Por Aline da Silva Souza e Fernando Moreira de Souza
Como não há saneamento, os próprios moradores improvisam uma espécie de canal para escoamento do esgoto doméstico, que quase sempre vai de encontro às ruas ou a terrenos baldios. “Quando chove, a alagação é inevitável, somos obrigados a passar pelo esgoto já misturado à água da chuva”, relata a cabeleireira Rosenilde Bezerra Araújo, de 34 anos, nascida na comunidade. Para abrandar a situação, os moradores tapam os buracos com cascalhos a fim de tornar as ruas planas e circuláveis.
Lixo residencial
A quantidade de entulho depositado nos espaços próximos às residências assusta quem por ali passa pela primeira vez. Mesmo a coleta sendo feita com regularidade, três dias por semana, alguns moradores ainda insistem em jogar e queimar o lixo nas ruas e nos terrenos baldios, onde são jogados até animais mortos, o que agrava o mau cheiro já existente, possibilitando a proliferação de ratos, baratas e mosquitos, como o transmissor da dengue. “Tivemos dengue eu e meu pai, sendo que a do meu pai foi hemorrágica”, conta a universitária Suelen Reis, de 19 anos, que reside na comunidade há 15 anos.Se para os adultos a situação é crítica, pior para as crianças, que são submetidas a brincar em meio à sujeira e ao odor exalado pelos resíduos líquidos das residências. Tudo isso por falta de espaço digno para o lazer, já reivindicado incansavelmente pelos moradores. Na Escola Lauro Rocha de Andrade, por exemplo, o professor Eduardo César Santos, 47 anos, diz que tem procurado orientar os alunos acerca da vulnerabilidade em que se encontram, mostrando como simples hábitos, como calçar os pés e lavar as mãos, reduzem o perigo de contágio por agentes infecciosos.
Entulho das construtoras
Contudo, boa parte do despejo indevido é feito por construtoras de médio a grande porte que realizam obras pela região. Os moradores dizem que, mesmo quando acionada, a prefeitura demora muito para fazer a coleta e não fiscaliza as construtoras, que têm por obrigação declarar de que modo está sendo feito o descarte dos detritos. Segundo o engenheiro ambiental Elísio Cristóvão, 25 anos, a LOC, empresa conveniada com o município, não é paga para coletar entulho, mas apenas lixo doméstico.
O engenheiro municipal reconhece as falhas na fiscalização das empresas e no recolhimento dos entulhos, mas alega falta de estrutura, a começar pela inexistência de uma secretaria específica para o meio ambiente, que se restringe a um diretório situado dentro da Secretaria de Infra-Estrutura, e insuficiência de pessoal capacitado. Sem funcionários, o serviço só é feito se solicitado, e a fiscalização, somente quando há denúncia. No entanto, Elísio Cristóvão diz que recebe poucas ligações de moradores solicitando o recolhimento do entulho, o que pode indicar possível falha na comunicação com a comunidade.
Outra questão gerada pela multiplicação de novas construções no Rosa Elze é o destino dos resíduos provenientes dos condomínios residenciais, já que o bairro não possui rede geral de esgoto. Elísio Cristóvão afirma que a prefeitura orienta os condomínios a fazerem o pré-tratamento do esgoto, antes de ser lançado no rio, que faz a autodepuração. Comentou também que existe um novo projeto para macro drenagem e pavimentação de algumas ruas do Conjunto Rosa Maria, que aguarda liberação de licença ambiental junto à Adema - Administração Estadual de Meio Ambiente, sem prazo determinado para início das obras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário