Em entrevista ao Contexto Repórter, Araripe Coutinho conta como foram os dias de fama nacional, depois que fotos em que aparece seminu no Palácio-Museu Olímpio Campos, em Aracaju, foram parar na internet.
Por Isabelle Marques
Por Isabelle Marques
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“No fundo, todos queriam ter sido, naquele momento, eu”. |
O poeta Araripe Coutinho nasceu no Rio de Janeiro em 1968, mas vive na capital sergipana desde os 11 anos de idade. Formou-se em letras pela Universidade Federal de Sergipe e trabalha como jornalista, já passou pelos principais jornais da cidade, apresentou programas de TV, é colunista. Em 20 anos de carreira, o poeta coleciona mais de 10 obras publicadas, todas abordando a temática da morte, entre elas, Amor sem Rosto; Asas da Agonia; Sede no Escuro; Passarador; Sal das Tempestades; O Demônio que é o Amor; Como Alguém que Nunca Esteve Aqui; Do Abismo do Tempo; Nenhum Coração; O Sofrimento da Luz e o mais recente trabalho intitulado Obra Poética Reunida, lançado há três anos, livro de poesias que traz toda a produção literária do poeta em 653 páginas. Seu talento lhe rendeu uma cadeira na Academia Sergipana de Letras.
O carioca de alma sergipana, reconhecidamente cidadão aracajuano e sergipano diz que escolheu a poesia, sem saber que há muito já tinha sido abraçado por ela. Para ele, não se aprende poesia, já se nasce poeta. Dono de uma personalidade inconfundível e traços irreverentes, Araripe protagonizou, recentemente, a polêmica das fotos tiradas no Palácio- Museu Olímpio Campos, antiga sede do governo de Sergipe. As fotos, que ilustraram seu último trabalho, deram o que falar ao cair na internet, nelas o poeta aparece seminu. Desde então, Araripe tem sido procurado por vários meios de comunicação para falar sobre o ocorrido.
Nos últimos dias só deu Araripe na mídia. A polêmica das fotos do Palácio-Museu se fez presente nas redes sociais, nos veículos de comunicação local e nacional, a exemplo de Folha de São Paulo e Veja. Essa repercussão foi positiva ou negativa? Você esperava por isso nessa proporção?
Não esperava nada. Isto é um fenômeno que tem que ser estudado pelas universidades. É um estudo para a semiótica, - algo que foge à compreensão humana – escandaloso e inacreditável se você quer saber – algo que só acontece de 100 em 100 anos.
Araripe, você desabafou dizendo que ao olhar as fotos, não se vê absolutamente nada de vulgar ou imoral. Haveria, então, motivo para tamanho estardalhaço das pessoas? O que causou tanto burburinho?
Claro que não. A Veja foi enfática em crônica escrita por Mario Sabino, o editor, quando disse “literais que somos, vamos conceder que, a julgar pelos quilos a mais, Araripe Coutinho tem muito a nos dizer.” É isso: eu tinha que falar de algum modo e, por incrível que pareça, algo que ainda não foi dito.
Poeta, durante entrevistas você revelou que com esse fato foi possível constatar que o povo de uma maneira geral tem sede do novo. O que seria o novo nesse contexto, o nu, o local, ou a ousadia de entrar num órgão do governo?
Não há ousadia. Nem órgão do governo. Não houve intenção em macular o local, até porque estava abandonado na época e nem museu era. Mas foi possível, a reinvenção de Oscar Wilde, Jean Genet, Caio Fernando Abreu, Cazuza, Thomas Mann, Gustav Mahler.
Você ficou doente por causa da reação do público? Que reação foi essa?
Claro que sim. Vi-me exposto de toda maneira. Uns foram cruéis, grosseiros, estúpidos, ignorantes, outros amáveis. Mas eu fiquei no meio de tudo. Agora, estou bem mais calmo, - quase curado.
Você recebeu do povo de Sergipe, mais críticas ou apoio?
95% apoiou; 5% misturou tudo: religião, moral, libido, sexualidade, crime, sacro e profano. Foi uma mescla. Mas no fundo serviu para discutir questões da torpeza humana. Nada havia de negativo nas fotos, nem a bunda mostrei. Além do mais, era uma visita à Botero, pintor da Colômbia, e com bem disse o Mario Sabino em Veja, foi uma visita a Goya, quadro que está no museu do Prado, em Paris, a maja desnuda.
Você acha o sergipano preconceituoso, retrógrado, provinciano?
Não é só o sergipano. O mundo inteiro não concebe o novo, o inusitado, o fora do controle, o ousado, principalmente quando isso vai de encontro ao establishment. Muitos locaram o museu para justificar seus conceitos, preconceitos e linearidades de vida, - tinha que se apegar a algo físico, dentro do poder para dizer que era contra as fotos. Mas no fundo, todos queriam ter sido, naquele momento, eu.
Em sua coluna na Infonet você publicou: “acreditei mais uma vez em Marcelo Déda, Governador do Estado, que não emitiu opinião falso-moralista, mandando apenas apurar o que aconteceu à época”. Essa era a reação que você esperava de Déda? Você já se encontrou ou falou com o governador, depois do ocorrido? Qual foi a reação dele?
Déda é um homem que não se incomoda de imediato com track de veia. Ele viu que não tinha nada demais nas fotos, até porque ele fez cinema e sabe o que é arte, e constitucionalmente eu estou amparado. Mas como governador ele tinha que abrir sindicância, - é de praxe.
Muita gente está dizendo que você é quem deve ter postado as fotos para chamar a atenção. Você já explicou que as fotos são antigas, feitas para seu livro já publicado, mas você já sabe quem postou as fotos para a internet? Quem faria isso e por quê?
David Leite é um cara muito inteligente. Ele começou a montar histórias, noveletas e isso ganhou o mundo. Se eu quisesse teria feito isso à época do meu livro para vender, e o livro foi lançado há 3 anos. Deixe o imaginário popular falar. Isso é liberdade também.
É verdade que você recebeu convite para ser entrevistado no programa de Jô Soares?
Não. Isso é imaginário popular.
Qual avaliação que o poeta faz de todo esse ocorrido, qual o balanço, o que é que fica de tudo isso?
Que como diz Fernando Pessoa “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. A minha é imensa.
talvez não só a alma dele seja imensa: o ego também, mas, deixa quieto!
ResponderExcluirEu desgostei das fotos, mas por outros fatores: como arte que é arte, de fato, não impositiva, tem quem goste, tem quem não goste. Eu desgostei!
Não sei se queria ser ele naquele momento, mas tenho minhas fotos nus por só também (kkkkkkkkkkkkk)
mas comcordo com ele sobre a recusa do mundo em, ainda, não conceber o novo!
Parabéns pela entrevista direta: tu és linda e muitíssimo competente!
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