6 de jun. de 2011

Tobias Barreto

O ‘‘notório’’ condor sergipano



Por Eduardo Ferreira Santos
Quando as palavras ‘‘ Tobias Barreto ’’ são mencionadas fora de um contexto, o senso comum do povo sergipano rememora e faz inúmeras menções: à cidade, ao teatro, à praça, ao colégio, entre outros órgãos que ostentam esse nome. É indiscutível a utilização dessas duas palavras para titular as mais diversas ‘‘coisas’’ pertencentes ao cotidiano sergipano.
Já que esse nome próprio é tão notório no Estado, o Contexto Repórter B foi justamente à Praça Tobias Barreto, situada no Bairro São José, em Aracaju, inquirir aos populares se eles sabiam de fato, quem foi esse homem que ostenta todas essas homenagens. Lá foram ouvidas aproximadamente 20 pessoas, dentro de uma faixa etária de 15 a 70 anos, constituída de estudantes, trabalhadores do local e aposentados. Dentre todos os cidadãos questionados, apenas três conheciam alguma atribuição do ‘‘notório’’ Tobias Barreto.
Acompanhe abaixo momentos importantes da vida desse ilustre sergipano:
Juventude Obstinada
Tobias Barreto de Meneses nasceu no dia 07 de junho de 1839, no povoado Villa de Campos do Rio Real (atual município de Tobias Barreto), agreste sergipano. Filho de Emerenciana Maria de Jesus e Pedro Barreto de Meneses, camponeses mestiços da região.
Aos 15 anos resolve ir morar sozinho no município de Estância, para trabalhar e estudar, pois seus pais muito pobres mal tinham condições de sustenta-lo, tampouco custear sua sede por conhecimento. No mesmo ano, se destaca nos estudos da língua mãe, o latim e começa a lecionar gramática, peregrinando durante quatro anos por diversas cidades do interior, como: Lagarto, Maruim e Riachão.
Nos cinco anos seguintes, conciliando os estudos com o trabalho, madrugando noites afinco e tendo como única forma de lazer as atividades de cantor e flautista na Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (a mais antiga instituição musical brasileira, fundada em 1745), de Itabaiana. Tobias tem seus esforços reconhecidos pela Assembleia Provincial, que o concede uma licença para cursar a Faculdade de Direito do Recife, até então, um dos únicos cursos superiores do país. Contudo, antes de iniciar sua trajetória acadêmica, resolve ir para um seminário na Bahia, lá tem lições de teologia e filosofia, mas sem vocação latente para a vida regrada e sem condições de sobrevivência, abandona a instituição e volta para sua cidade natal, levando consigo uma paixão arraigada pela filosofia.
O Momento ‘ ‘Condor’’
Um ano se passa e o jovem agora tem entre 20 e 21 anos, resolve iniciar sua graduação e vai morar em Recife, ‘‘ a cabocla civilizada’’, segundo ele. É na cidade que Tobias desenvolve intensamente o gosto pela poesia e pelo Romantismo (1836-1881), estilo literário em foco na época.
Nesse período a América do Sul estava passando pelo seu maior conflito armado até então, a Guerra do Paraguai (1864-1870) e o Brasil era um dos protagonistas. É nesse cenário e com essa temática que Tobias se torna um exímio e inflamado poeta, conclamando o povo à luta e reacendendo o espírito ufanista dos pernambucanos.
Nessa mesma época se envolve em embates político-ideológicos com o poeta baiano, Castro Alves, a quem Tobias superava nesse âmbito. Essa rivalidade se estendia até para a esfera passional, pois algumas vezes, ambos cortejavam as mesmas moças, e numa época imbuída de preconceitos propiciados pela escravatura, Castro levava vantagem, pois Tobias era mulato.
Apesar de todas as desavenças, ambos ditaram a ideologia da terceira geração do Romantismo no Brasil, através do Condoreirismo, escola literária marcada pelas temáticas de igualdade de direitos. O poeta sergipano foi o fundador e o baiano o difusor mor da escola.
Cinco anos se transcorrem e Tobias Barreto começa a pleitear vagas para o magistério. É aprovado em primeiro lugar para a cadeira de Filosofia do Ginásio Pernambucano, mas é preterido por um candidato doutorado em filosofia pela Universidade de Louvain, da França. Essa injustiça o deixa furioso, pois além de ser defensor das ideias germanistas, era averso ao predomínio da cultura francesa no país.
O Ápice da Vida
Agora, aos 30 anos e antes de concluir o curso de direito, casa-se com Grata Malfada dos Santos, filha de um coronel proprietário de engenhos no município de Escada, interior de Pernambuco. Alguns meses depois, termina sua graduação e já com nome feito como poeta, orador das massas, crítico de filosofia e pesquisador jurídico extenso, vai morar em Escada.
Nos dez anos que se sucedem, dedicou-se à politica e ao jornalismo. Na política fazia incursões à propaganda abolicionista e republicana, se filiou ao Partido Liberal, consequentemente sendo eleito deputado à Assembleia Provincial, exercendo um de seus maiores dons na plenária, a oratória. Utilizou o jornalismo como a ferramenta de difusão do germanismo e de suas ideias igualitárias, fundando o jornal ‘‘Um Signal dos Tempos’’ e editando o ‘‘ Deutscer Kaempfer’’ (O campeão alemão). Além de publicar seu primeiro livro ‘‘Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica’’, uma compilação de artigos publicados na imprensa recifense.
Por volta dos 40 anos , envolve-se em acontecimentos memoráveis e polêmicos, dentre eles está um episódio que quase lhe custou à vida. Após a morte de seu sogro, alforriou todos os escravos da propriedade, fato que causou a ira dos latifundiários da região, que cercaram sua casa. Tobias tentou uma resistência frustrada, através de sua eloquência e da imprensa, no entanto acabou cedendo e retornou à Recife.
Em seu retorno, publica ‘‘ Dias e Noites’’, um livro de poesias que se consolida e tem o respaldo da crítica. No ano seguinte,ele resolve candidatar-se a catedrático da Faculdade de Direito do Recife, consegue a nomeação e se torna o maior mentor intelectual da faculdade ( fato que repercute até hoje, pois a instituição ostenta o apelido carinhoso ‘‘A Casa de Tobias’’, em sua homenagem ) e renova os conceitos filosóficos e jurídicos dos discentes, baseando-se no germanismo.
Os Últimos Anos
Todavia, entre três e quatros anos após seu ingresso no magistério, Tobias é acometido por doenças que o debilitavam e o fazem deixar de lecionar, continuou publicando obras. Mas gradativamente caminhou para o ‘‘ostracismo’’, provocado pelas enfermidades e sua decadência financeira. E no dia 26 de junho de 1889, aos 50 anos falece o filósofo, poeta, político, crítico, orador, jurista e jornalista, Tobias Barreto de Meneses.
Para muitos, dentre eles o escritor Graça Aranha, Tobias foi uma maiores personalidades de sua época.

Obras Completas Publicadas:
- "Ensaios e estudos de filosofia e crítica ", 1975;
- "Brasilien, wie es ist, " 1876;
- "Filosofia e Crítica". "Estudos Alemães", 1879;
- "Dias e Noites", 1881;
- "Polêmicas", 1901;
- "Discursos", 1887;
- "Menores e Loucos", 1884.


‘‘Se é Deus quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.’’


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‘‘Quanta ilusão!... O céu mostra-se esquivo
E surdo ao brado do universo inteiro...
De dúvidas cruéis prisioneiro,
Tomba por terra o pensamento altivo.

Dizem que o Cristo, o filho do Deus vivo,
A quem chamam também Deus verdadeiro,
Veio o mundo remir do cativeiro,
E eu vejo o mundo ainda tão cativo!

Se os reis são sempre os reis, se o povo ignavo
Não deixou de provar o duro freio
Da tirania, e da miséria o travo,

Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio,
Se o homem chora e continua escravo,
De que foi que Jesus salvar-nos veio?...’’

Tobias Barreto

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