Em Socorro, médicos Cubanos são avaliados
positivamente
Para médicos, a maior dificuldade está na implantação
de uma cultura médica preventiva
Por Agatha Cristie e Tatiana dos Santos
Conhecido por ser um município que estar passando por
grandes transformações urbanísticas como consequência do projeto Grande
Aracaju, que objetiva fortalecer a economia do Estado, associando a atividade
industrial à habitação, Nossa Senhora do Socorro, distante 25 km da capital, foi um dos
31 municípios sergipanos que receberam médicos do programa Mais Médicos, do
Governo Federal.
Com a
implantação dessa nova cultura medica e possível avaliar os pontos positivos e
negativos que existem no SUS (sistema único de saúde), os médicos trarão a
unidade um conhecimento amplo, geral e global qual a melhor forma de melhorar a
saúde pública nos interiores sergipanos já que além de Cuba, atuaram em outros
países para adquirirem experiências relacionadas à prevenção da saúde e
conquistar sua formação na área médica preventiva.
No total, foram seis médicos cubanos apresentados à
população no mês de outubro do ano passado para atuar em três unidades básicas
de saúde, localizadas na área rural do município, nos conjuntos habitacionais
Guajará, Taiçoca de Dentro e na Taiçoca de Fora. Porém, o trabalho das quatros
médicas e dois médicos Yudelkys Del Rio Ambdaje, Yugit de Corte, Yudeina Montoya
e Yudelis Peña Rojas e dos médicos Yudelquis Rodriguez e Yrelio Ramo Lugo Perez
só começou em novembro, por causa dos treinamentos e testes promovidos pela
Secretaria Estadual de Saúde e pelo Conselho Regional de Medicina, dos quais
todos foram obrigados a participar.
Apesar de todo o rápido processo de desenvolvimento,
Nossa Senhora do Socorro vive uma contradição no que diz respeito à prestação
do serviço público na área da saúde. A situação se agrava na zona rural. Com
uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) em 2013, de 172.547 habitantes e tendo o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) considerado médio (0,664), a rede de saúde do município conta
apenas com 27 postos de saúde, e até os seis médicos cubanos chegarem à cidade
o déficit era de 13 médicos.
Médicos
Cubanos trabalham de segunda a sexta, manhã e tarde.
De acordo com Ionara Santa Rosa, assessora do programa
de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde, ao qual os médicos cubanos
estão vinculados, existia uma demanda reprimida do número de pacientes
atendidos, já que antes o atendimento médico não era diário. “É determinação do
Ministério da Saúde que os médicos trabalhem em regime de dedicação exclusiva
nos postos para onde foram designados. E assim foi feito, aqui. Eles trabalham
de segunda a sexta, manhã e tarde. No antigo regime, os médicos concursados não
atendem diariamente, tal como ainda funciona nos outros postos de saúde que não
receberam os cubanos”, explica, a assessora formada em Enfermagem.
Para ela, esse já é um ponto importante de ser
avaliado. “A dedicação exclusiva permite que o trabalho possa ser continuado.
Isso é de grande importância. Além disso, nunca tivemos nenhum tipo de problema
com os cubanos. Eles atuam dentro das nossas expectativas, atendendo a
população de forma satisfatória. Nunca observamos problemas nem mesmo
relacionados ao idioma deles”, afirma. Ionara informa ainda que os médicos
cubanos passam por avaliações periódicas. “Já aconteceu uma primeira avaliação
da Secretaria Estadual de Saúde, e na semana que vem, um representante do
Ministério da Saúde deve vir para avaliá-los também”, disse.
Segundo o médico cubano Yudelquis Rodriguez Hernández,
34 anos, lotado na Unidade Básica de Saúde Professor Luiz Pereira da Silva,
localizada na Taiçoca de Fora, a demanda reprimida de atendimentos já começou a
ser vencida. Ele atende em média 30 pacientes por dia, entre consultas
agendadas e demanda espontânea. “Quando cheguei nesta unidade de saúde não tinha
médico permanente. Então o trabalho ainda está um pouco desorganizado, já que
começamos a atuar tem pouco mais de dois meses. Mas já estamos trabalhando com
toda a equipe de saúde para melhorar a situação. É claro que mudança do
trabalho não pode ser, cheguei e está tudo resolvido, pelo contrário, é um
processo pouco a pouco”, acredita.
Especialista em medicina da família e saúde primária,
com 11 anos de formação e experiência de atuação em outros países além de Cuba,
Yudelquis Rodriguez diz que veio para Sergipe ajudar aos mais carentes. “A
minha motivação foi à necessidade do povo brasileiro mais carente. O Brasil
ainda é um país carente de assistência médica primária. Eu vim ajudar, só isso.
Além disso, fiquei surpreso com a recepção calorosa que tivemos ao chegar no
aeroporto. Foi um acolhimento muito bom. Até a nossa relação com os médicos
brasileiros daqui de Socorro também é muito boa ”, conta.
Avaliando
Para a estudante, Renata Silva Santos, 17 anos,
moradora da Taiçoca, o atendimento na Unidade Professor Luiz Pereira da Silva
está melhorando. “Com a chegada dos médicos o atendimento à comunidade ficou
melhor pra nós. Além da facilidade em agendar consulta sem precisar enfrentar
fila ou estar no local logo cedo. A minha avó vem sempre ao posto, porque ela é
hipertensa, e me falava que quando estavam os médicos de antigamente [os
brasileiros] o atendimento era ruim porque eles chegavam muito tarde e ainda
atendiam somente um turno. Agora tem médico o dia todo. Assim é muito melhor",
disse. Renata estava ansiosa pela primeira consulta com os cubanos. "É
tudo uma descoberta, eu não sei como vou ser tratada, mas espero que ocorra
tudo bem”, confia.
A técnica auxiliar de enfermagem Roberta Santos, 31
anos, trabalha há 8 anos na Taiçoca e também avalia que há uma melhora na
questão da disponibilidade do médico. “O lado positivo é chegar á unidade e ter
a consulta com o médico que realmente precisa. Coisa que não tinha antigamente
porque existia uma dificuldade muito grande para marcar consulta médica. Sem
falar que hoje existe uma flexibilidade com relação aos médicos do Programa
pelo fato de eles estarem todo o dia em período integral, facilitando a
marcação". Diferente do que disse a assessora do Programa de Atenção
Básica, Ionara Santa Rosa. A enfermeira Roberta percebe uma certa dificuldade
com relação ao idioma dos novos médicos. "Pessoas com menor grau de
instrução possui maior dificuldade em entender a linguagem dos cubanos”,
relata.
Já a dona de casa Maria Iolanda dos Santos, 45 anos,
mãe de três filhos, moradora da Taiçoca há 16 anos, contou para a equipe do
BLOG CONTEXTO, durante a consulta médica com Yudelquis Rodriguez, que apesar de
não gostar de ir ao médico foi bem atendida. “Não gosto de médico, mas a
consulta foi ótima, fui muito bem atendida. O médico é calmo, atencioso.
Geralmente eu me trato mesmo é com mato, só vim dessa vez porque não tinha mais
jeito, mas com certeza eu vou voltar mais vezes”, afirma.
Nova
cultura médica
Para a médica cubana Yudelkys Del Rio, 36 anos, também
designada para trabalhar na Unidade Básica de Saúde Professor Luiz Pereira da
Silva, da Taiçoca de Fora, a maior dificuldade é implantar uma nova cultura de
medicina preventiva. “O trabalho aqui é um pouco complicado. A população está
acostumada com a medicina assistencial. Têm pacientes que não conhecem nem o
básico sobre prevenção de saúde, seja um conhecimento sobre dieta, exercícios
físicos, e etc., que contam como fatores de riscos para algumas doenças. Mas
neste momento inicial estamos trabalhando para mudar essa cultura da população,
no sentido de estimular que as consultas sejam continuadas, com um
acompanhamento dos casos. A meta é desenvolver um trabalho educativo, no
sentido de fortalecer uma prática médica preventista”, revela.
Outra dificuldade observada pela médica Yudelkys é a
falta de agentes comunitários e de toda equipe do PSF auxiliando no trabalho
preventivo. “Na unidade, estamos trabalhando para que esse também seja o perfil
de toda a equipe, obviamente no inicio é um pouco complicado, a falta de
agentes comunitários também dificulta um pouco. Mas acho que pouco a pouco
vamos melhorando e nesse curto tempo já temos alguns resultados positivos como,
por exemplo, o aumento de consultas agendadas já nesse mês de janeiro”, nota.
A médica também crítica a demora do Sistema Único de
Saúde na marcação de exames, e faz uma comparação com o sistema em Cuba.
"Lá as coisas fluem melhor. Por exemplo, nós contamos em nossas
policlínicas com especialistas como pediatras, obstetra, psicólogos, clínicos
gerais e etc. Então, quando temos uma consulta que precisa com uma dessas
especialidades é muito mais rápido que aqui. Se queremos fazer um exame
laboratorial fazemos o requerimento e no outro dia o paciente faz. Já aqui tudo
marca pela internet e a fila que antes era na porta do hospital, agora se
repete no espaço virtual", observa.
Polêmica
Assim como em todo o país, em Sergipe a chegada dos
médicos cubanos também foi tema polêmico. Opiniões contrárias á eficácia do Programa
Mais Médico ainda persistem no meio acadêmico e profissional. O estudante de
Medicina da Universidade Federal de Sergipe Vinícius Vasconcelos Sobras, 7º
período, acredita que o problema da saúde no Brasil não está relacionado à
falta de profissionais. “O problema é estrutural. Postos de saúde sucateados,
falta de remédios etc. Acredito que a maioria da população vê o programa como
eficaz, mas para mim é pura propaganda eleitoreira. Acho que não vai melhorar a
saúde, embora pareça como um socorro importante”, avalia.
Apesar do Conselho Regional de Medicina em Sergipe
(Cremese) ter concedido todos os registros dos médicos que vieram trabalhar no Programa
Mais Médico, a posição do Conselho se mantém contrária. Para a presidente da
instituição, Rosa Amélia Andrade Dantas, o momento é de unidade entre toda a
classe médica contra o que ela considera um ataque do governo federal à
categoria. "Dilma está colocando a culpa de tudo que há de ruim na saúde
pública nos médicos. Só que saúde não é só os médicos. E é justamente isso que
estamos denunciando nesse Programa Mais Médicos. Precisamos de condições de
trabalho, salários melhores, plano de carreira e concurso público. Só médico
não resolve, a situação dos postos de saúde é lamentável na maioria dos casos. Além
disso, o programa não obriga os médicos a fazer o exame do Revalida, isso nós
somos totalmente contrários", argumenta.
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[10.454 carct.]
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