30 de nov. de 2011

TRANSPORTES

Terminal do Campus reflete a má qualidade 
do transporte público na Grande Aracaju
Universitários e moradores do Rosa Elze e adjacências ainda sofrem com lotação, desconforto e insegurança, e cobram melhorias no Terminal, que não acompanhou a duplicação da Rodovia João Bebe-Água e a instituição da bilheteria digital

Por Daniel Damásio e Wesley Gonçalves
Localizado em um ponto estratégico entre Aracaju e São Cristóvão e considerado um dos mais movimentados da Região Metropolitana, o Terminal de Integração ao lado do Campus da Universidade Federal de Sergipe ainda causa insatisfação dos usuários quanto à qualidade dos serviços prestados. 
Nos relatos colhidos durante uma semana, em novembro passado, problemas diversos ainda se sobrepõem às melhorias trazidas com a instituição do sistema de catracas e passagens digitais e com a duplicação da Rodovia João Bebe-Água, executadas entre 2009 e 2010. Os usuários queixam-se das péssimas condições de higiene dos banheiros; da superlotação dos poucos ônibus ofertados para as linhas; da concorrência com o transporte alternativo e clandestino; do grande fluxo de filas e falta de segurança – com vítimas de furtos, roubos, assaltos e assédios.

O Terminal Campus, como é oficialmente chamado, abrange linhas de ônibus entre os conjuntos Rosa Elze e Eduardo Gomes, Tijuquinha, Jardim Universitário, Pai André e outros lugares de São Cristóvão e Zona Oeste de Aracaju. Estudantes e funcionários da UFS, vindos de toda a Grande Aracaju (e até do interior do Estado) são a maioria dos usuários. Mais atentos aos problemas, moradores do Rosa Elze, em São Cristóvão, ressaltam a importância do Terminal para cobrar mais investimentos, como diz o comerciário e universitário Wellington Santos de Jesus, 26 anos: “É essencial por aqui. São diversos bairros atendidos e está localizado em um ponto acessível. O que precisa é ampliar ainda mais as linhas, investir em sinalização, segurança e na melhor conservação do Terminal”.

Superlotação e insegurança
A baixa oferta de linhas e qualidade dos serviços de ônibus acaba por reforçar o apelo dos transportes alternativo e clandestino. O táxi-lotação, cuja passagem custa apenas 25 centavos mais que a do ônibus, é mais utilizado por quem quer ou precisa se deslocar até o Centro de Aracaju. “Existem lotações legalizadas, que são os carros pintados em vermelho ou azul; e também as clandestinas, que ainda são muito por aqui. Os táxis são mais acessíveis, inclusive muita gente está aderindo mais a eles, mas quando passam pelo Rosa Elze vêm sempre lotados”, afirma Wellington de Jesus. 

Aliás, a superlotação é uma constante entre os vários obstáculos enfrentados pelos usuários de ônibus, o que interfere tanto na pontualidade, já descumprida, quanto no stress e na falta de respeito de motoristas e passageiros. Há um ano morando no Farolândia, bairro da Zona Sul de Aracaju, Egirlane de Jesus Lima usava o ônibus com mais frequência quando morava com a família no Rosa Elze. A universitária de 22 anos afirma sentir na pele o descaso com a qualidade do transporte público, e desabafa: “Ônibus sempre lotados, muita falta de respeito por parte dos passageiros, as pessoas empurram demais. Quando a gente entra, nunca respeitam o lugar de idosos e gestantes”, lamenta.
Egirlane ainda é mais enfática quando fala de insegurança, e conta que seu pai já foi assaltado dentro da condução, quando voltava do Tijuquinha. Mas no Terminal, o assédio vem se somar aos furtos para causar pânico entre as mulheres: “Rola muito assédio. Tem homens que nos desrespeitam. Quando veem uma mulher, já chegam se roçando, e se ela tiver de vacilo, eles levam até o celular. Outro dia uma amiga minha tava falando ao celular e quase arrancaram a orelha dela pra roubar o celular (sic)”, reclama.

Efeitos da digitalização
Além da falta de segurança, o fluxo pesado e a longa espera pelos ônibus superlotados é outra reclamação constante, principalmente no inicio da manhã e no fim da tarde, considerados horários de pico. Muito desse transtorno se deve às recentes implantações da digitalização das passagens e catracas, segundo os usuários entrevistados.
Outro consenso entre os que utilizam ônibus é a falta de conservação e higiene do Terminal, principalmente dos banheiros, considerados imundos e sem condições de uso (como evidenciam as fotos ao lado). Eles sugerem que se aumente a oferta também de banheiros, o que só seria possível com uma ampla reforma. Para quando? O bufar de pasmo e galhofa de Egirlane traduz o descrédito de milhares de pessoas que dependem do transporte público para ir e vir: “Reforma? Humpf! Do terminal? Só houve uma pintura, porque reforma não houve não. Reforma nenhuma, tá do mesmo jeito! (sic)”.
Quando a equipe do Contexto Repórter quis saber dos entrevistados se eles já procuraram os órgãos responsáveis para fazer reclamações acerca das condições do Terminal Campus, a resposta massiva foi “Não”. “Mas as perguntas que vocês fizeram me levaram a refletir sobre os problemas do Terminal”, acrescentou o comerciário Wellington de Jesus.



A voz de quem sentiu na pele

No vídeo acima o professor de Letras-Português e atual estudante de Jornalismo Rodrigo Macedo, 29 anos, diz sobre as condições do Terminal e sua importância para as comunidades circunvizinhas – como o Conjunto Eduardo Gomes, onde ele morou por três anos.

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