30 de nov. de 2011

EDUCAÇÃO

Os novos desafios do Colégio de Aplicação da UFS
Sorteio público é visto como uma medida inclusiva, mas também como um grande desafio para os professores 

Por Gustavo Caio e Iago Vinicius

Há dois anos, o Colégio de Aplicação (Codap) adotou o sistema de seleção por sorteio para se adequar às políticas de inclusão da UFS – Universidade Federal de Sergipe. Essa medida, que substituiu o antigo exame seletivo, permitiu o ingresso de alunos com diferentes históricos educacionais e mudou o perfil docente do Colégio. De acordo com o diretor Nemésio Augusto, quando o exame de seleção ainda estava em vigor, os alunos entravam mais preparados: apenas cerca de 10% dos estudantes das séries iniciais eram reprovados anualmente, o que representava um rendimento escolar bastante satisfatório. Segundo ele, com a mudança, o índice de reprovação subiu para em torno de 30%.

O professor de Desenho Geométrico Marcos Antônio Silva Pedroso explica que tal situação se dá pelo fato de que muitos alunos estão chegando com dificuldades de interpretação, de leitura e de manuseio dos instrumentos básicos da matemática, como réguas e esquadros. Ele destacou ainda que o comportamento em sala de aula está sensivelmente pior.

Graças ao nível de dificuldade do exame de seleção anterior e à grande concorrência (cerca de 1300 inscritos para 60 vagas), apenas alunos muito preparados, que tiveram boas oportunidades educacionais, conseguiam ingressar no Codap. Tal processo de seleção era considerado excludente, já que diminuía a chance de estudantes sem grande base de letramento terem acesso a uma boa instituição de ensino. De acordo com a professora de Português Marlucy Gama Bispo, a mudança para o sorteio público era necessária. “O Codap é uma escola-laboratório, um laboratório em educação, e, como todo laboratório, precisa realizar seus testes em uma amostra bastante diversificada”.

Desafio pedagógico
Os professores do Colégio de Aplicação confirmam que, com a mudança para o método de sorteio como seleção de vagas, criou-se um desafio na instituição: o de manter o alto desempenho escolar dos alunos.
De acordo com o professor Marcos Pedroso, a mudança para o método de seleção por sorteio provocou alterações nos métodos de ensino dos professores. Estes não têm a mesma facilidade para ensinar os conteúdos, já que parte dos alunos tem grandes dificuldades de escrita e interpretação. Por isso, os docentes passaram a ser também alfabetizadores no 6° ano, antiga 5ª série.

Sobre essa situação, a professora Marlucy Bispo afirma: “os dados sobre a mudança ainda são incipientes, mas o Codap já lança projetos para tentar melhorar o quadro de aprendizagem dos alunos, aumentando, por exemplo, a carga horária de Matemática e Língua Portuguesa para todos os alunos do 6° ano”. Ao ampliar a carga horária de sua disciplina e exigir maior acompanhamento dos pais, o professor Pedroso constatou uma melhora no desempenho dos alunos dessa série. Além disso, comprovou que os alunos do 7° ano, que também ingressaram por sorteio, aumentaram as médias em relação ao ano de ingresso.

O Contexto Repórter B entrevistou seis alunos - quatro do ensino fundamental e dois do ensino médio - para ilustrar as diferenças entre dificuldades e perspectivas dos alunos que ingressaram por exame de seleção e por sorteio. Os alunos do 6° e 7° anos entrevistados  disseram que sentiram muitas dificuldades ao entrar no Codap. Eles destacaram que, em suas antigas escolas, costumavam tirar boas notas e, ao trocarem de Colégio, foram para a recuperação em quase todas as matérias, com pontuações baixíssimas em Português, Matemática, Desenho Geométrico e Inglês (nesta última, quase todos os alunos do 6° ano foram para a recuperação). Tais dificuldades não foram enfrentadas pelos alunos que ingressaram por concurso.

Para a professora Marlucy Bispo, o desempenho de alguns alunos provenientes do ensino público que entraram por sorteio é preocupante. “Estes alunos sofrem um impacto maior, já que a escola pública brasileira é dotada de dificuldades estruturais, como falta de água, de professores, de cadeiras, de segurança...”.

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