6 de jun. de 2011

Um argentino em Sergipe

Há 13 anos Fabian Maiado saiu de Buenos Aires para se aventurar e acabou construindo uma vida de sucesso em solo sergipano



Por Nara Barreto

Nascido em Buenos Aires, Fabian Maiado mudou-se para o Brasil, mas precisamente para Aracaju, em 1999, saindo da Argentina antes da Grande Crise Argentina.. Florianópolis foi a primeira cidade que esse argentino de pele e cabelos claros conheceu, acompanhado pela sua primeira esposa, de mesma nacionalidade em 1995.
Três anos depois, após o divórcio e enquanto passava férias na Bahia, conheceu sua primeira paixão sergipana, mulher com a qual ele viria a se casar e o traria para morar em Aracaju. Após dois anos, ele viria a se separar novamente. E depois a casar de novo, com outra sergipana, com quem é casado até hoje e tem um filho de 11 anos.
Mas foi em 2002 que ele decidiu, juntamente com Leonardo Victot Dias, montar a primeira escola de língua exclusivamente espanhola. E não é que deu certo? Ano passado a escola foi premiada como melhor escola de língua estrangeira de Sergipe, sendo o reconhecimento de um trabalho realizado por amor por esse argetino que escuta tango para matar a saudade da sua terra. Empresário e professor de língua espanhola exclusivo de uma escola de nível médio de Aracaju, ele se realizou pessoal e profissionalmente, fala um pouco da sua tragetória para o Contexto Repórter.

Quando você decidiu vim para o Brasil?
Quando eu me cansei da política econômica e dos problemas de Buenos Aires.

E porque Aracaju?
Porque eu conhecia uma mulher sergipana, com quem me casei mas já me divorciei. A conheci em Salvador de férias em 1998 em 1999 cheguei aqui. Quando eu comprei a passagem em Buenos Aires pela primeira vez ninguém conhecia Aracaju, não tinha vendido nunca uma passagem para cá. Mas como eu já conhecia uma pessoa eu disse “vamos lá”.

Como foi sua vida ao chegar aqui?
No início eu fiquei sem trabalhar por um tempo, por que tinha umas economias, na época o Peso Argentino era maior que o Real. Depois comecei como professor e agora estou aqui ainda.

E em relação ao idioma, teve algum problema?
No começo teve, mas agora não. Às vezes para me expressar ainda fica complicado, mas eu consigo fazer com que me entendam.

Teve algum grande obstáculo que teve que contornar após adotar Aracaju como sua casa?
Para mim facilitou, porque aqui tem mais oportunidades que em Buenos Aires, aqui em mais crédito que em Buenos Aires, dá para montar a escola e a única dificuldade que tenho ainda é a vivencia cultural.

Qual a maior dificuldade em morar em outro país?
O maior problema que sinto é relacionado a cultura. Vamos supor que você vai morar em Buenos Aires, você pode trabalhar, estudar em Buenos Aires mas você vai continuar sergipano. Você até pode se acostumar com a cultura de lá, como eu me acostumei com a daqui,mas eu jamais vou aceitar a sua cultura como a minha.

Qual seria a maior diferença cultural entre Brasil e Argentina?
A música. Eu costumo escutar roque, gosto muito. Eu supro essa deficiência pela internet, com ela a gente supre qualquer coisa.

E em relação a comida, há alguma dificuldade?
Como de tudo, menos chuchu, que não tem gosto de nada mesmo (risos).

O que você mais sente falta em relação a culinária argentina?
Churrasco e vinho de verdade. A carne a gente miúdo que aqui não come e o vinho, não a gente é acostumado a vinho seco, aqui o que mais tem é vinho tinto ma da para conseguir, um pouco mais caro mas eu consigo vinhos argentinos para comprar aqui.

E em relação ao lazer, como você se divertia em Buenos Aires e o que faz aqui?
A gente ficava em casa de amigos, brincando d baralho, escutando roque, fumando, bebendo um pouco. Isso vocês são mais soltos, não gosto de forró.

Após 12 no Brasil, especificamente em Aracaju, a algum artista que lhe encanta?
Sergipano não. Aqui a arte para o que eu gosto não caminha, eu gosto de roque. Porque por exemplo, vocês gostam muito de Legião Urbana. Mas eles falavam sobre a realidade do jovem brasileiro naquela época, que é diferente da realidade argentina. Mas um artista brasileiro que eu gosto é Caetano, toda vez que ele vem aqui eu vou assistir o show dele.

Brasil e Argentina são dois países apaixonados por futebol. Você torce para algum time brasileiro?
Não. Não porque futebol é como o roque, ou você sente ou não sente. E futebol para mim é como sempre falo, pode jogar Flamengo e Vasco num mesmo jogo e perder os dois que eu não me incomodo. Não consigo torcer por nenhum deles. Eu sou torcedor do Boca Juniors, e vou morrer torcedor do Boca.

E entre Maradona e Pelé, quem foi melhor jogador para você?
Não sei. Não sei porque não vi Pelé jogar.E Maradona é um personagem que não gosto muito, gosto como jogador, mas como pessoa parece triste, sinto vergonha em falar que Maradona é argentino.Sou um argentino pensante, não sou um argentino da massa.

Como surgiu a idéia de montar uma escola de língua somente espanhola?
Surgiu junto com Leonardo Victor Dias, porque ele e eu trabalhamos em outras escolas e a gente via que o espanhol estava como uma coisa de segundo plano, então a gente decidiu abrir uma escola e deu certo.

Hoje você voltaria para Buenos Aires?
Só de férias. Agora dia 25 de junho eu vou viajar, mas só fico três semanas curtindo lá e volto. Aqui eu tenho tudo, tenho uma família, uma profissão, sou professor, e tenho uma empresa também.

A questão econômica também influencia sua permanência aqui, já que quando saiu de lá o Peso Argentino era maior que o Real e agora a situação está invertida?
Não é a questão da moeda. É que na Argentina não tem trabalho. E para um cara como eu, de 47 anos, é difícil. Os meus primos que ficaram lá estão todos na mesma, ou estão ainda pior do que quando eu ainda morava lá.


Hoje muitos dos seus familiares moram ainda em Buenos Aires?
Sim, todos. Hoje estou casado, tenho um filho de 11 anos, que é a minha família brasileira. Mas minha família da Argentina está toda lá.

Você aconselharia algum dos seus familiares ou amigos a virem morar em Aracaju?
Sim, claro. Eu saí de Buenos Aires antes da Crise Argentina. Meus amigos que ficara lá não estão mais em Buenos Aires. Tenho amigo que foi morar na Espanha, na Itália, tenho um morando no México, mas eu recomendaria vir para cá, porque aqui pelo menos trabalhando, se ocupando, você cresce.

Se pudesse voltar no tempo, em 1998, faria tudo de novo?
Sim, faria. No crescimento pessoal, no crescimento econômico, com tudo que eu construí aqui em Aracaju, eu faria tudo de novo sem dúvida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário