29 de jan. de 2014

Mais Médicos: Programa completa 6 meses


Implantado em setembro, o programa em Sergipe é considerado bem encaminhado até aqui – embora não seja a principal saída para a melhoria da saúde sergipana

Por Antônio Aragão e Victor Siqueira

   Passados seis meses da medida provisória que instituiu o Programa Mais Médicos, o governo federal ainda está longe da meta de 13 mil profissionais prevista para março deste ano. Até agora, o PMM conta com 6.658 profissionais espalhados em todo o território nacional. Os estados que mais receberam médicos foram a Bahia (787), São Paulo (588), Ceará (572) e o Maranhão (445).
   O estado de Sergipe recebeu 78 médicos que foram distribuídos em 32 cidades: Aquidabã, Aracaju, Arauá, Boquim, Brejo Grande, Canindé do São Francisco, Capela, Cristinápolis, Gararu, Graccho Cardoso, Ilha das Flores, Indiaroba, Itabaiana, Itabaianinha, Itaporanga d'Ajuda, Lagarto, Macambira, Neópolis, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do Socorro, Pacatuba, Poço Redondo, Porto da Folha, Riachão do Dantas, Santa Luzia do Itanhy, Santana do São Francisco, Santo Amaro das Brotas, São Cristóvão e São Francisco.
Destes, nove são formados no Brasil e 69 no exterior, segundo dados da Secretaria de Saúde de Sergipe. A Prefeitura Municipal de Aracaju recebeu 5 médicos em setembro de 2013 e na primeira semana de janeiro uma médica foi transferida para Salvador-BA.
   Na Secretaria de Saúde de Aracaju a opinião é que o PMM é bom, porém não resolve o problema da saúde pública: “a vinda de mais profissionais da medicina sempre é bom, mas precisamos melhorar as condições estruturais, adequar a tabela do SUS a realidade, oferecer suporte técnico para que o trabalho dos médicos possam efetivamente melhorar a saúde dos mais carentes, opinou a jornalista Cristina Rochadel, assessora de comunicação da Secretaria.
   A reportagem também visitou a Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Celso Daniel no bairro Santa Maria, localizado na periferia de Aracaju, e conversou com a Dra. Mariana Miranda, médica participante do PMM, mineira formada na Universidade Federal de Juiz de Fora, que aderiu ao Programa com objetivo de conhecer novas realidades do País e nesse aspecto, ela considera que está valendo a pena: “o PMM está sendo uma decepção, tudo que o edital exigiu nós estamos cumprindo, porém nem a prefeitura de Aracaju e nem o Ministério estão fazendo a parte deles. Criam um monte de dificuldade para os médicos e isso acaba gerando uma experiência negativa para usuários e profissionais”.Essa opinião não é compartilhada nem por Luana Pinheiro, enfermeira e gerente da UBS, e nem por Kelly Ferreira, moradora da região e usuária da Unidade que afirmaram ser o PMM uma boa iniciativa, levando mais médicos para as comunidades carentes e contribuindo com a melhora na saúde pública.
     Fomos à Unidade Básica de Saúde José Alves Santos, no conjunto Taiçoca de Dentro, em Nossa Senhora do Socorro. Lá, trabalham dois médicos cubanos: Yudeles Peña, 36 anos, vinda da província de Las Tunas, e Yrelio Perez, 47 anos, original de Villa Clara. Os dois são especialistas em medicina familiar; foram especializados em Cuba, e ao chegar ao Brasil tiveram que repetir o curso, mas com adaptações. Quando questionados sobre as dificuldades de mudar de país para exercer sua profissão, os dois médicos citam a solidariedade de sua classe, e sua contribuição para a saúde de outros países: “Os médicos cubanos são solidários. Somos médicos internacionalistas, ajudamos quem precisa, seja de qualquer lugar, diz Yudeles. Eles comentaram também sobre as necessidades do posto médico em que trabalham. Segundo eles, falta material básico para exercerem sua profissão, como curativos, intravenosos e penicilina. Yrelio critica a estrutura da Unidade, e fala sobre a reforma no posto: “A estrutura está deteriorada, por isso vai ser reformada no fim de janeiro. Não sei para onde vou enquanto a Unidade estiver em obras, mas espero que tenha mais recursos do que essa”, diz.
   Uma questão que marcou o Programa foi a rejeição da maior parte da comunidade médica brasileira, por causa do Exame Nacional de Revalidação do Diploma, que os médicos cubanos não precisaram fazer. O episódio mais marcante foram as vaias ao médico cubano Juan Delgado, 49 anos, no desembarque ao aeroporto de Fortaleza. Sobre o contato com outros médicos, Yrelio diz: “Conheci uma médica que sempre foi amável conosco, nunca nos disse algo negativo. Aqui em Sergipe tudo tem acontecido bem, a Secretaria nos trata bem e a relação com a população é ótima”. Já Yudeles diz que não mantém contato com outros médicos, e que apenas foram bem recebidos pela população e pelos médicos da Unidade.
   A população aprova o atendimento e as mudanças na Unidade desde a chegada de Yudeles e Yrelio. Maria de Lourdes dos Santos, 31 anos, é paciente da UBS José Alves Santos e elogia os médicos: “Agora melhorou, pelo menos todo dia tem médico. Melhorou muita coisa,antes a gente era mal atendido, e hoje somos bem antendidos e saímos satisfeitos”.
   Para o estudante de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, Bruno Xavier, o Mais Médicos não é a melhor solução para ampliar a assistência médica à população mais carente:“ É utópico fazer apenas uma medicina preventiva, como prega o governo. Precisa-se de remédios, ambulatórios, urgências [...] ou seja, precisa de uma infraestrutura que essas regiões não possuem.”

Cidade de Laranjeiras não adere ao Programa
   
   Diferentemente dos municípios que procuraram suprir suas carências na parte da saúde com o Programa Mais Médicos, Laranjeiras não se inscreveu no PMM. Segundo a secretária de saúde do município, Roseane Gomes, todas as Equipes de Saúde da Família (ESF) estão completas com médicos. Mas, sobre a quantidade de médicos e enfermeiros do município, a Secretária diz o seguinte: “ As ESF são insuficientes para dar cobertura na Atenção Básica . Por isso mesmo já estamos elaborando um projeto de ampliação das equipes de Saúde da Família, que passarão de oito Equipes para onze. No Hospital São João de Deus foi realizado um grande investimento em recursos humanos com a contratação de médicos especialistas para ampliar a oferta de serviços especializados.”.
   Roseane não descarta a adesão ao PMM: “Assim que tivermos as Equipes de Saúde implantadas, quem sabe?”.
   O Hospital São João de Deus conta com uma equipe de 15 médicos, que se revezam em seus plantões, e que atendem às necessidades do hospital e da população da cidade, diz uma das administradoras do Hospital, Elis Regina Campos. A paciente Maria José dos Santos aprova o número de médicos: “Hoje não faltam médicos. Somos bem atendidos, e sem muita demora. O único problema que tínhamos antes era quando os médicos entraram em greve, e o hospital estava fechado. Mas hoje está tudo ótimo.”
   Laranjeiras conta com o Hospital São João de Deus e 17 postos de saúde, divididos em 18 povoados, para uma demanda de 30.124 habitantes.


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