina assistencial. Têm pacientes que não conhecem nem o básico sobre prevenção de saúde, seja um conhecimento sobre dieta, exercícios físicos, e etc., que contam como fatores de riscos para algumas doenças. Mas neste momento inicial estamos trabalhando para mudar essa cultura da população, no sentido de estimular que as consultas sejam continuadas, com um acompanhamento dos casos. A meta é desenvolver um trabalho educativo, no sentido de fortalecer uma prática médica preventista”, revela.
Outra dificuldade observada pela médica Yudelkys é a falta de agentes comunitários e de toda equipe do PSF auxiliando no trabalho preventivo. “Na unidade, estamos trabalhando para que esse também seja o perfil de toda a equipe, obviamente no inicio é um pouco complicado, a falta de agentes comunitários também dificulta um pouco. Mas acho que pouco a pouco vamos melhorando e nesse curto tempo já temos alguns resultados positivos como, por exemplo, o aumento de consultas agendadas já nesse mês de janeiro”, nota.
A médica também crítica a demora do Sistema Único de Saúde na marcação de exames, e faz uma comparação com o sistema em Cuba. "Lá as coisas fluem melhor. Por exemplo, nós contamos em nossas policlínicas com especialistas como pediatras, obstetra, psicólogos, clínicos gerais e etc. Então, quando temos uma consulta que precisa com uma dessas especialidades é muito mais rápido que aqui. Se queremos fazer um exame laboratorial fazemos o requerimento e no outro dia o paciente faz. Já aqui tudo marca pela internet e a fila que antes era na porta do hospital, agora se repete no espaço virtual", observa.
Polêmica
Assim como em todo o país, em Sergipe a chegada dos médicos cubanos também foi tema polêmico. Opiniões contrárias á eficácia do Programa Mais Médico ainda persistem no meio acadêmico e profissional. O estudante de Medicina da Universidade Federal de Sergipe Vinícius Vasconcelos Sobras, 7º período, acredita que o problema da saúde no Brasil não está relacionado à falta de profissionais. “O problema é estrutural. Postos de saúde sucateados, falta de remédios etc. Acredito que a maioria da população vê o programa como eficaz, mas para mim é pura propaganda eleitoreira. Acho que não vai melhorar a saúde, embora pareça como um socorro importante”, avalia.
Apesar do Conselho Regional de Medicina em Sergipe (Cremese) ter concedido todos os registros dos médicos que vieram trabalhar no Programa Mais Médico, a posição do Conselho se mantém contrária. Para a presidente da instituição, Rosa Amélia Andrade Dantas, o momento é de unidade entre toda a classe médica contra o que ela considera um ataque do governo federal à categoria. "Dilma está colocando a culpa de tudo que há de ruim na saúde pública nos médicos. Só que saúde não é só os médicos. E é justamente isso que estamos denunciando nesse Programa Mais Médicos. Precisamos de condições de trabalho, salários melhores, plano de carreira e concurso público. Só médico não resolve, a situação dos postos de saúde é lamentável na maioria dos casos. Além disso, o programa não obriga os médicos a fazer o exame do Revalida, isso nós somos totalmente contrários", argumenta.
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"Mais Médicos" traz melhorias à atenção básica de saúde em Sergipe

Apesar das críticas e de toda a problemática em torno do Programa, população aprova a atuação dos médicos cubanos.

Por Ana Lúcia do Carmo e Francielle da Silva

    O acesso ao atendimento médico de qualidade é um direito garantido por lei. Nesse sentido, o Ministério da Saúde do Brasil  lançou, em julho do ano passado, o programa ‘Mais Médicos’, cujo objetivo é suprir uma enorme carência por médicos nos postos de saúde de todo o país. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde de Sergipe, 79 profissionais já estão em atuação sendo destes nove médicos formados no Brasil, e 67 no exterior entre eles 2 intercambistas (médicos brasieliros formados fora do país) divididos em 32 municípios que aderiram ao programa. E que apesar de todas as críticas à importação dos profissionais estrangeiros, eles foram muito bem aceitos pela população.

   Desde seu lançamento, o Programa é alvo de muitas críticas principalmente pelos conselhos de Medicina, profissionais da saúde, além de estudantes de medicina que questionam o fato de se trazer médicos de outros países para atuarem no Brasil. Toda uma problemática foi levantada em torno da chegada dos ‘cubanos’, como são chamados, com relação à preparação desses profissionais, a necessidade de fazerem a Revalida (exame nacional de validação do diploma) e as condições de trabalho, que culminaram em uma série de protestos e paralizações por profissionais brasileiros que foram até considerados xenofóbicos. Mesmo após a concessão das liberações para atuação dos profissionais e seis meses depois da implantação do programa o Conselho Regional de Medicina de Sergipe – Cremese, mantem a mesma posição contrária aos ‘Mais médicos’.

   Em entrevista concedida ao Contexto Repórter ainda ano passado pelo então Corregedor do Conselho, Dr. Hyder Aragão de Melo, o diagnóstico feito pelo Ministério da Saúde está equivocado. “Somos contra o programa Mais Médicos, não por uma questão ideológica qualquer, somos contra por que consideramos que o diagnóstico do governo está errado e portanto a forma de resolver o problema também está errada. Dizemos que o diagnóstico está errado por que não há uma falta de médico, é uma falácia do Governo, existem médicos suficientes e isso já está contado. O que o governo tenta passar para a sociedade para justificar a afirmativa governamental de falta de médicos é mostrando para a sociedade que algumas regiões do país não captam médicos, perfeito, realmente não temos. Se você for para algumas cidades do município, não tem médicos; se for para o interior do Amazonas, não tem médicos; se for para o interior da Bahia, não tem médico. Isso é por falta de médico no Brasil? Não! Isso é um diagnóstico errado do Governo. O diagnóstico correto é: primeiro falta de condição de trabalho no interior, segundo, falta de uma carreira de estado para o médico”, completa.

   Para o estudante do 6º período do curso de Medicina da UFS- Universidade Federal de Sergipe, Gilenaldo de Góis, “o programa ‘Mais médicos’ é uma medida assistencialista que não resolve a fundo o problema da saúde no Brasil, é preciso muito mais, como condições de trabalho para que todos os profissionais da saúde possam exercer a profissão e melhor atender a população. Na opinião do estudante, o problema da saúde no Brasil é algo muito mais amplo que não se resolve apenas com a chegada de médicos estrangeiros. “ A chegada desses médicos não combate os problemas críticos da saúde em nosso país se não forem oferecidos condições de trabalho e acesso integral à população aos sistemas de saúde. Não vai adiantar ter o médico se não tiver remédio, se para fazer um exame mais especifico demore entre seis meses ou um ano e se cirurgias da mesma forma ou ainda se os hospitais não puderem receber pacientes por falta de infraestrutura”, finaliza.

   Já para o também estudante do 6º período do curso de Medicina da UFS Marcel Lima Andrade, a idéia do programa é necessária, o problema é a maneira como foi posta. “O programa foi implantado como que de última hora como resposta aos protestos que aconteceram ano passado, não acho errado trazer os médicos, no entanto do jeito que fizeram dá a entender que existe uma má vontade dos médicos que já atuam aqui em trabalhar no interior. Acredito que existam métodos mais eficazes para se fazer isso a exemplo do Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica (Provab) e do Fundo de financiamento estudantil (FIES).Também acredito ser muito necessário que eles façam o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), não verdade seria bom que também alunos formandos em medicina fizessem uma prova para avaliar sua capacidade de atuação, o bom profissional que tem certeza de sua preparação e capacidade não vai ter problemas em testar e reforçar a certificação do seu conhecimento”.

Mudanças no atendimento

   No entanto, antes da chegada dos profissionais estrangeiros, o Brasil sofria de um déficit muito grande de médicos para o atendimento no Programa de Saúde da Família (PSF) e quem estava sofrendo com isso era a população do interior e das periferias que estavam sem médicos.

   Um dos exemplos disso é o município de Macambira, agreste do estado, 68 km distante da capital Aracaju, que foi contemplado na segunda etapa do programa com dois médicos cubanos já instalados e em atuação na cidade. De acordo com a coordenadora da Atenção Básica de Saúde e também responsável pela atuação do ‘Mais Médicos’ no município, Acácia Almeida, a chegada dos médicos cubanos supriu a carência de atendimento diário no Programa de Saúde da Familia.  “O programa veio na hora certa para o nosso município, nós temos duas equipes do PSF, uma na zona rural e outra na zona urbana. No entanto, devido a outro vínculo de trabalho, um médico que trabalhava aqui pediu afastamento. Pela necessidade de termos médico de segunda a sexta-feira, recebemos a proposta do ‘Mais Médicos’, logo de bom grado aceitamos e a chegada dos cubanos supriu a nossa necessidade de atendimento médico à população diariamente”.

   Com a jornada de oito horas diárias e 40 semanais, eles podem atuar diretamente nas comunidades e assim auxiliar as famílias do PSF que os aceitaram sem qualquer restrição aparente. “Apesar do pouco tempo deles aqui na cidade, podemos perceber que mudanças significativas já aconteceram, o povo teve uma boa aceitação do trabalho deles, gostam muito e até elogiam, gostam do atendimento deles, são detalhistas”, completou.

   Para o secretário municipal de saúde, João Batista Oliveira, a ideia do programa foi uma surpresa, mas trouxe consigo a esperança de uma melhoria na saúde do cidadão macambirense. “Desde o primeiro contato com o programa ‘Mais Médicos’, através de uma palestra com o ministro da saúde Padilha, ficamos surpresos com a ideia do programa e com a possibilidade de melhoria no atendimento a população de Macambira. Após contato com o prefeito municipal, Ricardo Souza (PSD), decidimos então implantar o ‘Mais Médicos’. Logo na segunda fase fomos contemplados, já que na primeira fase foram selecionados municípios que estavam sem médico. Para a implantação, tivemos o apoio da secretaria estadual de saúde e também da Universidade Federal de Sergipe (UFS)”.

   Para ele, ainda há muito que ser feito na saúde pública do Brasil, mas esse projeto já é o primeiro passo. “É certo que eles sozinhos não irão resolver todos os problemas da saúde no país, mas trazê-los é o primeiro passo para a melhoria. A população os aceitou muito bem, até por que existia uma carência de médicos não só aqui, mas no país todo e eles supriram essa carência". O secretário fala até em parcerias com os próprios médicos: “Estamos fazendo um estudo das condições de saúde no município para que possamos desenhar novos caminhos para os cuidados da saúde aqui, através da união do melhor que eles podem oferecer, em especial sobre a medicina preventiva ao melhor que temos no PSF e assim possamos desenvolver um tratamento preventivo e educativo junto à população, por que entendemos é melhor e mais barato educar do que tratar”.

Adaptação

   Um dos médicos instalados no município é a Dr.ª Eudania Coubas Matos, 35 anos, em atuação há trinta dias. Para ela, “o projeto é muito satisfatório para o Brasil, para melhorar o estado da saúde das comunidades carentes. Aqui em Macambira, as condições de saúde estão melhorando, os tratamentos que estamos indicando estão ajudando a população”. Apesar de toda dificuldade de adaptação, Eudania diz que gostou da cidade e já está se acostumando “É ainda um começo muito difícil, longe da minha família, mas a cidade mesmo pequena é muito boa, tudo muito organizado e as pessoas muito alegres me receberam muito bem. Quando resolvi me inscrever no programa, não imaginei que seria assim, queria conhecer o Brasil, experimentar uma cultura diferente e também ajudar a economia do meu país. Pelo meu país vale a pena estar aqui, vale a pena nosso esforço”, ressalta.

   A auxiliar de serviços gerais Maria da Conceição, moradora do município há dez anos, diz que a saúde agora está melhorando. “Aqui agora está bom, tem médico todo o dia, se você chegar aqui qualquer dia de segunda a sexta tem médico no posto, é um cubano muito alegre, brincalhão e uma médica também de Cuba. Os dois atendem muito bem, eles olham tudo tocam na gente, são muito atenciosos no atendimento. Eles até falam um pouquinho diferente, mas eu consegui entender direitinho e ela me entendeu também, eu gostei muito. Tem uns médicos que a gente vai que nem olha na nossa cara, eles são diferentes e o remédio que ela me passou serviu, logo fiquei boa”, afirma.

Mais Médicos em São Cristóvão

   Outro município que recebeu o programa foi São Cristóvão, localizado na região metropolitana de Aracaju, contemplado com três médicos já na primeira fase. Com 24 unidades de saúde e o salário oferecido pelo município, estava difícil conseguir contratar médico para o Programa de Saúde da Família, como afirma o secretário interino de saúde e também diretor/presidente do SAAS (sistema autônomo de água de São Cristóvão), Júlio César Cardoso. “Acompanhei todo o projeto da implantação do programa em São Cristóvão e sei que aqui ele foi implantado pela necessidade de se ter um médico principalmente na sede do município. Antes do ‘mais médicos’ se tinha uma dificuldade imensa de contratar médico. São Cristóvão que é bem próximo da capital,  não conseguíamos um médico  que se fixasse no PSF, imagine outros mais distantes. O programa surge para suprir essa necessidade existente em diversos municípios do país. O Ministério da Saúde fez a proposta nós nos credenciamos pelo próprio sistema, concordamos com a obrigatoriedade de instalação física desses profissionais no município, auxilio moradia, locomoção e alimentação, e estamos cumprindo para que eles permaneçam aqui atendendo a população”.

   Para Júlio César, assim como todo inicio a implantação do programa foi também complicada, mas já se faz um balanço de bons resultados. “Tivemos algumas dificuldades na implantação do programa no que diz respeito às condições de trabalho, no entanto muita coisa já foi feita para melhorar não só as condições de trabalho desses profissionais, mas também sua preparação para os atendimentos, dificuldades politicas não tivemos nenhuma, só mesmo entender como funciona o projeto e o impasse que existe entre os sindicatos representantes das categorias dos médicos e o governo federal. Já podemos fazer um balanço muito positivo dos resultados da ação do programa em São Cristóvão, a população está muito satisfeita com eles, os aceitaram muito bem sem qualquer discriminação e elogiam o atendimento”.

   Já para a médica brasileira, nascida em Aracaju Sandra Glaucia da Conceição, 32 anos, trabalhando no município de São Cristóvão desde 1º de outubro, o ‘Mais Médicos’ foi uma oportunidade de voltar para casa. “Através do meu envolvimento em movimentos sociais e uma parceria existente entre o governo brasileiro e o de Cuba para militantes, consegui uma bolsa para estudar medicina. Resolvi ir estudar fora do meu país não só por já ter conhecimento da medicina de lá e saber que Cuba investe muito mais em saúde do que o Brasil, mas também pela dificuldade de conseguir ingressar no curso em uma universidade brasileira. Mas sempre tive vontade de voltar para trabalhar na atenção básica à saúde do Brasil, em especial aqui em Sergipe. Estava nos meus planos voltar um pouco mais tarde. Até o surgimento do programa passei sete anos na Argentina, atendendo na rede pública de saúde. Entretanto voltar para casa me deixa muito feliz por poder brindar os 13 anos que passei fora estudando e trabalhando, usando toda minha experiência para ajudar o meu povo”.

   Mesmo em meio as difíceis condições de trabalho, Sandra afirma que é muito vantajosa a criação de um programa como esse. “Só o fato de a população ter médico a disposição todos os dias, mesmo que com uma péssima qualidade de infraestrutura, mostra positividade no programa. Desde que cheguei aqui nada mudou na qualidade do espaço em que tenho atendido o povo, mas há projetos de melhorias. O Ministério da Saúde está cobrando melhorias da atenção básica à saúde, o que nos dá esperança de que essa atual infraestrutura vai melhorar”.

Desfazendo mitos

   A chegada desses profissionais às cidades onde estão atuando desfez alguns mitos referentes à comunicação, adaptação e também desperta curiosidades. Segundo a médica, “os idiomas são muito parecidos e o fato de ter nascido aqui ajudou um pouco quanto ao entendimento, não tive muitos problemas com a adaptação, nem nenhum tipo de discriminação ou represálias por parte dos meus colegas que já atuavam no município, nem também por parte da população. O que aconteceu e ainda acontece é a chegada de curiosos ao meu consultório querendo saber quem é a cubana, como ela é, como fala e etc., mas quando chegam aqui é até engraçado por que eles estranham o fato de que eu  não falo diferente, nem sou diferente e aí eu explico que na verdade não sou cubana, sou sergipana como eles e apenas estudei em Cuba”.

   Contrapondo-se ao secretário de saúde, que afirma esta o município cumprindo com sua parte no acordo do programa, que é assegurar os auxílios financeiros para locomoção, aluguel imobiliário e alimentação, Sandra afirma que desde que chegou a  cidade ainda não recebeu esses auxílios. “O município não está cumprindo com o acordo feito com o Ministério da Saúde e com o governo federal, ainda não recebi nenhuma ajuda de custo, como profissional dentro do programa eu tenho o direito de escolher morar ou não aqui em São Cristóvão. Como escolhi morar em Aracaju, tenho que vir todos os dias nos ônibus coletivo para o trabalho e não tenho meu aluguel pago pela prefeitura”.

   O morador de São Cristóvão Gilvan dos Santos parabeniza a implantação do programa. "Aqui realmente estava sem médico, mas não resolve tudo a saúde e todo o resto aqui estão no caos, alguma coisa tinha que funcionar legal, bom que seja médicos para  atender o povo e o trabalho deles é bom, ouço muita gente elogiando, ainda não fui lá conversar com eles, mas qualquer dia vou é só eu precisar”.

    O Ministério da Saúde planeja outra fase do programa, devido aos municípios não inscritos nas primeiras fases, que agora despertam interesse para aderirem ao programa que tem inicialmente contrato de três anos com possível renovação por mais três. Segundo Anderson Farias, diretor do Núcleo do Ministério da Saúde em Sergipe, a expectativa é alcançar 200 médicos do programa até março deste ano. O programa ‘Mais Médicos’ não se resume exclusivamente à contratação de médicos, mas também preconiza a melhora do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e investimentos em infraestrutura nos hospitais e unidades de saúde. Em Sergipe, o Governo do Estado vem investindo de forma a reforçar o atendimento na rede básica e destinou R$ 72 milhões para a construção de Clínicas de Saúde da Família (CSF), das quais 79 já foram entregues oficialmente à população. A mais recente foi inaugurada no último dia 17, na cidade de São Domingos, distante 76 km da capital e que será uma das próximas cidades beneficiadas pelo programa.

Programa Mais Médicos é avaliado de forma positiva no interior sergipano


O Mais Médicos, é um programa do governo federal instituído em 8 de julho de 2013, e tem a finalidade de garantir melhorias no atendimento aos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) prevendo mais investimentos em infraestrutura de hospitais e unidades de saúdes. Levando mais médicos para regiões onde há escassez de profissionais da área, assim garantindo assistência a municípios com maior vulnerabilidade social, o Ministério da Saúde tem expectativas para que o programa conte com 13 mil médicos. Hoje, 6,6 mil profissionais da área participam do programa em todo o país, dos quasis 5,4 mil são cubanos.

Em Sergipe, 42 municípios já aderiram ao programa, sendo que alguns ainda esperam a chegada dos profissionais. Segundo a Secretaria de Sáude do estado de Sergipe, são 79 médicos, dos quais 58 são cubanos, 19 brasileiros e dois intercambistas (brasileiros que estudaram fora do país); distribuídos nos 30 municípios cadastrado até o momento, número que representa a presença do Mais Médicos em 40% dos municípios Sergipanos.

No estado, a distribuição dos 79 médicos nos municípios contemplados ficou da seguinte forma: Aracaju (05), São Cristóvão (04), Capela (05), Nossa Senhora das Dores (04), Nossa Senhora do Socorro (06), Pirambu (01), Santo Amaro das Brotas (03), Arauá (02), Boquim (02), Cristinápolis (01), Santa Luzia (01), Estância (01), Umbaúba (03), Carira (01), Macambira (02), Nossa Senhora Aparecida (01),  Lagarto (10), Simão Dias (01), Tobias Barreto (02), Gararu (03), Monte Alegre (01), Nossa Senhora da Glória (01),  Poço Redondo (05), Aquidabã (03), Brejo Grande (02), Cedro de São João (01),  Pacatuba (02), Ilha das Flores (03), Propriá (01) e Japoatã (02).

Nossa Senhora Aparecida, pequena cidade do interior sergipano, localizada a 100 km de Aracaju, foi contemplada no dia 02 de Dezembro de 2013 com uma profissional da área de saúde cubana, através do programa Mais Médicos do governo federal. A profissional veio atuar na atenção básica de saúde.

Os únicos dois médicos, José Roberto e Amanda Santos, não conseguem suprir a carência gerida pelos seus, cerca de 8000 habitantes de Nossa Senhora Aparecida, com isso o município veio a ser assistido pelo programa, com a chegada da médica cubana, natural de Santiago de Cuba, Irina Legon Moreli.  

A médica exerce uma carga horária de 40 horas semanais, sendo que 32 horas é para o atendimento direto, já as outras 8 horas restantes ela faz uma especialização em saúde da família pela Universidade do Rio Grande do Sul, com fiscalização responsável pela Universidade Federal de Sergipe.

Único posto de atendimento, a Clínica de Saúde da Familia Maria Cleidilene dos Santos Lima, inaugurada em abril de 2010; conta com equipes de médicos e dentistas, as salas do lugar tem bons equipamentos. Na sala de espera os pacientes aguardam ansiosos para serem atendidos pela médica cubana, todos estavam com exprerssões de curiosidade e os que saíam, tinham expressões de alegria. Ficamos curiosos e fomos entrevistar a diretora do posto, Maria Lurdes de Jesus Costa, para saber como a profissional chegou ao município e o motivo de tanta felicidade demonstrada na face das pessoas. Encontramos Maria em sua sala e finalmente  pôdemos saciar nossa curiosidade a respeito do impacto impulsionado por Irina. Ela disse que o município fez o cadastro para completar a quarta equipe do PSF ( Programa Saúde Familiar) com mais um profissional, pois o posto apresentava essa carência. Então a Secretária de saúde, Dejenalda dos Santos Bomfim, enviou um documento para o estado solicitando mais médicos, quando a documentação foi recebida, Irina, a médica cubana participante do programa, chegou no dia 2 dezembro e começou a atuar no dia 26 do mesmo mês, depois da liberação do cadastro, trabalhando 32 horas e 8 horas estudando. Depois deste processo, a equipe juntou-se a Irina Vegon para ajudá-la a se adaptar com o linguajar, e com algumas doenças “inexistentes” em seu país de origem, como por exemplo a Esquitossomose e a Sífilis. Foi assim que depois deste relato procuramos a auxiliar de Vegon, Fernanda Cristina dos Santos, que também trabalha na clínica para nos relatar alguns fatos curiosos do primeiro dia de trabalho. No primeiro dia não havia nenhum paciente para a médica atender, porém como as pessoas ficaram curiosas, logo foram pedindo para serem atendidos por ela, primeiro iam ao posto para ouvirem sua voz e logo perceberam a diferença no atendimento, que era somente elogios, como ela é minuciosa e ficaram mais contentes ainda, quando descobriram que podiam vê-la quase sempre, uma maravilha, pois como fala Fernanda, Irina atende todos os dias da semana, exceto às quartas-feiras.

Tantos elogios, então resolvemos verificar o fluxo de pacientes na sala de espera. Observar a reação dos pacientes que entravam no consultório, os que saiam e os que aguardavam para serem atendidos, que no total eram seis pessoas. Um fato que chamou atenção é de uma senhora, magrinha, que saiu do consultório com suas quatro filhas, uma adolescente e duas crianças, sendo uma bebê.
“Entendi tudo o que a médica falou, ela é muito carinhosa e muito diferente dos outros médicos, ela deitou todas as crianças na maca examinou dos pés à cabeça”. Relatou Denise dos Santos, 38 anos, mãe das quatro filhas.

Irina, natural de Santiago de Cuba, local mais quente do país, logo em sua chegada ao Brasil, notou as diferenças climáticas, achando o região Nordeste muito mais quente que seu local de origem. Em seu período de adaptação, Legon se surpreendeu com a grande diversidade cultural, intelectual, comportamental existente no país.

Um pouco frustrada, pelo fato de ter vindo trabalhar no Nordeste e ter muito contato com o forró, e pouco com o samba. Pois lá fora do país a identidade cultural mais enraizada é esse ritmo. Irina, como uma tradicional estrangeira, sonha em  aprender os molejos dessa dança afro-brasileira.


Por Lorena Ferro e Wirlan Lima 

Seis meses do Mais Médicos

Mais Médicos em Sergipe: aceitação, porém precariedade
Quase três meses após segundo ciclo, Mais Médicos em Nossa Senhora do Socorro lida com condições precárias, problemas na comunicação com os médicos e demora nos atendimentos, apesar de boa aceitação por parte da população.

Por Denner Perazzo e Ullisses Machado

Mais Médicos é um programa lançado para suprir a carência de médicos nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades do Brasil, fixando médicos, brasileiros ou estrangeiros, na rede pública de saúde. Como a própria Presidenta Dilma confirmou, o Nordeste será prioridade na recepção dos profissionais, e é o que temos visto nesses seis meses do Programa, com mais de mil profissionais enviados para a região.

O PMM está na sua segunda etapa, e, totalizando desde o início, Sergipe já recebeu 79 profissionais, sendo 66 estrangeiros - todos cubanos -, 11 brasileiros e dois intercambistas, segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe (SES). Na primeira etapa, apenas Aracaju e São Cristóvão tinham recebido os médicos. Porém, na segunda, Umbaúba, Aquidabã, Boquim, Capela, Cristinápolis, Ilha das Flores, Pacatuba, Lagarto, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora do Socorro, Poço Redondo e Santa Luzia do Itanhy foram contempladas com os profissionais.

Em Nossa Senhora do Socorro, até o momento, chegaram seis médicos, todos de origem cubana. Desde o dia 30 de outubro do ano passado, as médicas Yudelkys Del Rio Ambdaje, Yugit de Corte, Yudenia Montoya e Yudelis Peña Rojas; e os médicos Yudelquis Rodriguez e Yrelio Ramon Lugo Perez, foram incumbidos da difícil tarefa de promover mudanças no funcionamento dos postos e melhorar a saúde da população. A cidade contava com um déficit de 13 médicos, o que evidencia a providência desse recrutamento. No entanto, segundo eles ainda levará um tempo para solucionar todos os problemas, mas estão traçando um caminho para a melhora no atendimento, voltando-o para a prevenção das doenças, que deve ser continuado por outros profissionais. Para isso, apostam na organização e coletividade no trabalho.

Visão dos médicos


"Antes de chegarmos à unidade, não havia um médico permanente, alguém que organizasse a equipe. Desde o início do ano, estamos conseguindo unir e organizar a equipe do posto. A população que será beneficiada com esse espírito.", informou a médica Yudelkys Del Rio Ambdaje, que possui 12 anos de profissão, todos em seu país natal.

Sobre o contato população local, Yudelkys e Yudelquis, que trabalham na Unidade Básica de Saúde, Bairro Taicota de Fora, afirmam que os pacientes têm ido ao posto somente para encontrá-los, aparecem uma vez e sempre voltam trazendo a família, para também serem consultados pelos novos médicos. Yudelkys ressaltou que o atendimento era voltado para a medicação, mas que o foco agora é a prevenção, maior cuidado com as doenças mais graves e acompanhamento de gestantes e crianças menores de um ano. A falta de informação da população é um fator preocupante para a médica.

"Assim que chegamos, realizamos diversos mutirões de consultas, mas ainda falta na população um maior conhecimento sobre a sua saúde, entender o que pode e o que não pode, o que te faz bem e o que não faz.", disse a cubana.

Em relação ao PMM, os médicos afirmam que ainda levará um tempo para solucionar os problemas na saúde pública brasileira, mas que o Programa e os profissionais colaboram bastante para isso.

Pacientes se mostraram satisfeitos com a disponibilidade de profissionais e informaram que "nessa unidade, todos gostaram da vinda dos médicos, já que estavam há semanas sem atendimento". No entanto, apontaram como dificuldades mais comuns a comunicação (em relação aos estrangeiros), precariedade de estrutura e demora dos atendimentos. Essas pendências reforçam a posição das entidades médicas e de estudantes.

Entidades médicas


Embora tenha 84% de aprovação da população brasileira - segundo pesquisa feita pela CNT/MDA -, o Programa Mais Médicos tem a recusa das entidades médicas e dos profissionais e estudantes brasileiros de Medicina.

O programa promete a abertura de dez mil novos postos de empregos para médicos em regiões mal atendidas, como o interior do país e a periferia das grandes cidades. Para isto, a medida assinada pela presidente prevê que, a partir de 2015, a grade curricular das escolas de Medicina públicas e privadas tenham um ciclo de dois anos de trabalho obrigatório para a rede pública, como parte da formação do médico. Assim, o aluno que entrar numa escola de Medicina em 2015 receberá o diploma e o registro definitivo no Conselho Regional de Medicina em 2023.

Porém, a principal reivindicação da maioria da comunidade médica brasileira, é sobre o Revalida - Exame Nacional de Revalidação do Diploma -, que os estrangeiros que vierem trabalhar no Programa não precisam fazer, só depois de seis anos, caso renovem seus contratos. Para falar sobre isso e dar sua opinião sobre o PMM, entrevistamos o estudante Andrews Oliveira Duyprath de Andrade, 17 anos, que está no segundo período do curso de Medicina, da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Qual sua posição sobre o programa?


"Eu sou contra o programa Mais Médicos."

Você acha que o programa foi a melhor escolha pra amenizar os problemas da saúde no país?


"Não. Para mim, o programa Mais Médicos foi uma jogada política dos que estão no governo atualmente, já que esse ano haverá eleições. Acredito nisso, pois esse programa não resolve o principal problema apontado por profissionais e usuários da saúde pública atualmente, que é a pouca infraestrutura, apenas servindo para aumentar o número de médicos. Ter mais profissionais não é ter uma saúde melhor. A proposta do Mais Médicos foi de, primeiramente, abrir vagas de trabalho em locais de periferia e interior do país com o salário de R$ 10.000,00 para brasileiros e depois para estrangeiros sem o Revalida. Esse é um exame onde o diploma do médico estrangeiro é revalidado, cuja prova tem a fama de ser muito difícil. Acredito que essa tem que ter um grau de dificuldade elevada, pois os médicos têm que estar preparados para situações de risco elevado para o paciente. Outra parte do programa seria a abertura de novas vagas de Medicina, o que é bom se a instituição de ensino superior em que essas forem abertas tiver a capacidade de promover um bom ensino da Medicina. Isso requer professores qualificados, infraestrutura, um bom hospital escola, entre outros. Enfim, acredito que o programa Mais Médicos possui algumas falhas, que não foram reparadas, que pode ser comprovado pelo número de problemas que já ocorreram com os médicos estrangeiros que estão associados com o programa, em parte devido a pouca infraestrutura, além de pouca competência médica de alguns desses profissionais que muitas vezes não é publicada nos meios de comunicação de massa."
 

Após seis meses de seu início, Programa Mais Médicos muda a rotina dos postos em Sergipe

Por Alice dos Santos Silva e Aucicláudia de Jesus Santana

Na sexta-feira, 17 de janeiro, o governo lançou o edital para a quarta fase do Programa Mais Médicos e em fevereiro deste ano, com a chegada de outra leva de médicos, a terceira fase terá início. Este programa foi uma iniciativa do governo federal para a melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), com objetivo de melhorar as condições da saúde no Brasil, tanto em equipamentos como levando novos médicos para regiões mais necessitadas.
Sergipe recebeu 78 profissionais do Programa, que começou em julho do ano passado, e conta com médicos cubanos e alguns brasileiros que prestam atendimento básico em cidades do interior e periferias da Grande Aracaju.
A segunda chamada do Programa Mais Médicos trouxe para o município de Macambira - a 58 km de Aracaju - dois médicos cubanos. Estes prestam atendimento na clínica de saúde da família Raimunda Ribeiro dos Santos (conhecida localmente como Clínica Dona Casula).  A recepcionista,  Ivaneide dos Santos, funcionária há dois anos, foi nosso primeiro contato no posto. Ela contou que a vinda dos médicos trouxe melhoras para o atendimento, pois os médicos moram na cidade e assim podem passar o dia inteiro na clínica. Com relação aos pacientes ela afirma que até agora “a população está gostando, no começo ficaram preocupados apenas com a questão da fala, mas a comunicação flui normalmente, o espanhol deles é bom de entender” afirma. A enfermeira do posto não quis dar entrevista, pois havia acabado de voltar de licença e ainda não se sentia segura para explanar sobre o seu contato com os cubanos.

Cubano solidário

Após o atendimento aos pacientes do turno matutino, o clínico geral cubano Vladimir Pelegrim Gonzalez, explicou o funcionamento do Programa, que ao longo do seu desenvolvimento dará maior atenção àquelas doenças que têm cura, bem como a seu tratamento e reabilitação. Além disso, o Programa “deve diminuir todo tipo de incidência em doenças crônicas, infecciosas, parasitárias, DSTs, gravidez na adolescência e outras”conta o cubano de 38 anos.
Com relação ao que ele pode observar sobre saúde pública e condições do trabalho, Vladimir comentou que em questão de equipamentos e medicamentos, aqui no Brasil, especificamente em Macambira, a rede pública possui alguns medicamentos para serem distribuídos de graça e que as condições de trabalho são boas. O médico disse não ter tido problemas para se adaptar e que as pessoas o receberam muito bem e carinhosamente. Perguntamos se o idioma era uma barreira, mas ele disse que nem tanto, pois, estudando um pouco a cada dia pode aprender como interagir com os pacientes, “não é difícil aprender coisas como ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ’ boa noite’, a cada dia aprendo pelo menos uma palavra nova”.
A paciente Elisiane da Silva contou que o programa trouxe benefícios para a saúde do município “porque aqui havia muita falta de médico, muita gente precisa e era necessário transportar para Itabaiana e muitas vezes também não tinha médicos e era preciso ir para Lagarto.” A única dificuldade encontrada é com relação ao idioma “só é meio difícil porque tem gente que não consegue se adaptar com o que eles falam, mas isso é questão de tempo.”

Trabalho em equipe

 O posto médico Muciano Cabral do povoado Guajará que pertence ao município de Nossa Senhora do Socorro - a 13 km da capital - recebeu as médica cubanas Yudenia Montoya Matinez e Judite Cortego. Durante uma visita ao posto, conversamos com a doutora Yudenia, que aos 38 anos e formada há quase 16 e chegou ao Brasil há pouco mais de dois meses. Segundo ela, as condições de trabalho no posto são boas, porém a falta de agentes de saúde para completar a equipe do turno vespertino tem dificultado o progresso do programa. “É preciso trabalho em equipe, pois eu sozinha não posso fazer atenção primária de saúde, não pude ainda fazer visita domiciliar, pois esta depende do controle e do planejamento feito pelo agente.” Afirmou a profissional que já trabalhou em outros países como Venezuela e Haiti. Quando perguntado sobre a questão salarial a médica, que também trabalhava com atenção primária em Cuba, não se atentou na questão de valores e apenas informou que “uma parte do salário é passada para mim outra parte é depositada lá em Cuba em uma conta para minha família.”
Já o encontro com a Doutora Judite foi bem mais inusitado. Na Sede de Socorro, à sombra de um ponto de ônibus próximo ao restaurante onde havia acabado de almoçar, ela nos concedeu uma breve entrevista, pois precisava retornar ao posto.  A médica teceu um breve comentário sobre a saúde pública no Brasil e de onde partiu sua motivação para ingressar no programa.
Ela relatou que tinha conhecimento da situação da saúde do Brasil, bem como da “necessidade e da dificuldade no atendimento da população mais carente, e decidimos vir ajudar a melhorar a sua saúde.” Ela, como sua colega, ressaltou a importância de um trabalho em equipe não só dentro do posto, mas também em outros setores da sociedade : “é muito importante para alcançar bons resultados na saúde em qualquer parte do mundo. Porque a saúde sozinha não pode fazer grandes coisas precisamos de outros setores como educação, esporte, das instituições públicas e do governo para ajudar a melhorar a condição de saúde da população da cidade.” A questão salarial não pode ser muito bem detalhada, pois quando perguntamos à Doutora Judite como ela recebia seu salário ela apenas respondeu que “o mais importante para nós não é o salário e sim a satisfação e a saúde da população”.

Estudantes são contra

Devido ao caráter controverso que o Programa Mais Médicos apresenta, vários pontos de vista podem ser observados a respeito dos prós e contras do projeto.  Entrevistamos alguns estudantes de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS) para identificar suas opiniões sobre a vinda dos estrangeiros. O estudante Silvio Freitas, de 25 anos afirma que o Programa traz benefícios para as populações carentes como, por exemplo, “os locais do interior. Mas isso não está sendo feito de forma correta, pois há bons médicos brasileiros e não há a necessidade de ‘importação’". Afirmou o estudante que cursa o quarto período, quando questionado se participaria ou não do Programa, mostrou-se indeciso e respondeu que talvez. 
O estudante Mendes Júnior, 26 anos, cursando o 1° período, afirmou que o Programa Mais médicos só seria interessante para a população se este estivesse ligado ao Revalida –  exame realizado com médicos que têm diploma no exterior para que possam atuar no Brasil.  “Não tem como saber o nível de competência de alguém sem algum tipo de avaliação”. Marcos Vinícius da Conceição, estudante do 5° período, afirma que “O governo, ao criar esse programa, quer colocar a culpa do caos na saúde pública para os ombros da classe médica. E nós sabemos que saúde é formada por várias classes de profissionais. Além de pessoas qualificadas, é necessário material, insumos, equipamentos e isso nenhum cubano irá trazer.”
 A questão do Revalida é muito cobrada pelos alunos, todos os entrevistados tocaram no assunto e se sentiram inseguros com relação à credibilidade dos médicos cubanos.  Os estudantes entrevistados também acreditam que não há concorrência de mercado entre eles e os médicos cubanos.  Por fim, Vinícius afirmou que “faz-se necessário dizer que se os médicos estrangeiros fizessem o Revalida, ficaríamos satisfeitos, afinal, mostrariam que possuem habilidades inerentes ao profissional médico.”.