27 de jan. de 2014

Seis meses do Mais Médicos

Mais Médicos em Sergipe: aceitação, porém precariedade
Quase três meses após segundo ciclo, Mais Médicos em Nossa Senhora do Socorro lida com condições precárias, problemas na comunicação com os médicos e demora nos atendimentos, apesar de boa aceitação por parte da população.

Por Denner Perazzo e Ullisses Machado

Mais Médicos é um programa lançado para suprir a carência de médicos nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades do Brasil, fixando médicos, brasileiros ou estrangeiros, na rede pública de saúde. Como a própria Presidenta Dilma confirmou, o Nordeste será prioridade na recepção dos profissionais, e é o que temos visto nesses seis meses do Programa, com mais de mil profissionais enviados para a região.

O PMM está na sua segunda etapa, e, totalizando desde o início, Sergipe já recebeu 79 profissionais, sendo 66 estrangeiros - todos cubanos -, 11 brasileiros e dois intercambistas, segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe (SES). Na primeira etapa, apenas Aracaju e São Cristóvão tinham recebido os médicos. Porém, na segunda, Umbaúba, Aquidabã, Boquim, Capela, Cristinápolis, Ilha das Flores, Pacatuba, Lagarto, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora do Socorro, Poço Redondo e Santa Luzia do Itanhy foram contempladas com os profissionais.

Em Nossa Senhora do Socorro, até o momento, chegaram seis médicos, todos de origem cubana. Desde o dia 30 de outubro do ano passado, as médicas Yudelkys Del Rio Ambdaje, Yugit de Corte, Yudenia Montoya e Yudelis Peña Rojas; e os médicos Yudelquis Rodriguez e Yrelio Ramon Lugo Perez, foram incumbidos da difícil tarefa de promover mudanças no funcionamento dos postos e melhorar a saúde da população. A cidade contava com um déficit de 13 médicos, o que evidencia a providência desse recrutamento. No entanto, segundo eles ainda levará um tempo para solucionar todos os problemas, mas estão traçando um caminho para a melhora no atendimento, voltando-o para a prevenção das doenças, que deve ser continuado por outros profissionais. Para isso, apostam na organização e coletividade no trabalho.

Visão dos médicos


"Antes de chegarmos à unidade, não havia um médico permanente, alguém que organizasse a equipe. Desde o início do ano, estamos conseguindo unir e organizar a equipe do posto. A população que será beneficiada com esse espírito.", informou a médica Yudelkys Del Rio Ambdaje, que possui 12 anos de profissão, todos em seu país natal.

Sobre o contato população local, Yudelkys e Yudelquis, que trabalham na Unidade Básica de Saúde, Bairro Taicota de Fora, afirmam que os pacientes têm ido ao posto somente para encontrá-los, aparecem uma vez e sempre voltam trazendo a família, para também serem consultados pelos novos médicos. Yudelkys ressaltou que o atendimento era voltado para a medicação, mas que o foco agora é a prevenção, maior cuidado com as doenças mais graves e acompanhamento de gestantes e crianças menores de um ano. A falta de informação da população é um fator preocupante para a médica.

"Assim que chegamos, realizamos diversos mutirões de consultas, mas ainda falta na população um maior conhecimento sobre a sua saúde, entender o que pode e o que não pode, o que te faz bem e o que não faz.", disse a cubana.

Em relação ao PMM, os médicos afirmam que ainda levará um tempo para solucionar os problemas na saúde pública brasileira, mas que o Programa e os profissionais colaboram bastante para isso.

Pacientes se mostraram satisfeitos com a disponibilidade de profissionais e informaram que "nessa unidade, todos gostaram da vinda dos médicos, já que estavam há semanas sem atendimento". No entanto, apontaram como dificuldades mais comuns a comunicação (em relação aos estrangeiros), precariedade de estrutura e demora dos atendimentos. Essas pendências reforçam a posição das entidades médicas e de estudantes.

Entidades médicas


Embora tenha 84% de aprovação da população brasileira - segundo pesquisa feita pela CNT/MDA -, o Programa Mais Médicos tem a recusa das entidades médicas e dos profissionais e estudantes brasileiros de Medicina.

O programa promete a abertura de dez mil novos postos de empregos para médicos em regiões mal atendidas, como o interior do país e a periferia das grandes cidades. Para isto, a medida assinada pela presidente prevê que, a partir de 2015, a grade curricular das escolas de Medicina públicas e privadas tenham um ciclo de dois anos de trabalho obrigatório para a rede pública, como parte da formação do médico. Assim, o aluno que entrar numa escola de Medicina em 2015 receberá o diploma e o registro definitivo no Conselho Regional de Medicina em 2023.

Porém, a principal reivindicação da maioria da comunidade médica brasileira, é sobre o Revalida - Exame Nacional de Revalidação do Diploma -, que os estrangeiros que vierem trabalhar no Programa não precisam fazer, só depois de seis anos, caso renovem seus contratos. Para falar sobre isso e dar sua opinião sobre o PMM, entrevistamos o estudante Andrews Oliveira Duyprath de Andrade, 17 anos, que está no segundo período do curso de Medicina, da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Qual sua posição sobre o programa?


"Eu sou contra o programa Mais Médicos."

Você acha que o programa foi a melhor escolha pra amenizar os problemas da saúde no país?


"Não. Para mim, o programa Mais Médicos foi uma jogada política dos que estão no governo atualmente, já que esse ano haverá eleições. Acredito nisso, pois esse programa não resolve o principal problema apontado por profissionais e usuários da saúde pública atualmente, que é a pouca infraestrutura, apenas servindo para aumentar o número de médicos. Ter mais profissionais não é ter uma saúde melhor. A proposta do Mais Médicos foi de, primeiramente, abrir vagas de trabalho em locais de periferia e interior do país com o salário de R$ 10.000,00 para brasileiros e depois para estrangeiros sem o Revalida. Esse é um exame onde o diploma do médico estrangeiro é revalidado, cuja prova tem a fama de ser muito difícil. Acredito que essa tem que ter um grau de dificuldade elevada, pois os médicos têm que estar preparados para situações de risco elevado para o paciente. Outra parte do programa seria a abertura de novas vagas de Medicina, o que é bom se a instituição de ensino superior em que essas forem abertas tiver a capacidade de promover um bom ensino da Medicina. Isso requer professores qualificados, infraestrutura, um bom hospital escola, entre outros. Enfim, acredito que o programa Mais Médicos possui algumas falhas, que não foram reparadas, que pode ser comprovado pelo número de problemas que já ocorreram com os médicos estrangeiros que estão associados com o programa, em parte devido a pouca infraestrutura, além de pouca competência médica de alguns desses profissionais que muitas vezes não é publicada nos meios de comunicação de massa."
 

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