29 de set. de 2016

Drogas anulam a visão de futuro

Histórias de dor e superação

                                                     Por: Anneli Rodrigues e Bruna Barreto

"Sinto- me um vitorioso, quando afirmo ter saído do mundo das drogas" afirma Everton dos Santos Duarte, 35 anos, nascido em João Pessoa, cidade onde se encontra toda sua família. Criado nos preceitos do cristianismo, aos 17 anos, resolve abandonar a família com o objetivo de “conhecer o mundo”. Segundo Everton não foi nada fácil ser um dependente químico. Ele conta que usou diversos tipos de drogas durante 8 anos até que um dos seus parceiros pediu-lhe que fosse até uma boca de fumo comprar. Ao chegar o meio do caminho começou a se perguntar "por que eu e não ele?". Era uma emboscada, pois seu amigo devia muito aos traficantes. Apavorado e com medo de morrer, não encontrou outra saída a não ser ajoelhar-se e rezar.
 Everton afirma, ainda, que no dia seguinte ao abrir a porta, deparou-se com a presença de seu irmão, também ex-usuário de drogas e já recuperado, que se tornou pastor. Ele sentiu naquele momento algo muito forte e resolveu mudar de vida. Chegou a Sergipe através do contato com um amigo que conheceu na Instituição Manassés (casa de apoio para usuários de drogas). Hoje casado, trabalha como vendedor de balas dentro dos transportes públicos de Aracaju e passou a frequentar a igreja quadrangular do bairro Rosa Elze duas vezes por semana.          



Everton dos Santos Duarte 
executando seu trabalho no
ponto de ônibus na capital Aracaju.
         
Mãe encontra superação nos amigos e religião para ajudar filho.










         Maria (pseudônimo), 34 anos, residente da Zona Sul de Aracaju, se emociona ao relembrar sua história de dor e superação. A decoradora de festas conta que foi pega de surpresa quando descobriu que um dos seus filhos estava usando drogas. Tudo veio à tona quando viu no celular do filho de 17 anos mensagens dizendo que ele tinha interesse em comprar pé de maconha para plantar no seu próprio quintal. Apavorada com a notícia entrou em pânico e começou a gritar. A dor foi mais forte ainda quando ele revelou que a iniciativa foi da sua filha mais velha, que também fazia uso sem que ela nunca tivesse desconfiado.


          Angustiada, Maria passou a investigar seu filho e percebeu que para manter o vício ele já estava se juntando com amigos para roubar. Diante da gravidade da situação, começou a procurar ajuda de amigos e religião, para encontrar forças para ajudar seus filhos. Até que um dia foram presos alguns de seus amigos. Ela aproveitou a oportunidade para dizer ao filho que ele poderia ser um daqueles. Disse também que se  um dia alguém fosse até a sua casa a procura para matá-lo que ela o entregaria porque não seria justo ela e os demais irmãos pagarem pelos seus erros. 

           De acordo com Maria, só então o filho se viu sem saída e pediu sua ajuda. Dai em diante, ela passou a dialogar mais com o filho, a acompanhar frequentemente a escola e fazer com que ele ajudasse no trabalho com decoração de festas como forma de preencher as horas vagas. Hoje conta com êxito sua história, embora ainda tenha medo de que ele tenha alguma recaída.

Entrada da instituição.
       Força e determinação.

        Foi em busca de uma saída  fora das drogas que o pastor Manoel Vieira Neto, de 54 anos e ex usuário de drogas (foto) resolveu fundar o Centro de Recuperação Evangélico Maanaim em 25 de setembro de 1999. Ele relembra que para ele não foi nada fácil , pois era filho de empresário e no entanto resolveu abandonar tudo e passou a viver 12 anos como mendigo nas ruas , por conta das drogas , até o dia em que encontrou  o Centro de Recuperação CRESOL. Hoje recuperado e com sua própria  família , resolveu devolver para sociedade o trabalho de recuperação, buscando dar a outros uma nova chance de viver a vida fora do mundo das drogas .

Manuel Vieira Neto
      Atualmente existem 12 unidades do Centro espalhadas pelos estados da Bahia , Rio de Janeiro e Sergipe, onde há 2 anos e meio no povoado Robalo, em Aracaju, oferecendo tratamentos para homens e para mulheres. De acordo com Vieira Neto , a instituição sem fins lucrativos sobrevive graças ao trabalho de um assistente social , um psicólogo e de outros 40 voluntários, além dos oitenta internos que ao mesmo tempo em que se recuperam, trabalham no resgate de outras pessoas que estão no submundo das drogas, através de vendas de livros, chaveiros, e outros produtos, que compram ou confeccionam.  
       O Pastor conta ainda que o tratamento desses dependentes químicos acontece por livre arbitro , pois sem isso a recuperação não se consuma,  e que poucos fazem uso de medicamentos. Segundo ele a participação da família é de suma importância nesse processo. Porém é preciso que o usuário demostre  mudanças de  atitudes para que possa obter sua credibilidade de volta. Ele frisou ainda que há atividades desenvolvidas tanto para os internos  quanto para as famílias, como o Pagode em Cristo .
        Um dos interno da instituição, ex usuário de drogas Paulo (pseudônimo) , 28 anos  conta que aos 14 anos conheceu a maconha, e que não parou por aí , tornando-se traficante .Ele exercia essa atividade pela manhã , á tarde ia para a escola e  á noite voltava a praticar  assaltos e furtos. Para ele esse processo de entrar no mundo das drogas aplica-se a família desestruturada, pois durante sua infância via seus pais vivendo em conflitos conjugais. “ Ver meu pai chegando em casa alcoolizado e espancando minha mãe , doía demais na alma “ relembra. 
        Diante de tantos desencontros e atritos dentro de casa ele resolveu viver na rua, até que um dia foi espancado por cerca de 15 homens e foi  parar no hospital. Lá ouviu uma voz falar “volte para casa. Sentiu então que esse não era o caminho. Voltando para casa, sua irmã o levou para igreja assembléia. Onde conheceu uma moça com quem  formou uma família. Porém "o casamento não deu certo”, lamenta. Depois de tentar outros caminhos,teve a oportunidade de conhecer o Centro de Recuperação Maanaim, onde vive a  6 meses.

       Serviço de saúde pública

      Em Aracaju existe além de diversas instituições voluntária que desenvolve o trabalho de ajuda a dependentes químicos. Existe o CAPS -Centro de Atendimento Psicossocial, um serviço de saúde pública que possui 25 unidades no estado, das quais cinco na capital. A AD Primavera situado na rua Firmino Fontes bairro Atalaia, funciona durante 24 horas, e de pendendo da gravidade do caso , o paciente poderá ser acompanhado em uma ala de observação ou na unidade de internação curta. No entanto, por excesso de exigências burocráticas da instituição não foi possível ter acesso as informações do serviço com os profissionais , usuário e familiares para esta reportagem.




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