5 de jun. de 2011

Meio sergipana, meio americana


Por Ana Carolina Souza

Ludmila Pacheco, uma jovem professora sergipana de inglês de 25 anos, passou por uma experiência que não é muito divulgada e poucos sabem o que é. Residiu durante um ano com uma família americana e trabalhou como Au Pair. Esse termo é usado para a pessoa que faz um intercâmbio cultural em algum país de língua estrangeira, com o objetivo de cuidar das crianças de uma família e receber um subsídio mensal pelo ato. É uma ótima oportunidade para conhecer um novo país, aprender uma nova língua e garantir um trabalho durante o processo. O público maior é de garotas e a prática é mais procurada nos Estados Unidos. A professora procurou uma agência de intercâmbios daqui de Aracaju e partiu em janeiro de 2010. De volta a sua terra natal, ela conta como foi esse ano especial na entrevista feita em seu atual local de trabalho, o Instituto Canadá localizado no Shopping Jardins.

Ludmila, o que é ser uma Au Pair?
O trabalho, basicamente, você vai morar com uma família americana para cuidar das crianças da casa. Têm algumas regrinhas e é tudo regulamentado pelo governo americano. Várias agências americanas fazem esse convênio com empresas brasileiras. A ideia do programa é você ser uma filha mais velha para a família, mas tem que perceber que está lá para trabalhar.

Como surgiu o interesse em ser uma?
Eu queria fazer intercâmbio. Olhei todas as opções e levei em consideração várias coisas, inclusive preço e tempo. E o custo benefício de Au Pair nenhum outro intercâmbio oferece, porque é muito barato e está com tudo pago. Inclui habitação, alimentação e transporte que é bancado pela família. Gastos com você mesmo, em relação a sustento, não tem muito.

Como é feito o sistema de pagamento?
A Au Pair recebe 195, 75 dólares por semana e o máximo de horas de trabalho são 45 semanais. Esse preço é estabelecido para todas as Au Pairs ao redor dos EUA.

O que você fazia antes de ser Au Pair?
Já era professora de inglês e sou formada em direito na UFS. 

Quais são os requisitos necessários para se tornar uma Au Pair?
Ter acima de 18 anos, possuir ensino médio completo, nível intermediário de inglês, não pode ser casada e não pode ter filhos. Também tem que saber dirigir e possuir 200 horas de experiência com crianças.

Teve alguém que não apoiou a sua vontade de ser?
Não abertamente, talvez meu pai. Mas até porque muita gente pensa: “Ah, esse povo que viaja pra ser babá!”, puro preconceito. Nos EUA, esses trabalhos mais simples, em que não exigem muita preparação, não possuem tanto preconceito como aqui. 

Onde você ficou e como a família te recebeu?
Eu estava no subúrbio de Nova York, que lá nos EUA é a parte mais rica da cidade. A família me recebeu muito bem. Eles participam do programa há 15 anos e eu fui a 13ª Au Pair deles. Eles já possuem regras estabelecidas e sabem lidar com Au Pairs.

Como você interagia com as crianças? Quais eram as idades delas?
Tinham 10, 16 e 18. Mas o menino de 18 já não morava mais em casa porque se mudou para o campus da Universidade em que estudava. Então, basicamente eram duas meninas e não havia muito trabalho de cuidar mesmo, já que elas já estavam grandes. Eu levava e buscava na escola, arrumava o quarto, botava roupas pra lavar, cobrava dever de casa, brincava e outras coisas do lar relativas às meninas.

Você se comunicava com outras Au Pairs?
Isso foi um dos problemas de ser Au Pair, porque fiquei muito limitada a andar só com Au Pairs. Ainda mais os americanos não são muito abertos com imigrantes quanto parecem ser. O nosso horário vago era muito parecido e íamos às reuniões mensais da agência, por isso não tinha como não andar umas com as outras. O que é uma parte positiva também, porque são meninas de diversos países.

Você fazia outras atividades além de cuidar das crianças?
Eu não quis fazer, mas tem uma pessoa que fica responsável pelas Au Pairs da área e sempre me ligava com propostas como trabalhar em alguma festa. Inclusive a menina que eu cuidava de 16 anos me perguntava se eu queria ir aos bicos dela de babá quando ela não podia. Mas como eu trabalhava a semana toda, aproveitava o tempo livre para descansar.

Sofreu algum tipo de preconceito de alguém por ser brasileira?
Não, preconceito não. Só que os americanos não são muito abertos para imigrantes, como eu disse antes. E isso serve para todos os países. 

Existe muita gente no Brasil que quer ser Au Pair?
Aqui em Aracaju não é bem divulgado. Todas as meninas que eu conheci quando viajei eram de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. Apenas uma além de mim era do nordeste. E lá nos EUA, a maioria das Au Pairs vinha da Alemanha.

Você teve algum problema com adaptação ou em algum momento se arrependeu?
Em algum momento todo mundo se arrepende, mas isso acontece com tudo na vida. Às vezes batia uma tristeza e eu pensava: “AH! O que eu estou fazendo aqui.” É complicado no começo e também eu fui em época de inverno. Quando começa a esquentar fica bem melhor. Outra coisa foi a comida americana que é muito gordurosa.

Quantos lugares você conheceu?
Eu conheço mais estados americanos do que brasileiros agora. Fui pra Califórnia, Las Vegas, Chicago, Filadélfia, Boston, entre outros. Deu para passear bastante por lá.

Você ficou com muitas saudades da sua vida no Brasil?
Eu sempre tive na cabeça que era um ano e o foco era aproveitar esse ano. Hoje em dia é bem mais fácil a comunicação pela internet, então o baque não é tão grande.

Qual a melhor lembrança que você tem? Ainda faz contato com a família?
As duas meninas que eu cuidava, eu tive uma relação muito boa com elas; as viagens que eu fiz; shows que eu nunca iria aqui e também comecei a namorar lá. Ainda tenho contato com a família, sempre trocamos e-mails.

Pretende voltar como Au Pair algum dia?
Não como Au Pair. Talvez para estudar, fazer uma pós-graduação ou mestrado, apesar da educação nos EUA ser muito cara. 

Porque procuram pessoas de outros países para serem Au Pairs?
Eu também não entendia muito, mas é mais barato para eles terem uma Au Pair do que uma babá americana, porque é bem mais cara a hora da babá do que da Au Pair. Mesmo sustentando quase tudo da Au Pair, no fim das contas compensa. Além de ser mais barato, muitas famílias gostam da troca de cultura e experiência.

Qual seu conselho para quem tem interesse em ser Au Pair?
Tem que ter paciência porque quando as meninas entram no programa, já querem ir logo. É um processo que leva um tempo, então daqui que preencha toda a papelada, que tire o passaporte e consiga o visto também, não é imediato. Aconselho a ter paciência e persistência.

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