Por Bárbara Costa
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Alexandre Hardman, produtor do Coverama. |
Alexandre Araújo Hardman Cortes, 29 anos, era um adolescente tímido, baixinho, de poucos amigos, do tipo que ficava sentado sozinho no canto da sala. Ninguém imaginava que este menino que amava rock, nascido e criado em Aracaju, um lugar dominado pelo forró, cresceria e seria um grande produtor musical, e que seria inclusive o idealizador e produtor do Coverama, um grande evento entre os jovens aracajuanos. Seu gosto musical, desde jovem muito amplo, ia desde Bryan Adams a Iron Maiden. O problema é que naquela época não havia shows do gênero, apenas pagode, axé e o famoso forró. Para se divertir, então, Hardman juntava os amigos na casa dele ou de algum amigo e cantavam e tocavam eles mesmos. Alexandre toca violão, bateria, flauta, baixo, entre outros, ele até chegou a fazer parte de uma banda como vocalista, mas como ele é, em suas próprias palavras, “muito ruim”, desistiu e decidiu produzir, coisa que ele faz e muito bem.
Por oito anos, Hardman e alguns parceiros produziram o Punka, um evento que trazia bandas de Sergipe, outros estados e algumas conhecidas nacionalmente, como Los Hermanos, para Aracaju. Era um festival grande, maior que o Coverama, mas que infelizmente não deu certo. Em 2004, depois de oito anos, o Punka acabou. Para Hardman isso foi uma derrota. Tanto que ele começou a produzir o Derrota, cujo nome foi escolhido como uma demonstração do que ele sentiu com o fim do Punka. O evento começou como uma brincadeira e quando dois anos depois, com a intenção de voltar a produzir eventos, ele teve a ideia de um evento que reunisse bandas sergipanas de cover, ele passou a levar o Derrota a sério, além de investir no Coverama.
Levar sua ideia adiante, porém, não foi fácil. Quando Hardman mostrou sua ideia aos parceiros que produziam o Punka com ele, eles não gostaram, acharam que não iria dar certo, que era uma ideia ruim. Então ele teve que fazer tudo sozinho. “Só contei com o apoio das bandas, que acreditaram em mim e no Coverama, confiaram nessa ideia”, diz Alexandre. Assim, com apenas 23 bandas inscritas e 16 que passaram pela seleção, foi que aconteceu o primeiro Coverama. Durou dois meses, com duas eliminatórias e a final. As expectativas do produtor para o primeiro dia era de 400 pessoas. Para sua surpresa, mil pessoas apareceram. “Foi surpreendente. Isso é mais ou menos a metade do que vem hoje em dia”, conta ele.
Hoje os números aumentaram. Em 2010 houve 280 bandas pré-inscritas e 120 inscritas, mas apenas 66 passaram. A seleção, feita por participantes convidados dos Coveramas passados, leva em conta a qualidade, performance a técnica e, claro, a banda que eles pretendem fazer cover. “Tem banda que quer fazer cover de, por exemplo, uma banda de death metal da Jamaica. Só eles conhecem essa banda. Se eu aceitasse isso o Coverama já tinha falido”, diz Alexandre. Por incrível que pareça, nesses seis anos de existência do Coverama Hardman nunca votou nas bandas que queria ver na final.
No começo o Coverama era um evento para uma galera mais alternativa que gostava de rock, mas com o tempo bandas mais pops começaram a participar também. Hoje o público é bem variado, com bandas desde Avenged Sevenhold a The Rolling Stones e até Katy Perry. “Essa é a ordem natural das coisas, se essas bandas fossem impedidas de participar o evento provavelmente já teria morrido”, comenta Alexandre. Mas apesar disso ainda há muitas pessoas que nunca participaram que acham que o lugar é para adoradores de satã ou que é uma cracolândia. Puro preconceito. Principalmente por serem bandas de rock. Mas, ao contrário do que essas pessoas pensam, Alexandre Hardman tem parceria com as polícias civil e militar e o Iate Clube, local onde acontece o evento, tem seguranças fazendo rondas e impedindo o uso de drogas e as brigas, além de pedirem identidade na hora da compra do ingresso e de bebidas alcoólicas.
Um evento assim só poderia crescer. Em 2010 o Coverama passou a acontecer também no Ceará, administrado por um parceiro de Alexandre, que trabalhou com ele por quatro anos. Algumas datas até coincidem e o esquema é o mesmo: seleção, eliminatórias e a final. Além do Ceará, também há na República Dominicana. Porém lá não há competição, é apenas um evento onde bandas covers tocam. Hardman pretende expandir ainda mais o seu evento, tanto para outros estados brasileiros quanto para outros países. Ele até está a procura de alguém para ser seu sócio no Coverama em Alagoas, mas ele precisa de alguém de confiança. “O Coverama é como um filho, que não dá pra entregar nas mãos de qualquer um”, fala. Outros projetos futuros são voltar a produzir um festival com bandas autorais, como era o Punka, e voltar a produzir o Sonorama, que é uma competição, como o coverama, mas com bandas autorias e que teve apenas uma edição que não deu certo.
Além de promover as bandas sergipanas, o evento ainda dá a oportunidade ao público de acreditar que está no show de uma banda que ele teria que viajar pra outro estado para ver ou voltar no tempo, no caso de bandas já desfeitas ou cantores mortos. É o que ele mais gosta no Coverama, as caras das pessoas ao assistirem aos shows, como eles cantam juntos, gritam, pulam e alguns até choram. “É incrível como eles se sentem no show mesmo. Eles acreditam, as bandas acreditam, até eu passo a acreditar”, conta.
Para Alexandre, ter um evento de rock tão grande em um estado considerado o “país do forró” é uma conquista, um grande passo. “Somos guerreiros, brasileiros, não desistimos nunca”, diz.
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