Por Luara Pereira e Rose Bonifácio
Uma afirmação recente do atual ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), surpreendeu os defensores da igualdade de gênero: “Eu acredito que é uma questão de hábito. Os homens trabalham mais, são os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para a saúde preventiva. Isso precisa ser modificado. Nós queremos capturá-los para fazer os exames e cuidar da saúde. A meta destes guias é fazer que nossos servidores orientem os homens, que normalmente estão fora [de casa], trabalhando”.
Entretanto,
logo após esse
pronunciamento, em que colocou as mulheres numa posição inferior ao
se referir ao homem como o grande provedor da casa, os dados da
Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de
2014 vieram à tona, mostrando que as mulheres têm uma jornada
semanal de quase cinco horas a mais que os homens, incluindo a
jornada de trabalho doméstico. Ou seja, uma jornada dupla, na qual
repartem
seu tempo entre a casa e a família. Além de trabalharem mais, as mulheres em
geral, e especificamente no Brasil, segundo os dados da pesquisa do
Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID,
recebem
salários 30% menores que os homens.
O pronunciamento do ministro gerou grande indignação por parte das mulheres que, ao longo de vários anos, vêm lutando por direitos iguais que se concretizam muito lentamente. Situação que vai de encontro ao artigo quinto da Constituição Federal (CF), o qual diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade".
Entretanto, passados 28 anos da promulgação da CF, também conhecida como constituição cidadã, e mesmo com o crescimento do movimento feminista ao longo de décadas, as desigualdades e a opressão de gênero em relação às mulheres continuam alarmantes. Mas há algumas medidas compensatórias, como a criação das leis de igualdade formal como, por exemplo, a Lei Maria da Penha e a Lei Orgânica da Previdência Social, que cobram uma postura assistencialista por parte do Estado para com "minorias", ou seja, mulheres, idosos, crianças.
É por ainda se precisar de leis protecionistas que o feminismo, desde seu auge nos anos 1960, pauta a cultura em todos os aspectos. A sociedade patriarcal e machista cultiva a misoginia, a desvalorização, a mercantilização, além da hipersexualização, entre outras opressões sobre as mulheres. Como dizia a filósofa feminista Simone de Beauvoir, “não se nasce mulher, torna-se”, ou seja, desde o nascimento, o bebê do sexo feminino é moldado para se encaixar num papel submisso de mulher. Segundo as teses de Beauvoir presentes em seu livro intitulado como O segundo sexo, a imposição da feminilidade, da rivalidade feminina, da romantização do matrimônio e da gestação como complemento do ser mulher são estereótipos criados para limitar a existência da fêmea. Dessa forma, nota-se que de nada adianta cortar os galhos do problema e deixar suas raízes culturais.
Entretanto, passados 28 anos da promulgação da CF, também conhecida como constituição cidadã, e mesmo com o crescimento do movimento feminista ao longo de décadas, as desigualdades e a opressão de gênero em relação às mulheres continuam alarmantes. Mas há algumas medidas compensatórias, como a criação das leis de igualdade formal como, por exemplo, a Lei Maria da Penha e a Lei Orgânica da Previdência Social, que cobram uma postura assistencialista por parte do Estado para com "minorias", ou seja, mulheres, idosos, crianças.
É por ainda se precisar de leis protecionistas que o feminismo, desde seu auge nos anos 1960, pauta a cultura em todos os aspectos. A sociedade patriarcal e machista cultiva a misoginia, a desvalorização, a mercantilização, além da hipersexualização, entre outras opressões sobre as mulheres. Como dizia a filósofa feminista Simone de Beauvoir, “não se nasce mulher, torna-se”, ou seja, desde o nascimento, o bebê do sexo feminino é moldado para se encaixar num papel submisso de mulher. Segundo as teses de Beauvoir presentes em seu livro intitulado como O segundo sexo, a imposição da feminilidade, da rivalidade feminina, da romantização do matrimônio e da gestação como complemento do ser mulher são estereótipos criados para limitar a existência da fêmea. Dessa forma, nota-se que de nada adianta cortar os galhos do problema e deixar suas raízes culturais.
Utopia
ou busca
Para fazer jus ao processo da utopia de equidade, existem os
movimentos e as frentes de mulheres que lutam pela igualdade de
gênero. A militante e feminista do Coletivo Cores e
Valores Daiene Sacramento nos diz que são muitas e recorrentes as
mudanças em sua vida após conhecer o feminismo, especificamente o
feminismo negro.
“Descobri o feminismo aos dez anos de idade, não pela ideologia
em si, mas por práticas pessoais que já me proporcionavam uma
oposição a imposição patriarcal da sociedade. No início me senti
reprimida por não seguir o estereótipo de menina, pois gostava de
brincar de carrinho e com coisas que a sociedade nos limita. Na época
já fazia trabalhos sociais na igreja, o que me proporcionou conhecer
muitas pessoas como, por exemplo, um grupo de Rap que me chamou para
algumas reuniões. A partir dai comecei a participar da luta social
de fato. Conheci o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e
consequentemente a ideologia teórica do feminismo. Li Beauvoir, Rosa
Luxembrugo, Wendy Goldman, o que esclareceu cada vez mais a
importância do feminismo na vida de todas as mulheres. Com o
movimento feminista negro ajudei a construir o Coletivo Cores e
Valores, o qual tem o objetivo de sensibilizar as mulheres negras a
autoafirmação de suas raízes, despertando assim a força que todas
elas têm consigo, e que, entretanto, pela socialização feminina
passiva, não percebem.”
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Foto da Página Coletivo Cores e Valores |
A igualdade de gênero, como toda
utopia, fundamenta um processo intencional de desconstrução
dos estereótipos de gênero social que limitam e subjugam o sexo
feminino. "É necessário ter consciência de que toda mudança requer
um longo prazo, principalmente mudanças culturais, ou seja, a luta
feminista precisa ser construída e pautada diariamente em todos os
âmbitos sociais. Importante ressaltar também que o movimento
feminista, sendo uma luta pela desconstrução da sociedade
patriarcal é pautado por mulheres, dando visibilidade às pautas de
seus direitos, e nunca por homens", diz a feminista.
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