Implantado em setembro, o programa em Sergipe
é considerado bem encaminhado até aqui – embora não seja a principal saída para
a melhoria da saúde sergipana
Por
Antônio Aragão e Victor Siqueira
Passados seis meses da medida provisória que
instituiu o Programa Mais Médicos, o governo federal ainda está longe da meta
de 13 mil profissionais prevista para março deste ano. Até agora, o PMM conta com 6.658 profissionais espalhados em todo o
território nacional. Os estados que mais receberam médicos foram a Bahia (787),
São Paulo (588), Ceará (572) e o Maranhão (445).
O estado
de Sergipe recebeu 78 médicos que foram distribuídos em 32 cidades: Aquidabã,
Aracaju, Arauá, Boquim, Brejo Grande, Canindé do São Francisco, Capela,
Cristinápolis, Gararu, Graccho Cardoso, Ilha das Flores, Indiaroba, Itabaiana,
Itabaianinha, Itaporanga d'Ajuda, Lagarto, Macambira, Neópolis, Nossa Senhora
Aparecida, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora de
Lourdes, Nossa Senhora do Socorro, Pacatuba, Poço Redondo, Porto da Folha,
Riachão do Dantas, Santa Luzia do Itanhy, Santana do São Francisco, Santo Amaro
das Brotas, São Cristóvão e São Francisco.
Destes, nove são
formados no Brasil e 69 no exterior, segundo dados da Secretaria de Saúde de
Sergipe. A Prefeitura Municipal de Aracaju recebeu 5 médicos em setembro de
2013 e na primeira semana de janeiro uma médica foi transferida para
Salvador-BA.
Na
Secretaria de Saúde de Aracaju a opinião é que o PMM é bom, porém não resolve o
problema da saúde pública: “a vinda de mais profissionais da medicina sempre é
bom, mas precisamos melhorar as condições estruturais, adequar a tabela do SUS
a realidade, oferecer suporte técnico para que o trabalho dos médicos possam efetivamente
melhorar a saúde dos mais carentes”, opinou a jornalista Cristina
Rochadel, assessora de comunicação da Secretaria.
A
reportagem também visitou a Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Celso Daniel no
bairro Santa Maria, localizado na periferia de Aracaju, e conversou com a Dra.
Mariana Miranda, médica participante do PMM, mineira formada na Universidade
Federal de Juiz de Fora, que aderiu ao Programa com objetivo de conhecer novas
realidades do País e nesse aspecto, ela considera que está valendo a pena: “o
PMM está sendo uma decepção, tudo que o edital exigiu nós estamos cumprindo,
porém nem a prefeitura de Aracaju e nem o Ministério estão fazendo a parte
deles. Criam um monte de dificuldade para os médicos e isso acaba gerando uma
experiência negativa para usuários e profissionais”.Essa opinião não é
compartilhada nem por Luana Pinheiro, enfermeira e gerente da UBS, e nem por
Kelly Ferreira, moradora da região e usuária da Unidade que afirmaram ser o PMM
uma boa iniciativa, levando mais médicos para as comunidades carentes e
contribuindo com a melhora na saúde pública.
Fomos à Unidade Básica de Saúde José Alves Santos, no conjunto
Taiçoca de Dentro, em Nossa Senhora do Socorro. Lá, trabalham dois médicos
cubanos: Yudeles Peña, 36 anos, vinda da província de Las Tunas, e Yrelio
Perez, 47 anos, original de Villa Clara. Os dois são especialistas em medicina
familiar; foram especializados em Cuba, e ao chegar ao Brasil tiveram que
repetir o curso, mas com adaptações. Quando questionados sobre as dificuldades
de mudar de país para exercer sua profissão, os dois médicos citam a
solidariedade de sua classe, e sua contribuição para a saúde de outros
países: “Os
médicos cubanos são solidários. Somos médicos internacionalistas, ajudamos quem
precisa, seja de qualquer lugar”, diz Yudeles. Eles comentaram também
sobre as necessidades do posto médico em que trabalham. Segundo eles, falta
material básico para exercerem sua profissão, como curativos, intravenosos e
penicilina. Yrelio critica a estrutura da Unidade, e fala sobre a reforma no
posto: “A estrutura está deteriorada, por isso vai ser reformada no fim de
janeiro. Não sei para onde vou enquanto a Unidade estiver em obras, mas espero
que tenha mais recursos do que essa”, diz.
Uma questão que marcou o Programa foi a rejeição da maior
parte da comunidade médica brasileira, por causa do Exame Nacional de
Revalidação do Diploma, que os médicos cubanos não precisaram fazer. O episódio
mais marcante foram as vaias ao médico cubano Juan Delgado, 49 anos, no
desembarque ao aeroporto de Fortaleza. Sobre o contato com outros médicos,
Yrelio diz: “Conheci uma médica que sempre foi amável conosco, nunca nos
disse algo negativo. Aqui em Sergipe tudo tem acontecido bem, a Secretaria
nos trata bem e a relação com a população é ótima”. Já Yudeles diz que
não mantém contato com outros médicos, e que apenas foram bem recebidos pela
população e pelos médicos da Unidade.
A população aprova o atendimento e as mudanças na Unidade
desde a chegada de Yudeles e Yrelio. Maria de Lourdes dos Santos, 31 anos, é
paciente da UBS José Alves Santos e elogia os médicos: “Agora melhorou, pelo
menos todo dia tem médico. Melhorou muita coisa,antes a gente era mal atendido,
e hoje somos bem antendidos e saímos satisfeitos”.
Para o estudante de Medicina da Universidade Federal de
Sergipe, Bruno Xavier, o Mais Médicos não é a melhor solução para ampliar a
assistência médica à população mais carente:“ É utópico fazer apenas uma
medicina preventiva, como prega o governo. Precisa-se de remédios,
ambulatórios, urgências [...] ou seja, precisa de uma infraestrutura que essas
regiões não possuem.”
Cidade de Laranjeiras não adere ao Programa
Diferentemente dos municípios que procuraram suprir suas carências
na parte da saúde com o Programa Mais Médicos, Laranjeiras não se inscreveu no
PMM. Segundo a secretária de saúde do município, Roseane Gomes, todas as
Equipes de Saúde da Família (ESF) estão completas com médicos. Mas, sobre a
quantidade de médicos e enfermeiros do município, a Secretária diz o seguinte:
“ As ESF são insuficientes para dar cobertura na Atenção Básica . Por
isso mesmo já estamos elaborando um projeto de ampliação das equipes de Saúde
da Família, que passarão de oito Equipes para onze. No Hospital São João de
Deus foi realizado um grande investimento em recursos humanos com a contratação
de médicos especialistas para ampliar a oferta de serviços especializados.”.
Roseane não descarta a adesão ao PMM: “Assim que tivermos as Equipes de Saúde
implantadas, quem sabe?”.
O Hospital São João de Deus conta
com uma equipe de 15 médicos, que se revezam em seus plantões, e que atendem às
necessidades do hospital e da população da cidade, diz uma das administradoras
do Hospital, Elis Regina Campos. A paciente Maria José dos Santos aprova o
número de médicos: “Hoje não faltam médicos. Somos bem atendidos, e sem muita
demora. O único problema que tínhamos antes era quando os médicos entraram em
greve, e o hospital estava fechado. Mas hoje está tudo ótimo.”
Laranjeiras conta com o Hospital São
João de Deus e 17 postos de saúde, divididos em 18 povoados, para uma demanda
de 30.124 habitantes.