27 de jan. de 2014

Em Socorro médicos cubanos são avaliados positivamente



Em Socorro, médicos Cubanos são avaliados positivamente
Para médicos, a maior dificuldade está na implantação de uma cultura médica preventiva
Por Agatha Cristie e Tatiana dos Santos
Conhecido por ser um município que estar passando por grandes transformações urbanísticas como consequência do projeto Grande Aracaju, que objetiva fortalecer a economia do Estado, associando a atividade industrial à habitação, Nossa Senhora do Socorro, distante 25 km da capital, foi um dos 31 municípios sergipanos que receberam médicos do programa Mais Médicos, do Governo Federal.
 Com a implantação dessa nova cultura medica e possível avaliar os pontos positivos e negativos que existem no SUS (sistema único de saúde), os médicos trarão a unidade um conhecimento amplo, geral e global qual a melhor forma de melhorar a saúde pública nos interiores sergipanos já que além de Cuba, atuaram em outros países para adquirirem experiências relacionadas à prevenção da saúde e conquistar sua formação na área médica preventiva.
No total, foram seis médicos cubanos apresentados à população no mês de outubro do ano passado para atuar em três unidades básicas de saúde, localizadas na área rural do município, nos conjuntos habitacionais Guajará, Taiçoca de Dentro e na Taiçoca de Fora. Porém, o trabalho das quatros médicas e dois médicos Yudelkys Del Rio Ambdaje, Yugit de Corte, Yudeina Montoya e Yudelis Peña Rojas e dos médicos Yudelquis Rodriguez e Yrelio Ramo Lugo Perez só começou em novembro, por causa dos treinamentos e testes promovidos pela Secretaria Estadual de Saúde e pelo Conselho Regional de Medicina, dos quais todos foram obrigados a participar.
Apesar de todo o rápido processo de desenvolvimento, Nossa Senhora do Socorro vive uma contradição no que diz respeito à prestação do serviço público na área da saúde. A situação se agrava na zona rural. Com uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013, de 172.547 habitantes e tendo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado médio (0,664), a rede de saúde do município conta apenas com 27 postos de saúde, e até os seis médicos cubanos chegarem à cidade o déficit era de 13 médicos.
               
 Médicos Cubanos trabalham de segunda a sexta, manhã e tarde.
De acordo com Ionara Santa Rosa, assessora do programa de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde, ao qual os médicos cubanos estão vinculados, existia uma demanda reprimida do número de pacientes atendidos, já que antes o atendimento médico não era diário. “É determinação do Ministério da Saúde que os médicos trabalhem em regime de dedicação exclusiva nos postos para onde foram designados. E assim foi feito, aqui. Eles trabalham de segunda a sexta, manhã e tarde. No antigo regime, os médicos concursados não atendem diariamente, tal como ainda funciona nos outros postos de saúde que não receberam os cubanos”, explica, a assessora formada em Enfermagem.

Para ela, esse já é um ponto importante de ser avaliado. “A dedicação exclusiva permite que o trabalho possa ser continuado. Isso é de grande importância. Além disso, nunca tivemos nenhum tipo de problema com os cubanos. Eles atuam dentro das nossas expectativas, atendendo a população de forma satisfatória. Nunca observamos problemas nem mesmo relacionados ao idioma deles”, afirma. Ionara informa ainda que os médicos cubanos passam por avaliações periódicas. “Já aconteceu uma primeira avaliação da Secretaria Estadual de Saúde, e na semana que vem, um representante do Ministério da Saúde deve vir para avaliá-los também”, disse.

Segundo o médico cubano Yudelquis Rodriguez Hernández, 34 anos, lotado na Unidade Básica de Saúde Professor Luiz Pereira da Silva, localizada na Taiçoca de Fora, a demanda reprimida de atendimentos já começou a ser vencida. Ele atende em média 30 pacientes por dia, entre consultas agendadas e demanda espontânea. “Quando cheguei nesta unidade de saúde não tinha médico permanente. Então o trabalho ainda está um pouco desorganizado, já que começamos a atuar tem pouco mais de dois meses. Mas já estamos trabalhando com toda a equipe de saúde para melhorar a situação. É claro que mudança do trabalho não pode ser, cheguei e está tudo resolvido, pelo contrário, é um processo pouco a pouco”, acredita.

Especialista em medicina da família e saúde primária, com 11 anos de formação e experiência de atuação em outros países além de Cuba, Yudelquis Rodriguez diz que veio para Sergipe ajudar aos mais carentes. “A minha motivação foi à necessidade do povo brasileiro mais carente. O Brasil ainda é um país carente de assistência médica primária. Eu vim ajudar, só isso. Além disso, fiquei surpreso com a recepção calorosa que tivemos ao chegar no aeroporto. Foi um acolhimento muito bom. Até a nossa relação com os médicos brasileiros daqui de Socorro também é muito boa ”, conta.

 Avaliando
Para a estudante, Renata Silva Santos, 17 anos, moradora da Taiçoca, o atendimento na Unidade Professor Luiz Pereira da Silva está melhorando. “Com a chegada dos médicos o atendimento à comunidade ficou melhor pra nós. Além da facilidade em agendar consulta sem precisar enfrentar fila ou estar no local logo cedo. A minha avó vem sempre ao posto, porque ela é hipertensa, e me falava que quando estavam os médicos de antigamente [os brasileiros] o atendimento era ruim porque eles chegavam muito tarde e ainda atendiam somente um turno. Agora tem médico o dia todo. Assim é muito melhor", disse. Renata estava ansiosa pela primeira consulta com os cubanos. "É tudo uma descoberta, eu não sei como vou ser tratada, mas espero que ocorra tudo bem”, confia.
A técnica auxiliar de enfermagem Roberta Santos, 31 anos, trabalha há 8 anos na Taiçoca e também avalia que há uma melhora na questão da disponibilidade do médico. “O lado positivo é chegar á unidade e ter a consulta com o médico que realmente precisa. Coisa que não tinha antigamente porque existia uma dificuldade muito grande para marcar consulta médica. Sem falar que hoje existe uma flexibilidade com relação aos médicos do Programa pelo fato de eles estarem todo o dia em período integral, facilitando a marcação". Diferente do que disse a assessora do Programa de Atenção Básica, Ionara Santa Rosa. A enfermeira Roberta percebe uma certa dificuldade com relação ao idioma dos novos médicos. "Pessoas com menor grau de instrução possui maior dificuldade em entender a linguagem dos cubanos”, relata.
Já a dona de casa Maria Iolanda dos Santos, 45 anos, mãe de três filhos, moradora da Taiçoca há 16 anos, contou para a equipe do BLOG CONTEXTO, durante a consulta médica com Yudelquis Rodriguez, que apesar de não gostar de ir ao médico foi bem atendida. “Não gosto de médico, mas a consulta foi ótima, fui muito bem atendida. O médico é calmo, atencioso. Geralmente eu me trato mesmo é com mato, só vim dessa vez porque não tinha mais jeito, mas com certeza eu vou voltar mais vezes”, afirma.
Nova cultura médica
Para a médica cubana Yudelkys Del Rio, 36 anos, também designada para trabalhar na Unidade Básica de Saúde Professor Luiz Pereira da Silva, da Taiçoca de Fora, a maior dificuldade é implantar uma nova cultura de medicina preventiva. “O trabalho aqui é um pouco complicado. A população está acostumada com a medicina assistencial. Têm pacientes que não conhecem nem o básico sobre prevenção de saúde, seja um conhecimento sobre dieta, exercícios físicos, e etc., que contam como fatores de riscos para algumas doenças. Mas neste momento inicial estamos trabalhando para mudar essa cultura da população, no sentido de estimular que as consultas sejam continuadas, com um acompanhamento dos casos. A meta é desenvolver um trabalho educativo, no sentido de fortalecer uma prática médica preventista”, revela.
Outra dificuldade observada pela médica Yudelkys é a falta de agentes comunitários e de toda equipe do PSF auxiliando no trabalho preventivo. “Na unidade, estamos trabalhando para que esse também seja o perfil de toda a equipe, obviamente no inicio é um pouco complicado, a falta de agentes comunitários também dificulta um pouco. Mas acho que pouco a pouco vamos melhorando e nesse curto tempo já temos alguns resultados positivos como, por exemplo, o aumento de consultas agendadas já nesse mês de janeiro”, nota.
A médica também crítica a demora do Sistema Único de Saúde na marcação de exames, e faz uma comparação com o sistema em Cuba. "Lá as coisas fluem melhor. Por exemplo, nós contamos em nossas policlínicas com especialistas como pediatras, obstetra, psicólogos, clínicos gerais e etc. Então, quando temos uma consulta que precisa com uma dessas especialidades é muito mais rápido que aqui. Se queremos fazer um exame laboratorial fazemos o requerimento e no outro dia o paciente faz. Já aqui tudo marca pela internet e a fila que antes era na porta do hospital, agora se repete no espaço virtual", observa.
Polêmica
Assim como em todo o país, em Sergipe a chegada dos médicos cubanos também foi tema polêmico. Opiniões contrárias á eficácia do Programa Mais Médico ainda persistem no meio acadêmico e profissional. O estudante de Medicina da Universidade Federal de Sergipe Vinícius Vasconcelos Sobras, 7º período, acredita que o problema da saúde no Brasil não está relacionado à falta de profissionais. “O problema é estrutural. Postos de saúde sucateados, falta de remédios etc. Acredito que a maioria da população vê o programa como eficaz, mas para mim é pura propaganda eleitoreira. Acho que não vai melhorar a saúde, embora pareça como um socorro importante”, avalia.
Apesar do Conselho Regional de Medicina em Sergipe (Cremese) ter concedido todos os registros dos médicos que vieram trabalhar no Programa Mais Médico, a posição do Conselho se mantém contrária. Para a presidente da instituição, Rosa Amélia Andrade Dantas, o momento é de unidade entre toda a classe médica contra o que ela considera um ataque do governo federal à categoria. "Dilma está colocando a culpa de tudo que há de ruim na saúde pública nos médicos. Só que saúde não é só os médicos. E é justamente isso que estamos denunciando nesse Programa Mais Médicos. Precisamos de condições de trabalho, salários melhores, plano de carreira e concurso público. Só médico não resolve, a situação dos postos de saúde é lamentável na maioria dos casos. Além disso, o programa não obriga os médicos a fazer o exame do Revalida, isso nós somos totalmente contrários", argumenta.
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